Capítulo 19

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Às vezes, eu me sinto como se estivesse presa em uma roda-gigante. Em um minuto, estou no topo do mundo. No seguinte, no fundo do poço. Estou corroída por dentro, melancólica. Valentina saiu assim, de repente, e desde de então o colorido do meu mundo se tornou cinza.

Suas lembranças percorrem meus pensamentos nas noites frias desse outono, o cheiro de panquecas às manhãs também desapareceu. Havia alguma coisa que eu poderia ter dito? Eu perdi um amigo. Não perdi para sempre, apenas por tempo indeterminado. Quando você vai perceber que errou em ter escolhido ele e não a mim? Finais tristes e inesperados não acontecem apenas em relacionamentos amorosos.

Essa noite fria de outono, me faz pensar em melodias tristes. Colocá-las em um papel pode melhorar o meu astral.

Estou aqui em baixo, pode abrir para mim?

Acho que foquei tanto na minha tristeza que acabei deixando minha namorada de lado. Valentina não iria gostar de me ver assim, é melhor eu tomar banho e vestir algo. Chega de moletons, preciso respirar algo que não seja salgadinhos de batata.

A porta está aberta.

Respondo a mensagem de Lily. 13:55 da tarde, existe horário melhor para tomar café da manhã do que esse? Eis a questão.

— Boa tarde querida, te trouxe café. - Ela me cumprimenta com um beijo na testa e entrega o café em minhas mãos.

— Senti sua falta, tipo, muito mesmo. - coloco minhas mãos em seu pescoço, esquecendo do copo com café que estava na minha mão.

— Merda, minha jaqueta! - Lily me afasta.

— Desculpa, eu já vou limpar isso. Eu só preciso... - Ela me interrompe.

— Precisa ficar relaxada. Pode deixar comigo, certo?

— Eu só preciso...

— Do que você precisa?

— Eu preciso de você. Eu sei que vou ficar bem, mas não nessa noite.

E naquele momento eu não consegui conter minhas lágrimas. Ela me abraça. Seu abraço é reconfortante, ele tem esse efeito sobre mim. Ela consegue me acalmar apenas com um toque doce e suave.

— Eu também senti saudades, querida. Quero levantar seu astral, o que você acha de um dia inteirinho nosso? - Ela propõe.

— Oferta tentadora... - passo meus olhos pela casa totalmente desorganizada — Essa casa está uma bagunça.

— A gente resolve isso mais tarde. E então?

— Como recusar o convite de passar o dia com a minha namorada linda e maravilhosa?

— Não vai se arrepender. Agora, o que você acha de um banho?

— Outro banho? Acabei de tomar um! - suspiro

— Comigo. - Ela morde seus lábios. Cara, eu não consigo resistir à ela!

Depois do banho, ela me levou para um barzinho. Era pequeno, tinha uma vibe "sertaneja" no lugar. Lily pediu a primeira rodada e começamos a beber. Depois a segunda, terceira, quarta, quinta... As rodadas ficavam cada vez mais incontáveis nos dedos. Estava acontecendo show de artistas independentes então resolvemos arriscar no karaokê.

— Amor, o que você acha? - diz Lily apontando o dedo indicador para o palco.

— Karaokê? Eu não estou bêbada o suficiente para isso.

Mas, as vezes uma vergonha gratuita faz bem né...

— Ok tudo bem, eu vou. Mas eu eacolho a música.

— Como quiser, meu amor.

Não tinha wifi. Não era no youtube ou algo do tipo. DVD? Só pode estar de brincadeira... Alguém usa DVD atualmente? Músicas do tempo da mesopotâmia! Tá bom, estou exagerando.

— O que você acha de Sólo Quédate En Silencio?

— RBD, Catalina? Meu espanhol é péssimo.

— E se eu fizer isso - beijo suavemente seus lábios — Você tenta?

— Proposta interessante, mas acho que precisarei de outro. - dessa vez beijo suas bochechas — Então, vamos cantar RBD!

Ela fala com tanta empolgação que nem parece que aceitou suborno para cantar.

A música começa e Lily a inicia.

Te encuntro despi-pierto

Três segundos de música e ela já errou metade da frase. Será que preciso ensinar como se canta em espanhol?

Me dices: Lo siento

— Desde de quando você fala espanhol tão bem?

— Lily, não perde o foco! Con una lágrima derramas...

Me abraszas, me hiejo

Não tem como errar RBD. Simplesmente, sem condições. Talvez seja porque eu esteja um pouquinho alterada mas, estou ficando brava.

— Assim não Lily. Assim: Me abrazas, me hielo. Qual a dificuldade nisso?

— Nossa amor, eu não sou fera em RBD... Você está sendo dura.

Enquanto isso, às pessoas que estavam no bar pareciam entediados. Eles estavam ali buscando entretenimento, não para escutar discussões de duas mulheres adultas bêbadas.

— Eu não estou sendo dura, eu apenas...

— Você não está querendo chorar, não é mesmo? - Ela pergunta com um olhar preocupado, mas no fundo sabendo a resposta para sua pergunta.

— Me perdoa, eu...

—Você já bebeu demais, vamos para casa.

Ela pagou a conta, pegou minha mão e me levou para o carro. Não demorou muito para chegar em casa.

— Eu não queria te dar trabalho, eu só não estou pronta para voltar a rotina de sempre.

— Catalina, meu querido anjo... Você não precisa estar 100% bem o tempo todo. Eu entendo você. Se não consegue voltar à velha rotina agora, tudo bem.

— Eu me diverti bastante essa noite... Sabe o que veio a minha cabeça nesse momento? Quando nós conhecemos, eu não bebia tanto assim, viu. - ela riu

— Poxa, levei a minha namorada para o mau caminho! - retribuo a risada.

— Quer subir?

— Eu estou aqui com essa intenção. Retirar sua roupa.

— Eu não te convidei com essa intenção mas... A gente pode assistir um filme.

— Eu estou aqui com essa intenção. Assistir um filme.

Ela têm esse jeito bobinho e engraçado de ser e, isso me faz muito feliz. Eu vou ficar bem. Mas não nessa noite.















Angel in Sight Where stories live. Discover now