Capítulo 72

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Dois anos depois

O sol já escapava pela fresta da janela quando Gizelly despertou de seu sono. Esticou o braço, a procura do corpo quente da namorada, mas encontrou apenas os lençóis já gelados, denunciando que Rafaella havia acordado a bastante tempo. Esfregou seus olhos e levantou-se para fazer a sua higiene matinal, sempre tentando ouvir algum ruído que delatasse o paradeiro de Rafa. Ainda vestindo seu baby doll verde, saiu a procura da influencer, que claramente não estava se escondendo, uma vez que encontrou-a sentada no sofá da sala de seu pequeno apartamento em Goiânia, olhando para o nada.

- Já levantou, amor? É um pouco cedo, não acha? - Perguntou a Capixaba, que se aproximou devagar e sentou-se no braço do sofá, esperando por uma reação da mineira.

- Não consegui dormir. É como se o peso desse dia me impedisse de descansar -Entendia perfeitamente o sentimento. Sabia que esse era o procedimento padrão de toda vítima quando sente que finalmente vai ter justiça. Já imaginava que Rafaella fosse ficar ansiosa no dia da audiência de julgamento de Rodrigo, até porque tudo indicava, graças ao caso excelente que a promotoria havia montado, que ele não conseguiria se safar e pagaria pelo que fez a ela. Em uma tentativa de relaxar a namorada um pouco, começou a fazer carinho em seus cabelos, mas manteve o silêncio, queria que Rafa tivesse liberdade para falar apenas do que não lhe deixaria ainda pior - Eu mal posso acreditar que hoje ele pode ser condenado e eu finalmente vou ver ele pagar pelo que me fez. Eu não acredito que vou ter paz, amor - Olhos verdes focaram no rosto de Gizelly, procurando os traços familiares que sempre acalmavam o coração ansioso da mineira. A capixaba deu um beijo na testa da namorada, que levantou a cabeça e puxou seu quadril para baixo, fazendo seu colo de travesseiro.

- Vai dar tudo certo, bebê. O caso dele medíocre e infundado, cheio de fatos distorcidos. Pra ele ganhar, o advogado dele precisaria fazer um milagre - As palavras da advogada traziam um sentimento de alívio para a influencer. Sabia que Gizelly não mentiria sobre algo tão sério só para tranquilizá-la, ela não era assim. Ambas se orgulhavam de possuir um relacionamento baseado na verdade e na confiança, e não seria por uma situação dessas que isso mudaria.

- Eu espero, amor. Ver ele pagar pelo que fez é tudo que eu mais quero.

- Eu também, bebê. Eu também...

****

Gizelly estava extremamente nervosa naquele tribunal, não por causa do caso em si, mas por Rafaella. Sabia que reviver aqueles dez dolorosos dias de cárcere poderia ser cruel, e as perguntas insistentes e distorcidas do advogado de Rodrigo apenas tornariam tudo pior. Quando a juíza chamou o acusado, a capixaba assustou-se com a aparência do cantor. O olhar que dá última vez que o viu estava tomado pelo ódio, agora era distante e indiferente, como se o homem já tivesse aceitado seu destino. O corpo, antes forte, contava com vários quilos a menos, e com marcas roxas nas partes visíveis de seus braços. Aquela imagem a fez lembrar dos braços de Rafaella no dia em que foi resgatada, a cor escura deles, a dificuldade que a mineira tinha até de se vestir, ou até mesmo de deitar-se e dormir confortavelmente. Lembrou daquilo tudo, e foi incapaz de sentir empatia alguma por aquele homem, ele não merecia nada além do que estava prestes a receber.

Para Rafaella, hoje tinha ainda mais emoções, pois era a primeira vez em dois anos que veria o pai. Desde que ele havia participado do episódio deplorável com Rodrigo, a influencer havia vetado toda e qualquer aparição sua na fazenda, e ele também não insistia. Cumpriu o que havia falado para Gizelly, e afastou-se da filha, deixando em suas mãos perdoá-lo ou não. Vê-lo depois de tanto tempo mexia com ela, não tinha como não mexer afinal era seu pai, e sempre havia sido ótimo nisso, até o fático dia da briga. Brigava com sua mente por fazê-la lembrar dos momentos felizes em que ele esteve presente, queria esquecer, queria esconder sua existência. Mas não conseguia, não totalmente, e se martirizava por isso. Deveria odiá-lo, certo? Deveria sentir nojo e repulsa por ele, mas só consegui ressentir. Ressentir por ele ter priorizado seu preconceito ao invés de sua filha; por ele ter ficado calado durante dez dias até finalmente contar sua participação; ressentir por ele ter sido um pai exemplar até então, o que bagunçava sua cabeça.

Second Chance - Girafa Donde viven las historias. Descúbrelo ahora