Capítulo 59

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Infelizmente, Gizelly não conseguiu dormir por muito tempo após a conversa com Manu, e acabou levantando mais cedo do que pretendia, o relógio dizia ser a recém seis horas da manhã. Vendo que Rafa inda dormia tranquilamente, a capixaba resolveu descer e comer alguma coisa, já que não comia desde o almoço. Estava na cozinha, preparando um café da manhã completíssimo para ela e Rafa, que ninguém sabia quando havia feito sua última refeição, já que ela negou toda e qualquer comida oferecida por Genilda desde a sua chegada. Estava distraída com as panelas, e não ouviu os passos pesados que se aproximavam dela.

- Pelo visto você realmente tem problemas pra dormir, hein menina? - Era a voz de Tião.

- Difícil dormir depois de tudo que aconteceu hoje, tudo que eu descobri hoje - Estando de costas, Gizelly não viu, mas o sogro abaixou o olhar, envergonhado por fazer parte daquilo tudo.

- Eu te entendo, acho que os motivos que te impede de dormir são os mesmos que me levaram a fazer a mala durante a madrugada - Ao ouvir aquilo, a advogada desligou o fogão, e se virou para o homem.

- O senhor vai embora?

- Tenho que ir, menina. Como vou ficar na mesma casa que a minha família e encará-los depois do que eu fiz? Isso só atrapalharia a recuperação da Rafa, e eu não quero fazer mais mal pra ela do que já fiz. Ela vai ficar melhor sem mim - Mesmo depois do que aquele homem fez, Gizelly sabia que aquele ato poderia muito nele. Mas ele estava certo quando dizia que para a recuperação de Rafa sua ausência seria melhor, já que a loira havia tremido da cabeça aos pés na única troca de olhares com o pai desde o resgate.

- É, acho que o senhor tem razão... - Não o encarava, tinha dificuldades para olhá-lo nos olhos após saber o que ele fez, não conseguia separar a sua imagem da pessoa que entregou Rafa para seu agressor.

- Gizelly...? Eu preciso falar uma coisa antes de ir... - Ela se sentia observada pelo sogro, mas não sabia se isso era algo bom ou ruim - Eu errei e muito com a Rafa, mas também errei com você - A afirmação dele a surpreendeu, não esperava que ele fosse admitir todos os seus erros de uma vez - Eu deixei o meu preconceito impedir que eu lhe desse uma chance. Desde o primeiro dia que vi você nessa fazenda, eu olhava pra você e via a mulher que desvirtuou a minha filha - Quis revirar os olhos ao ouvir aquele termo, mas se impediu - Eu fiquei tão cedo com essa visão errada de você que nem me dei a chance de conhecer você. Nunca fiz questão de conversar, não participava das refeições com você e ainda reclamava quando alguém da minha família te elogiava - Ao mesmo tempo que se sentia triste ao obter a confirmação que Tião nunca lhe deu uma chance, a capixaba ficava feliz por saber que o resto da família de Rafa a via com bons olhos e a elogiava - Mas confesso que nem mesmo toda a minha cabeça dura me impediu de reconhecer meu erro - Gizelly arregalou os olhos, surpresa - Desde que você voltou pra cá, não teve um minuto em que você não fizesse tudo que estava ao seu alcance pra achar a minha menina, você nunca desistiu dela, mesmo tendo provas que justificariam se fosse tivesse desistido - Sabia que o que o sogro acabara de dizer era verdade, mas também sabia que era algo impossível de acontecer. O amor que sentia por Rafaella era algo grande demais para que ela abrisse mão assim - E, como se eu precisasse de mais provas, eu ainda vi o jeito que ela te olha desde que saiu daquele lugar, como se você fosse a única coisa que ela vê - Isso era algo que até preocupava Gizelly, já que poderia ser indício e uma dependência que ela não queria que namorada tivesse - Você é boa pra ela, você faz ela feliz, todo mundo viu isso, só eu que não. E eu me arrependo profundamente, porque nós poderíamos estar tendo uma conversa sobre as manias estranhas da minha filha e não uma sobre como eu estou saindo da vida dela - Ela sabia que deveria ter ódio daquele homem a sua frente, mas ao ver a dor nos olhos dele só conseguiu sentir pena, pena por tudo que ela perderia da vida da filha.

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