O reencontro na Colina

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O som doce da flauta ecoava pela colina.

Enquanto tocava aquela canção, Wei Wuxian sentia que seu coração poderia suportar a despedida que tivera algumas horas atrás com Lan WangJi. Não era que ele queria se afastar de Lan Zhan, mas ele precisava.

Embora, ao longo das suas duas vidas, eles caminharam lado a lado em muitos momentos, sempre havia uma bifurcação no final da estrada que os mantinha separado. Cada um ia para seu caminho. Era assim que as coisas deveriam ser, afinal. E o que Wei Wuxian poderia esperar do jovem mestre mais respeitado dentre os cultivadores? Que ele o pedisse em casamento, em um grande banquete na frente de todos os grandes e pequenos clãs da Terra? Era pedir demais, talvez.

Enquanto ele tocava a canção, seu coração vibrou algumas vezes, batendo apressado. Não poderia descer a colina tão distraído como estava naquele momento. Por isso, tocar a flauta era importante porque dava para ele foco. Precisava pensar no que fazer dali em diante e é claro que no seu caminho algumas confusões iriam acontecer.

Sentiu mais uma vez o coração bater angustiado, precisava de mais tempo para conseguir tranquilizar. E, quando a canção teve seu fim, a voz dele penetrou seus ouvidos, como se fosse música.

Suas pernas travaram no lugar, e ele demorou para abaixar a flauta que estava próxima de sua boca. Orou, inteiramente, para todos os seus ancestrais, de que aquela voz não fosse uma imaginação romântica de sua cabeça. Seus pensamentos nos últimos meses vinham pregando muitas peças. Assim como alguns sonhos que pareciam reais demais para serem considerados sonhos.

Aos poucos, e com medo, Wei Wuxian virou-se, constatando que a presença do homem parado na sua frente era real. Aquilo não era um sonho, embora as vestes brancas mais parecessem nuvens flutuando no céu.

O coração de Wei Wuxian mal conseguia se conter dentro de seu peito e ele soltou um sorriso de alívio. Um sorriso de felicidade que ele pensou que não seria capaz de oferecer a mais ninguém, senão a pessoa a sua frente.

Lan Zhan permaneceu parado, enquanto Wei Wuxian balançava a cabeça e sorria. Ele deu alguns passos e parou, observando a reação de Lan Zhan, ainda parado e com a mão segurando Bichen, enquanto a outra descansava em suas costas. Sua expressão era tranquila, o mesmo de sempre. Calado, sereno, um pouco sério demais para alguém que andou quilômetros até ali atrás dele.

— Você veio se despedir novamente de mim? — Wei Wuxian perguntou, girando Chenqing habilmente entre os dedos. — Está ficando emotivo, vou achar que você vem me perseguindo.

Houve silêncio, até que Lan Zhan moveu as pernas e caminhou na direção de Wei Wuxian. Esse, por sua vez, manteve-se calado, sentido seu coração retumbar acelerado a cada passo que os aproximava. Quando Lan Zhan estava na sua frente, apenas um passo de distância, Wei Wuxian moveu a cabeça para o lado e voltou a sorrir.

— Eu vim pedir para ficar. — Lan Zhan disse, soando de forma simples.

— Ficar? Ficar no Recanto da Nuvem? — Wei Wuxian perguntou e o outro apenas confirmou com a cabeça. — Mas... no que isso implica?

A pergunta pegou Lan Zhan, e ele abriu a boca, levando algum tempo para responder.

— Fique comigo no Recanto da Nuvem. — Lan Zhan respondeu.

— Sim, eu entendi, mas vamos ficar lá como amigos? Como parceiros de caçada, ou como... — Wei Wuxian não terminou a frase e ele pode até notar que Lan Zhan inclinou um pouco a cabeça para frente, enquanto esperava que ele terminasse a sentença.

— Como você quiser.

