Greenfield

Capítulo VII

Prudence não era acostumada a passar roupas já que ela e o pai mal saiam de Greenfield, mas naquela tarde estava travando uma pequena batalha entre a goma e o ferro a brasa! Queria que o marido ficasse feliz quando visse seu terno sem nenhum amasso, e talvez assim conseguisse romper aquela estranha barreira que havia se erguido entre os dois.

Apesar de se manter cortes como sempre, Theodor vinha lhe tratando com certa cautela, e isso já fazia uma semana! Prudence não sabia exatamente o que tinha feito para merecer a indiferença do marido, mas desconfiava de que Theo estivesse sentido com a forma como ela lhe tratou no riacho. Afinal, mesmo que só estivessem casados há uma semana, Prudence já havia percebido que o marido era um rapaz extremamente sensível e honrado, se portando sempre com respeito e lhe pedindo permissão quando queria tocá-la ou beijá-la.

Mas mesmo que tamanha consideração lhe comovesse, uma parte de Prudence ainda se sentia insegura quanto aos reais sentimentos de Theo. Ela tentava se convencer de que talvez o marido só estivesse ocupado com o serviço da fazenda, mas bem lá no fundo, sentia que ele vinha lhe evitando. Theodor acordava todos os dias cedo da manhã, tomava café praticamente correndo e depois ia para o campo, trabalhar no plantio até que a noite caísse. Ele até arrumou tempo para pintar a casa e consertar o telhado, coisa que Frank jamais fez. Mas quando o dia acabava, aparentava estar tão sujo e cansado que a única coisa que conseguia fazer era tomar um banho, jantar e cair novamente na cama. Sem mais conversas, sem mais risos e sem mais beijos.

Soltando um suspiro de frustração, ela terminou de passar a casaca de Theo e dobrou a peça com destreza, tomando cuidado para não tornar a amassar o tecido de algodão. Eles iriam jantar na casa dos Johnson naquela noite, mas até mesmo a perspectiva de sair um pouco e conhecer a nova vizinha não conseguia lhe animar. Tudo o que Prudence queria era que seu marido voltasse a ser como antes, mas não sabia como fazê-lo perceber isso.

Estava retida nesses devaneios quando viu o motivo de suas frustrações entrando na cozinha pela porta dos fundos, parando apenas para tirar as botas cobertas de lama. Theodor tinha avisado que chegaria mais cedo em casa, pois precisava se preparar para o jantar com os Johnson, mas ainda vestia o macacão de trabalho e estava tão sujo como de costume. Prudence se preocupava com ele, principalmente por não achar saudável trabalhar tanto! Seu marido parecia exausto e uma barba rala já cobria o rosto do jovem rapaz, o que estranhamente fazia o coração dela estremecer.

-Desculpe a demora... – Disse ele ao entrar na cozinha e desviando o olhar ao ver que Prudence vestida apenas um simples roupão por cima da combinação de cambraia – Tive que consertar um buraco na cerca e acabei me atrasando.

-Tudo bem, ainda temos tempo. – Ponderou ela, colocando o ferro de lado e tentando agir com naturalidade – Eu já preparei a banheira para o seu banho e passei a sua casaca.

-Obrigado. É muita gentileza de sua parte.

Um silêncio constrangedor caiu sob eles enquanto Theo ia até a jarra d'água para se servir com um generoso copo, parecendo taciturno. Prudence observava o marido de longe, com a inquietação lhe corroendo as entranhas, mas sem saber o que fazer. Sob a luz do sol poente, ela pôde notar que a barba de Theo mudava de cor, passando do castanho para um tom mais vivo de vermelho. Era normal que um simples detalhe sobre seu marido lhe deixasse tão fascinada?

-Você... vai se barbear? – Indagou ela, tentando parecer solicita e desesperada por romper o silêncio.

-É, acho que não tenho outra opção. – Respondeu Theo, com uma ruga entre as sobrancelhas e coçando a barba – Não quero assustar nossos vizinhos com essa aparência.