O outro Raro Híbrido de Tigre

Como se conheceram

1994 - O maior e mais incrível circo do mundo se instalou na Coreia do Sul. Instalações da grande tenda, um enorme espaço onde os trailers ficavam, plateias lotadas aos fins de semana...

Moon Jaewoo é um universitário que conseguiu um estágio de intérprete lá, afinal, o circo era britânico e seus representantes precisavam de ajuda com tradução de alguns assuntos. Estava com um friozinho na barriga com seu primeiro trabalho.

Vez ou outra enquanto passeava pelo acampamento circense entre os intervalos, admirava poder assistir aos ensaios dos artistas. Geralmente ele sentava em um banquinho simples de madeira, lhe ofereciam uma garrafa de cerveja e ele bebia junto com alguns dos artistas enquanto outros ensaiavam os números de saltos, malabarismos e dança. Era tanta gente treinando ao mesmo tempo que era difícil prestar atenção a só um ensaio.

Era tudo incrível e memorável, e estava feliz que seu primeiro estágio era tão diferente e divertido. Haviam bailarinas, híbridos de elefantes, gatos, ratos, cães, haviam também lançadores de faca, cuspidores de fogo... todos muito talentosos.

Em um desses dias, ele observava o ensaio do grande número sobre cama-elásticas quando a estrela principal daquele ensaio apareceu. Jaewoo chegou a derramar a cerveja de tão distraído que ficou ao ver o que julgou ser a criatura mais bela da terra.

Um raro híbrido de tigre.

Não era alto, nem baixo, nem gordo ou magro, seu corpo tinha proporções perfeitas. Seus movimentos eram leves, belíssimos, sua expressão era neutra, profissional, concentrada...

O híbrido ergueu as mãos ao alto em pose, esperando a música indicar para começar, e assim ele o fez.

Era indescritivelmente hipnotizante.

Ele saltou, girou o corpo e dançou como se a arte fizesse parte de seu corpo tanto quanto sua parte felina. Era incrivelmente flexível e cada movimento era perfeito e fluído. Tinha cabelos castanhos, e os colocou para trás com um arco para que não atrapalhasse.

Jaewoo não era o único que estava de boca aberta, admirado: todos estavam. Era sempre assim quando o tigre ensaiava sua parte da apresentação.

Logo depois de sua parte, terminando em sincronia com a música, fogos e faíscas anunciaram a chegada de outro híbrido que tomou a liderança: um raro híbrido de leão. Ele abria os braços e olhava para os lados acenando, como se recebesse aplausos de uma plateia invisível.

Era até broxante ver a diferença de um artista de verdade para um outro híbrido que seu único talento era ser forte e raro. Mas fazer o que... todos parecem adorar aquela juba grande.

Um dos treinadores apareceu anunciando o intervalo para aqueles que estavam ensaiando, e Jaewoo notou o híbrido de tigre secar o suor do rosto com uma toalha enquanto saía dali. Sem hesitar, o seguiu para falar com ele.

- Ei, espera! – disse, mas o híbrido o ignorou. – Espera! – repetiu estando mais perto, e finalmente o felino se virou – Oi. – o rapaz sorriu ajeitando os cabelos bagunçados.

Nem sabia o que estava querendo com aquela conversa. Queria elogiar o tigre, mas também queria vê-lo de mais perto.

E de mais perto aquele híbrido era mais lindo ainda... Seus olhos eram lindos demais. Eram felinos, puxados, castanhos e com um formato único e incrível. Ele com certeza tinha origem asiática. Era mais baixo que si, mais magro e mais elegante.

- Você foi incrível agora a pouco – disse sincero.

O híbrido cerrou as sobrancelhas.

Jaewoo quase se deu um tapa na testa pois tinha se esquecido que a maioria dos artistas não sabia falar coreano.

- You were amazing there – Você foi incrível lá.

Agora entendendo, o híbrido aliviou a expressão.

- Thanks – respondeu simpático.

- Moon Jaewoo - se apresentou.

- Tiger - se apresentou também.

- "Tiger"? - perguntou. Afinal, a tradução era literalmente "tigre"

- É assim que sempre me chamaram. - contou. - Me acostumei.

O rapaz contou sobre seu estágio e começou a puxar assunto. O tigre achou muito curioso aquele humano não ter medo dele. Normalmente apenas os felinos se aproximavam dele sem hesitação. Tiger tinha que admitir que aquele humano parecia bem tolo e inocente, mas no bom sentido. A primeira coisa que aprendeu foi que ele falava bastante.

Mas o que mais lhe chamou a atenção foi o sorriso quadradinho do estudante.

Aquele sorriso era muito bonito.