A resposta não foi bem a que Wei Wuxian queria ouvir. Ele moveu a flauta na mão mais algumas vezes, até prendê-la em seu cinto. Talvez ele estivesse sendo muito exigente, querendo demais de Lan Zhan.

— O que eu quiser?

— Sim.

Naquele momento, Wei Wuxian pensou que a situação poderia ser invertida ao seu favor de forma fácil. Lan Zhan era um homem de palavra e se mostrou fiel a ele em todos os momentos desde que se encontram nessa segunda vida. Ele ofereceu um sorriso travesso e quase pode constatar que Lan Zhan suspeitava que ele faria algo para deixá-lo constrangido.

— Vejamos, o que eu quero. — Wei Wuxian andou um pouquinho de um lado para o outro e depois parou novamente no lugar e soltou uma exclamação empolgada, como se soubesse o que queria. Depois ele recuou o braço. — Não, acho que o que eu quero seria impossível.

— E o que é?

— Algo que, com certeza, faria seus ancestrais sentirem vergonha do jovem mestre Lan WangJi.

Wei Wuxian gargalhou, enquanto percebia o olhar de canto de Lan Zhan.

— Eu farei. — Lan Zhan disse, pegando Wei Wuxian de surpresa, que parou de rir no mesmo instante.

— Fará mesmo tudo o que eu quiser? — A pergunta foi séria, e a expressão de Wei Ying era de completa curiosidade.

— Depende.

— Ah! Sabia, você realmente não honra suas palavras. — Wei Wuxian fez um bico e seus ombros ficaram amuados, caídos de tristeza.

— Algumas coisas eu me recuso a fazer.

— Tipo o que?

— Permitir que vá para longe de mim. — Aquela frase era, com certeza, algo que Wei Wuxian queria ouvir. Mas ele não se deu por satisfeito.

— E o que mais? — Ele cruzou os braços, da última vez que Lan Zhan respondeu suas perguntas, ele estava bêbado, não sabia se as respostas que ele deu eram realmente corretas ou apenas reflexos de seus sonhos mais íntimos. E, agora, o sóbrio Lan WangJi estava na sua frente, pronto para falar.

— Não machucarei você, mesmo se me pedir.

— Sério? Nem se for por um bem maior?

— Bem maior?

Wei Wuxian controlou a risada.

— As vezes as coisas podem ficar um pouco violentas, sabe, entre duas pessoas.

— Um duelo?

— Não com armas reais. — As bochechas de Wei Wuxian coravam, mas também estavam doloridas de tanto rir. Depois que viu confusão nos olhos de Lan Zhan, ou pelo menos um leve tremular na íris, Wei Wuxian endireitou os ombros. — Me diga, Lan Zhan, por que você me quer ao seu lado?

— Eu... — Ele hesitou, Wei Wuxian podia rir daquela cena, mas estava imerso em pensamentos e sensações. Queria ouvir aquelas palavras, mas sabia que era quase impossível.

— Lan Zhan, somos tão diferentes.

— Eu não quero que seja igual a mim.

— Sério? E como vai ser? Eu vou viver no Recanto da Nuvem como um membro do Clã GusuLan?

— Se quiser.

— E se eu quiser quebrar as regras?

— Você pode que-... — Ele não completou a frase, tendo um momento de consciência. Wei Wuxian notou que a mão dele apertava Bichen com força.

— Eu posso quebrar as regras?

— Não foi o que eu disse.

— Eu tenho quase certeza de que você ia falar isso. — Wei Wuxian riu, mais uma vez e se aproximou o passo que faltava para eles ficarem próximos o bastante para que pudesse ver os cílios perfeitamente curvados dele.

— Então podemos ir para onde você quiser ir. — A proposta soou uma novidade que agradou os ouvidos de Wei Wuxian. Ele ficou intimidado com a seriedade de Lan Zhan, mas depois sentiu o coração se acalmar no peito.

Então ele está mesmo decidido a ficar ao meu lado?

Wo Ai NiWhere stories live. Discover now