#64 > Toda a sua dor tinha desaparecido.

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Tinha tudo planeado. Tinha trabalhado imenso para que as coisas corressem da melhor forma possível. Não tinha contado a ninguém do seu plano, sabia que a probabilidade de correr mal por outros saberem, acabaria por ser elevada.

Durante meses tinha vigiado os polícias, sabia quem estaria naquele dia a trabalhar e sabia perfeitamente todos os turnos de cada um e sabia quem era aquele que simplesmente se sentava numa cadeira perto das celas e por ali ficava enquanto via as horas passar e lia alguma coisa para se entreter.

Tinha chegado o dia desse mesmo guarda. Passar por todos iria ser fácil, apenas teria de usar toda a sua força e iria conseguir escapar-se. Depois de ter andando a fortalecer os seus músculos ao longo daqueles meses, iria compensar em alguma coisa e mal podia esperar para sair daquele sítio e encontrar a cabra da irmã mais nova: merecia vingar-se depois de tudo o que tinha acontecido.

Continuava vestido com a roupa que todos ali dentro tinham, mas sabia perfeitamente onde eles guardavam as roupas dos presos e antes de tudo, já tinha conseguido tirá-las uma muda nos dias anteriores: tinha-a vestido por debaixo daquele fato de macaco.

Desde daquela noite no balneário com aqueles dois tipos, o Mark e o outro... que se tinha mantido longe deles todos. Nem queria acreditar que tinha realmente feito algo de tamanha proporção e Lucas definitivamente inferiorizado.

Quando sair desta merda, a primeira coisa que eu vou fazer é comer uma miúda. Comentou sorrindo. Desde que tinha deixado de consumir há meses atrás que começava a ver as coisas mais nitidamente e todo o mundo que o girava parecia mais confuso do que antes. Esperava realmente que quando saísse de lá ainda conseguisse encontrar alguma coisa, nem que fosse um pouco de erva.

Almoçou nas calmas com Jason. Lucas nem a ele tinha contado realmente os seus planos de ir embora. Sabia que depois de sair, deixariam de ser manos e que nunca mais se iriam ver na vida e esperava que assim fosse.

Comeu com apetite de forma a despedir-se para sempre da comida merdosa que tinha à sua frente. Quem estava ao seu lado, até estranhou parando a leitura do mesmo livro que Lucas estava habituado a ver, para perguntar o que se passava.

-Mete-te na tua vida.

Comentou ele, continuando a comer. Passou o cabo da faca pelo cabelo para parar a comichão e automaticamente lembrou-se do quão grande ele estava. Desde que tinha ido de cana que não o tinha cortado uma única vez e parecia estranho afinal, tinha ainda a cor pintada e grande parte da raiz com a cor natural.

Uma das primeiras coisas que iria fazer era cortar a merda do cabelo com um dos seus sócios, sabia perfeitamente quem tinha uma barbearia e seria sempre melhor do que ser cortado por um dos agentes que por ali andavam a fazer esse servicinho.

Voltou para a sua cela e por ali ficou sozinho. Voltou a pensar no plano milhares de vezes e suspirou. Tinha de esperar até pelo menos a hora da visita, grande parte dos agentes acabaria por ir para lá, para conseguir assegurar que vigiava todos os presos. Ficavam poucos agentes com quem não tinha visitas e também não fazia grande coisa.

A sua grande sorte aconteceu exatamente na hora prevista. Pegou em tudo o que tinha e suspirou. A adrenalina começava a correr-lhe nas veias de uma forma que ele nunca pensou que iria acontecer.

-Chega aqui! – Gritou enquanto falava com o polícia que tinha ficado com ele, tinha sido o único sem visitas, como sempre acontecia. Parecia que todos os que ali estavam eram bonzinhos e todas as suas famílias acabavam por os ir visitar, até mesmo amigos. Sorriu quando o polícia chegou. – Não tenho visitas? No outro dia, fiz um telefonema e disseram-me que sim. – O mesmo arqueou a sobrancelha. Lucas suspirou e começou a falar mal com o próprio na tentativa de o fazer averiguar o que tinha acabado de dizer.

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