CAPÍTULO 06

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Ruan Callegari

"Já passei a visão pra ela
Que se ela me deixar, vai ser a pior besteira da vida dela
Porque não vai conseguir achar
Um cara igual eu não tem, que é fiel de fechar

Então dá um valor, meu bem
Que eu não vou te largar
Porque ela sabe que o amor do menor vale ouro
E também sabe que eu gosto dela e não é pouco

Prioridade, já falei que é só eu e ela
Demorou, já é, fechou
É poucas ideia
Porque ela sabe, que o amor do menor vale ouro( Vale ouro- mc lipi)

A parte de trás da minha casa, se tornou uma cesta com direito a chuva de arroz para os mais chegados.

Mari não parecia muito feliz, Mas agora era a nossa realidade e estávamos casados de verdade.

Eu não iria tirá-la de casa de qualquer jeito.

Preciso confessar que no momento eu tenho a vida quase perfeita...

A mulher que eu amo em casa, não falta comida , a casa bem estruturada, eu só mudaria o emprego que tenho, Mas como não é algo a se mudar, estou terminando minha adaptação.

-----Chefe a carga chegou.

----Que carga Ruan?

-----Aqui não sou Ruan, ninguém me conhece pelo nome. Sou apenas Panelinha.

-----Panelinha? Mas por que?

-----Mais a noite conversamos. Aproveite esse tempo para conhecer a casa e se ajeitar tá? Eu amo você lembra disso sempre.

Mari não responde e eu desço pra boca.

-----Fala ae truta?

-----Nao sou peixe pra ser truta não morô? Cadê a mercadoria?

O sorriso morre na mesma hora e ele abre a carroceria do caminhão, retira umas carnes da frente e eis que surge os malotes.

Passo o comando pro gerente encarregado que leva pra casinha onde já tem o pessoal preparando e embalando a cocaína.

Quando tudo está organizado como tem de ser, já é as oito da noite.

-----Oi minha princesa, desculpa a demora.

----Eu fiz comida.

-----Serio? Que Maravilha.

Eu sei ela está ansiosa para a conversa, mas eu estou com uma fome que comeria um boi.

Com a paciência que me resta da tarde cansativo na boca, eu a chamo para o sofá e ela senta um pouco afastada.

-----Eu não mordo Marianny.

Ela dá um pulo no sofá se assustando com a minha voz.

----Eu sei.

Responde com a voz trêmula.

-----Vamos aos fatos. Por que mentiu pra mim?

Mary abre e fecha a boca várias vezes até que consegue falar.

----- Eu te via sempre tão arrumado junto a classe alta da cidade que fiquei com vergonha de você se afastar de mim caso eu te contasse que a única pessoa que trabalhava na casa era um faxineiro que mal ganhava para nos dar de comer.

-----Isso não é vergonha Mary.

-----Eu sei, mas já era difícil arrumar amigas Por estar sempre com o mesmo uniforme.

-----Eu odiei seu pai por anos, pelo fato dele ser um advogado de merda que não cuidava direito dos filhos.

Mary começa a chorar.

-----Eu sinto falta dele.

-----Agora eu só lamento. É melhor você ir dormir que tem aula cedo.

Quando me levanto, Mary vem atrás de mim.

-----Me desculpa Ruan. Eu sei que te decepcionei, mas você também nunca me falou da sua realidade.

-----É porque você já tinha merda demais na cabeça, para se preocupar com as minhas. Aqui você terá tudo, só não pode sair de casa sozinha.

----Sou sua prisioneira?

-----Nao. É a minha esposa. Mas acabei herdando inimigos ao me assumir dono do morro e se descobrem a minha fraqueza, estamos mortos .

-----Mas por quê?

Vou até Mary e dou um abraço apertado nela. Eu sinto falta da nossa conexão.

Era tão fácil nos comunicar antes.

Ser adulto é uma bosta mesmo.

-----Tu e a minha fraqueza Mary. Eu juro que tentei mudar por ti, mas não dava para ficar repetindo as mesmas histórias sempre.

Pego Mary no colo que chorava baixinho e a coloco na cama para dormir comigo.

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------Fala mané, cadê a minha mercadoria?

Eu havia encomendado duzentas cestas básicas para as famílias carentes da favela que se cadastraram no meu bolsa família.

Eu sei quanto dói, ver os filhos morre do de fome .

-----Esta atrasado Panelinha. É uma grande quantidade que você pediu..

-----Se tu é uma porra de um irresponsável eu não tenho culpa caralho. Eu tenho certeza que até a venda mais pobre aqui do bairro conseguiria fazer melhor que tu. Se hoje as três da tarde não estiver estacionado seu caminhão aqui, pode esquecer qualquer parada comigo, tá ligado?

-----Fecho  mano. Estarei aí.

------Vou mandar avisar as famílias então cuzao. Se vacilar prepara a cova.

Desligo o telefone e chamo o funil que rondava ali por perto.

-----Avisa a rapaziada que hoje é dia de festa e as famílias carentes terão comida na mesa Funil.

Digo com alegria e ele sai pra preparar tudo que pedi.

Ao longe um pouco abaixo da entrada da favela eu vejo a irmã da Mary.

Melissa

Melinda

Alguma porra assim.

Faço um sinal pra um vapor novo que não lembro o nome.

-----Ta vendo aquela guria ali?

-----Sim chefe.

-----Compra tudo que ela ela está vendendo e de gorjeta. Ela e sua responsa agora tá ligado? Se pisar na bola tu não vai nem precisar de cova.

-----Entendi chefe.

O guri sai correndo e compra tudo. Ao longe eu vejo seu sorriso de satisfação.

------E agora chefe?

-----Enfiar no cu que não vai ne pamonha. Da pras crianças que hoje tô de mau humor.

Continuo acompanhando as atitudes da garota que entra em um mercadinho e sai pulando feliz com as míseras sacolas.

Dou um murro na parede com ódio.

Eu fiz com a família da Mari o que meu pai fez com a minha.

Eu tentei fugir e acabei monstro como ele.

(Completo)Desafio-A História De Ruan CallegariDonde viven las historias. Descúbrelo ahora