Prólogo

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#OAbanarDoAmor

🐶❤️

Quando completei dez anos de idade, meu pai me ensinou como sobreviver na sociedade sendo um híbrido.

Naquela época, eu ainda era um garoto livre da monstruosa opressão social. Nós vivíamos em uma casa isolada, no meio das grandes florestas de Masan, onde eu podia passar o dia todo correndo e abanando minha cauda por aí. Meu pai, para nos sustentar, trabalhava como lenhador, mas por ser meu único responsável, ele só entregava a lenha uma vez por semana, temendo me deixar sozinho. De acordo com ele, minha mãe abandonou à nós depois do meu nascimento — eu nunca soube exatamente o motivo, mas tento não pensar muito nisso, embora seja inevitável.

Eu, Jeon Jungkook, sou fruto de uma mistura de espécies. Minha mãe é humana, e meu pai, um híbrido de cachorro. Por causa dessa mistura, eu acabei nascendo um híbrido mais "leve", por assim dizer. Diferente do meu pai, meus instintos não são tão intensos. Eu não sei latir, não uivo, muito menos fico rugindo quando estou bravo. As minhas únicas características híbridas são minhas orelhas e a minha cauda, que surgem quando meus sentimentos estão intensos, além do olfato apurado — mas meu nariz não muda quando estou farejando alguma coisa, então não faz muita diferença.

Com dez anos de idade, meu pai começou a me treinar para parecer um ser-humano comum. Apesar de me amar muito, papai não queria que eu vivesse minha vida escondido em uma floresta — mesmo que essa fosse a minha maior vontade na época — sempre enfatizando que o mundo é enorme e maravilhoso, e que eu precisava conhecê-lo antes de fazer minha escolha: viver isolado ou na sociedade.

Sempre confiei muito no meu pai e o vi como meu herói. Então mesmo que contragosto, o obedeci e me esforcei para me controlar. Quando ele percebeu que eu era capaz de me esconder como híbrido, nos mudamos para Busan, começando nossa vida em um apartamento pequeno no meio de pessoas normais.

Comecei meus estudos naquele mesmo ano e não gostei nada. Eu não podia fazer nada do que estava acostumado! A empolgação fazia minha cauda aparecer e abanar, então eu precisava ficar calmo e quieto o tempo todo. Meu pai mentiu para a secretaria, dizendo que eu era incapaz de participar da educação física por problemas médicos, e eu fiquei com tanto medo de revelar, sem querer, minha identidade, que não fiz nenhum amigo. Logo, eu só estudava e me isolava, controlando, dessa forma, a minha cauda.

Minhas orelhas caninas acabaram se tornando um problema naquele primeiro ano. Sempre que eu ouvia algum barulho diferente, minha cabeça coçava e elas ameaçavam aparecer. Era difícil controlá-las já que, diferente das minhas orelhas normais — como as que todo ser-humano tem — elas apareciam involuntariamente em situações inevitáveis do cotidiano. Como quando eu ficava muito atento e concentrado, ou algum som que eu não conhecia chegava até meus ouvidos, e também quando tinha alguma coisa diferente perto de mim que me deixava curioso. E isso era simplesmente horrível! Nas aulas de matemática, eu precisava me concentrar muito, e na minha escola tinha sala de música — o som da flauta sempre me deixava doidinho — e por causa disso, elas sempre coçavam para brotar no meio dos meus cabelos.

E além do mais, essas manifestações são muito chamativas. Quando minha cauda surge, meu corpo produz algum tipo de vapor bem denso que faz um som engraçado, como um "Puff!" e ela simplesmente brota. Parece até um peido.

Já com minhas orelhas, é menos chamativo, porque é como se elas sempre estivessem na minha cabeça e apenas levantassem, já que surgem no meio dos meus cabelos castanhos normalmente... o problema é que elas coçam a beça quando tento reprimi-las, e isso incomoda bastante.

Por causa desse problema com as minhas orelhas caninas, meu pai teve a ideia de me fazer usar toucas. Assim, eu poderia deixar minhas orelhas livres sempre que meus instintos se manifestassem, e felizmente, deu muito certo! Sorte a minha que minhas orelhas são pequenas e baixinhas (eu não tenho orelhas de chihuahua, okay?) logo quando elas apareciam sob minha touca, não chamavam atenção... só davam uma balançadinha, mas ninguém prestava atenção em mim para perceber isso.

O Abanar do Amor {jikook}Where stories live. Discover now