Capítulo IV

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-Oh, Prudence! Sentirei tanto a sua falta!! – Exclamava a senhora Gertrudes enquanto se despedia da noiva e parecendo exageradamente comovida – A única coisa que me consola é saber que o senhor Theodor cuidará muito bem de você, minha querida.

-Eu também sentirei falta da senhora, madrinha. – Disse Prudence, apesar de usar um tom mais contido – E obrigada por ter me acolhido durante esse tempo. Serei eternamente grata por isso.

-Oras, minha casa está de portas abertas para você sempre que precisar!

Prudence duvidava disso, mas manteve o pensamento para si. Quem ouvisse a senhora Gertrudes falando jamais imaginaria que há uma hora aquela mesma mulher estava desesperada para se ver livre da afilhada a qualquer custo! Mas agora que a moça já não era mais sua responsabilidade e estava devidamente casada, a senhora Gertrudes podia se esbaldar em exageros e bajulações.

Prudence tentava se desvencilhar dos lamurios da mais velha quando viu seu marido se aproximando, parecendo acanhado por ter que atrapalhar o momento entre madrinha e afilhada. Theodor McGregor já tinha tirado a casaca de seu terno e as mangas da camisa que ele usava estavam arregaçadas, deixando os fortes braços a mostra. E por um segundo, a mente de Prudence se recordou do momento exato em que aqueles mesmos braços lhe ampararam na igreja, carregando-a como se ela não pesasse mais do que um mero travesseiro de penas. Seu marido era mesmo um homem forte!

-Acho que já coloquei todas as malas na charrete. – Disse ele por fim, pigarreando de forma tímida.

-Oh, mas já?! – A senhora Gertrudes retomou seu lamurio, segurando a mão do pobre rapaz com uma devoção excessiva – Senhor McGregor, estou tão feliz em saber que minha Prudence encontrou um rapaz tão bom quanto o senhor! Só prometa que a trará aqui vez ou outra para me visitar, sim? Sei que a vida dos recém-casados é cheia de afazeres, mas não suportaria de saudades!

-Eu... Prometo que viremos visitá-la assim que possível, mas agora precisamos mesmo ir. O juiz Hemmwood me disse que o caminho até Greenfield leva dois quartos de hora e eu não conheço muito bem a estrada.

-Claro, meu filho. Deve estar ansioso para chegar a sua nova casa! E Prudence, lembre-se de tudo o que conversamos nessa manhã, sim?

-Sim, madrinha.

Ao julgar pelo vermelho que tomou o rosto da pobre moça, Theodor suspeitou que a tal conversa dizia respeito aos deveres de uma esposa no leito conjugal, e pensar sobre isso também lhe fez corar. Desesperado para acabar logo com aquilo, Theo ajudou sua esposa a subir na charrete que estava apeada em frente à casa paroquial, e sem perder mais tempo se despediu novamente da senhora Gertrudes e assumiu o lugar do condutor, atiçando o cavalo logo em seguida.

Na medida em que avançavam pela vila, Theo percebeu que a prima ficava retraída novamente, parecendo perdida em seus pensamentos. Devia estar nervosa... A final, em breve estaria sozinha com ele, e o próprio Theodor tinha medo do que isso significava! Não que ele não tivesse curiosidade e desejo pelo que viria, mas também tinha medo de fazer alguma coisa errada!

-Você tem muitos conhecidos na vila? – Indagou por fim, tentando acalmá-la com uma conversa branda.

-Não... Meu pai não era muito... Sociável. – Confessou Prudence, ficando levemente pálida e mantendo o olhar baixo.

-Mas vocês não iam à missa aos domingos? Nem a escola comunitária?

-Bem, eu frenquentei a escola até os doze anos, mas depois minha mãe faleceu e precisei assumir as tarefas domésticas. E quanto à missa de domingo... Papai me levava sempre que tinha tempo, mas eu me habituei a ler o evangelho sozinha em casa.

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