Capítulo 66

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- Mamãe falou que você pediu pra me ver - Sabia que a cautela de seu irmão poderia ser considerada exagerada por alguns, mas ficou feliz ao ver que ele se preocupou em deixá-la confortável durante a conversa, por isso falou antes mesmo de chegar até onde ela estava. Ambos conheciam bem a árvore em que Rafaella estava escorada, pois a mesma havia sido testemunha de diversas trocas de segredos entre os dois irmãos. Sempre haviam sido muito próximos, e a influencer sabia que o homem parado a alguns passos de si provavelmente tinha um coração machucado pela distanciamento nos últimos meses. Ela não podia negar que o seu estava do mesmo jeito.

- Sim. Já estava na hora - Mesmo não o vendo, sabia que ele estava nervoso com aquele encontro. Ele estava presente nas primeiras crises graves da irmã, e normalmente sua presença era a causa delas. Não conseguia imaginar o quão culpado ele deveria estar se sentindo, mesmo que fosse completamente inocente naquilo tudo - Você pode sentar aqui se quiser - Bateu no monte de folhas que estava ao seu lado. Tato entendeu o convite, e se aproximou com cautela. Ficaram em um silêncio desconhecido pela dupla por alguns instantes, até que Rafaella, tentando tranquilizá-lo, resolveu falar - Obrigada por ter respeitado meu estado nos últimos meses - Recebeu um olhar pesaroso do irmão como resposta.

- Você não tem que me agradecer, Rafa. Você demonstrou desconforto com a minha presença pelo que a minha figura representava pra você. Depois do que você passou, isso era mais do que compreensível. Você é a minha irmãzinha, eu nunca vou querer te ver mal, e se eu tiver que parar de frequentar a sua casa por mais algum tempo, eu farei. Por você eu não tenho limite, maninha - Sorriu ao presenciar o amor que o irmão mais velho tinha por ela, era um par perfeito pelo que sentia por ele. Desde muito novos, Tato sempre fora a dupla dinâmica da influencer, ensinando todos os tipos de arte que conhecia para fazerem juntos depois. No ano em que Rafa completou dez anos, ele até montou uma casa da árvore improvisada para os dois, que depois foi reformada por Tião que, vendo a felicidade dos filhos, resolveu agradá-los. Quando o primeiro menino quebrou o coraçãozinho adolescente de Rafaella, foi no ombro do irmão em que ela passou a noite chorando, e foi o mesmo irmão que ensinou-a a pescar no dia seguinte, para que ela esvaziasse um pouco a mente. Tato esteve presente em todos os momentos em que precisou dele, menos em um, menos no que ela o afastou. Não conseguiu impedir as lágrimas de caírem. Rodrigo tinha afetado até a relação que jurava ser inabalável, nunca o perdoaria por isso - Ei, cê tá chorando? Quer que eu vá embora? Acho melhor chamar a mamãe - O reflexo de Rafaella foi segurá-lo pelo braço e impedir que se levantasse, o que fez com que o moreno a encarasse, surpreso com o toque da irmã.

- Eu tô chorando sim, mas não é pelo motivo que cê tá pensando. Eu tô chorando porque aquele imbecil conseguiu afetar até a minha melhor relação, a nossa - Tato, como sempre, entendeu na hora o que a irmã quis dizer com aquilo, e sentou-se novamente ao seu lado - As atitudes desprezíveis dele conseguiram me afastar da pessoa que esteve comigo em todos os momentos da minha vida, os importantes e os triviais. Me desculpa por ter deixado isso acontecer - Ela chorava de maneira mais intensa agora, e ele não aguentou vê-la daquela maneira, por isso abriu os braços, deixando nas mãos dela a escolha de aproveitar ou não o colo que lhe era tão familiar. Sempre havia sido um irmão mais velho protetor, tanto na escola quanto na vida em geral. Sempre priorizou o bem estar e a felicidade da irmã, e não seria alguns meses afastados que mudaria isso. O sorriso que formou no rosto do mineiro quando sentiu a cabeça da irmã deitar sobre seu ombro estava com certeza entre os maiores sorrisos que deu na vida.

- Você não tem que pedir desculpas pra mim nem pra ninguém. Você passou por uma situação traumática e precisou se afastar pra se cuidar, eu entendo isso e qualquer pessoa que se importe de verdade com você vai entender também - Sempre o irmão perfeito, sempre o homem compreensivo. Tato era uma pessoa diferenciada, e sua cunhada tinha muita sorte por tê-lo - Você se afastou, curou os machucados, e agora voltou. E eu tô aqui, como sempre tive. Sou seu irmão, Rafaella - Ele não precisou falar mais nada depois daquela última frase. Lembra de ter lido uma citação "Ter um irmão é ter, pra sempre, uma infância lembrada com segurança em outro coração". Sempre lembrou do irmão quando a lia e, naquele momento, embaixo de uma árvore na fazenda que tanto amava, Rafaella percebeu que a citação, por mais bonita que fosse, não era de todo correta em relação a eles dois, uma vez que sabia que muito mais que as lembranças de sua infância estavam guardadas em segurança no coração de Tato. Dentro dele, um pedaço dela estava guardado a sete chaves, e ninguém, nem mesmo o próprio Tato era capaz de tirá-la de lá.

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