4. Benevolência

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Ao acordar, a primeira coisa que você repara, antes de saltar do lugar onde está deitado, é que não está em seu esconderijo no galpão, mas sim em um colchão até que confortável, se comparado ao que conseguiu improvisar para si.

A segunda coisa, é que há uma garota ajoelhada aos seus pés, com grandes olhos azuis e longos cabelos cor de fogo presos de um lado com um pedaço de tecido. Olhando em volta, este lugar parece muito mais decente e habitável que a espelunca onde você se esconde.

— Hitoshi! Hitoshi! Ele acordou! — Ela diz e por trás de uma cortina surgem dois rostos que você lembra de ter visto antes de apagar. Sua garganta está tão seca que quando tenta produzir algum som, nada além de um muxoxo rouco escapa e logo você começa a tossir incontrolavelmente.

— Vá buscar um pouco de água pra ele! — O tal Hitoshi instrui ao loiro, Neito, aparentemente, mas ele cruza os braços.

— Você tá brincando, né? Nós não–

Neito. — A garota se levanta, ela é bem mais alta do que aparentava e parece ter um certo poder sobre o loiro, que apesar de lhe lançar um olhar venenoso, prontamente sai de cena por alguns instantes, voltando em seguida com uma garrafa de água que é atirada em sua direção e se não fossem os seus bons reflexos, teria caído.

Um silêncio desconfortável se instala no cômodo, enquanto você bebe o que deve ser a sua primeira água realmente limpa em meses. A garota novamente se senta aos seus pés, um sorriso simpático estampando seus lábios, enquanto o loiro mantém-se emburrado. Ele tem agora um curativo improvisado cobrindo a ferida em sua sobrancelha esquerda.

— Então, como você se chama? — Ela não parece ter más intenções, só que dentro de sua cabeça, uma pequena voz repete incessantemente que está sendo idiota e descuidado, que não deveria confiar nessas pessoas. Mas você está cansado. Já não tem contato com ninguém há tempos, talvez a conta já tenha atingido um ano, talvez não sejam nem três meses. Impossível manter o tempo administrado neste lugar, mas é tempo o suficiente para questionar sua própria sanidade.

Quando você aparentemente demora mais que o necessário para responder, o jovem de olhos violetas dá um passo à frente. Seu olhar penetrante te causa calafrios.

— Eu sou Hitoshi Shinsou. — Ele coloca a mão no peito e depois gesticula na direção atrás de si. Ah, nomes de família, é claro que eles manteriam essa tradição, mesmo aqui. Pessoas são engraçadas. — Aquele é Neito Monoma, ele é meio temperamental, mas é uma boa pessoa. E esta é Itsuka Kendou. Uhm... Você... — Ele parece desistir de seja lá o que pretendia dizer no meio do caminho.

— E você? — A garota é rápida o bastante em desviar a atenção para si e sua expressão se torna confusa por um instante. Você decide não pensar muito nisso por agora, qualquer que seja o conflito que esse garoto de cabelos roxos parece estar enfrentando dentro de sua própria mente no momento, com certeza não é da sua conta.

— Uh... Shouto. — É tudo que você concede. Não há razões para usar seu nome de família, depois de já tê-lo abandonado há tanto tempo, não voltaria atrás agora. — Apenas Shouto.

Monoma te olha desconfiado, é claro. Os outros dois parecem aceitar sua resposta sem problemas. Kendou o convida a ficar, pelo menos até se recuperar de seus ferimentos, mesmo sob os protestos do garoto loiro e uma reação que você só poderia definir como neutra vinda de Shinsou.

Skyfall - bnha | todoshinWhere stories live. Discover now