O Leviano

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Humm, Vitor! Até que enfim. Até que enfim que você se levantou. O outro está na rua. Mandei brincar. Por que eu não quero que ele ouça nada da nossa conversa não. Então Vitor, vou te falar. É que eu soube que aconteceu por esses dias da semana. Tá acordado? Eu sei. Eu sei que você chegou tarde, e tudo. Tá cansado... Eu sei... Mas... Mas, é importante, é importante, então senta aí, que eu quero lhe falar umas coisas, senta aí no sofá, do lado onde seu irmão estava.

Temos que falar de algumas coisas, e tem muito que ver com seu irmão, Jorge Levi. Como se não bastasse tudo que a gente já não passa aqui. Falta de água e tudo mais. Morando aqui nesse bairro meu Deus do céu. Ah, pois. Como se não bastasse isso, o seu irmão... Seu irmão... Vitor; vamos conversar... Mas... Espera! Deixa eu ir olhar aqui... Onde... Onde que está.

Então... Vitor, já parou, já, de rir? Para de rir menino. O assunto é sério. Para de rir que eu quero falar com você, menino... Mas, primeiro, deixa eu chegar aqui; da varanda... Da varanda é melhor. Pra ter certeza. Está ali, na frente... Pronto. Podemos falar agora. Pare de rir. Para de rir, que eu quero lhe falar duas coisas sérias. Primeiro me desculpe, que eu não queria te acordar; que eu vi que você chegou tarde, muito tarde; tava trabalhando... Mas eu tive que te chamar...

O que foi? Vou lhe contar então... Espera, que eu vou lhe contar... Pois, você já está sabendo que o seu irmão é o assunto na rua? Desde quando? Desde ontem. Desde ontem que não se fala mais em outra coisa! Por quê? Ah, você não sabe. Seu irmão, depois que ouviu ou viu alguma coisa, ele começou a inventar. Se meteu a herói, a sei lá o que, saiu pelo mundo e fez, você sabe o quê? Sabe? Esse menino... É doido... Sabe o que foi que ele fez? Ele estava brincado com um rato, no meio do beco. E pior, que não foi aqui não, foi no beco de lá de baixo.

A raiva é tanta... Que só de lembrar disso, só de lembrar já dá logo vontade de pegar logo e dar um monte. Sim! Foi ele! Todo mundo viu! Foi ele sim. Aí em baixo foi maior zoada por causa disso. É, ele matou um rato! Sim! Ele matou um rato aí no beco aí do outro lado, aí mais pra baixo.

Hã? Como assim, quem viu? Todo mundo! Todo mundo viu! Se foi de dia! Como é que ninguém ia ver Era de tarde. Tava aqui. Chegou da escola e foi fazer um negócio desses. Foi na luz do dia, pra todo mundo ver a loucura dele! Tava fantasiado, até. Todo mundo viu... No Beco da Rabada, Vitor... Diz que foi ali perto de onde as meninas deixa as roupas estiradas no chão. Quem me disse foi elas. Eu também não quis acreditar não, logo quando eu soube disso. Acredite ni sua mãe meu filho. Diz que o tal do rato apareceu. Aí... Ah, pois. Então... Aparece o rato. Vem seu irmão, sabe Deus de onde, e mata esse tal desse rato.

Vai, faz o que faz. Todo mundo viu a cena extraordinária dele; a maluquice. Agora tá aí o maior rebu por aí tudo! Não se fala mais em outra coisa nas redondezas...

Como eu estou? Preocupada não é? Por quê? O Beco da Rabada é o pior beco que tem. Oh Vitor... Eu estou te falando aqui uma coisa séria. E você tá rindo? Não entendi. Por que você está rindo disso?

Não, calma. Calma que ainda não acabou não. Calma que tem mais. O pior ainda você não sabe. Você sabia que esse sujeitinho; pra terminar, ainda estava com uma fantasia! Sabia? Eu sei, eu sei que você não sabe menino, é jeito de falar... Ainda fez o que fez; vestido de num sei o quê! Quem ainda quis desenhar ele foi aquele outro. Aquele. Aquele outro, de lá de baixo. Aquele, que mataram e depois inventaram que ele dormiu e acordou morto.

Tá todo mundo por aí; mundo afora, falando dele! Falando que Levi é doido, que ele vai ficar doido. Eu não sei direito o que foi que aconteceu com ele que de uns dias pra cá ele tá mais cheio de invenção do que nunca! Montado num pedaço de pau, que diz ele que é o cavalo dele... Oi? Não sei. Não! Ele vestiu. Isso não é coisa do desenho não. Ele estava vestido com isso. Sim, aí sai; ganha os pasto que ninguém sabe ninguém vê a hora; ninguém vê ninguém sabe por onde anda. Todo dia saindo e voltando.

Conto: São JorgeWhere stories live. Discover now