6. Feliz aniversário, Felina

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Naquela manhã em que Adora saiu para correr, Felina aproveitou sua ausência para pegar alguns de seus pertences no quarto. Também passou na cozinha do castelo para abastecer a mochila com comida suficiente para os dois dias em que ficaria na inabitável Zona do Medo. Tinha o essencial. Alimento, algumas ferramentas, papel e caneta. Esse último par era para deixar um bilhete para caso não voltasse, que explicaria sua missão, sua tentativa de resgate e sua súplica para que entendessem o porquê de estar fazendo aquilo. Súplica à Adora para que seguisse em frente e não ficasse presa a ela. Esse bilhete, contudo, Felina não esperava que fosse lido necessariamente. Ela voltaria. Queria voltar.

Quando saiu, por uma das partes mais discretas do castelo, ouviu um miado familiar: Melog estava atrás dela, com um olhar apreensivo.

– Ei, amigo – ela ajoelhou-se para ficar na altura dele e o abraçou – Eu preciso que você fique para ninguém desconfiar que eu não estou aqui. Se for comigo, vai ser muito óbvio e vão notar muito mais rápido o meu sumiço. Contigo aqui, eu vou ter tempo suficiente de ir e voltar em poucos dias.

Mesmo com o olhar apreensivo permanente em sua expressão, Melog acenou para concordar com sua amiga.

Ela sorriu para ele. Melog era realmente um companheiro fiel. Fiel, inclusive, na expressão dos sentimentos dela mesma. O gato estava aflito não só pela partida, mas também porque sentia que esse era o sentimento que estava fazendo Felina quase hesitar. Quase, só quase. Depois de respirar fundo, se levantou e disse mais baixo:

– Se...Se eu não voltar, cuida da Adora para mim. E de todos. Por favor. E não esquece do nosso combinado: se eu não aparecer em 4 dias, busque a minha mochila na Zona do Medo e entregue para ela.

O gato fez um som em protesto, como se tivesse dizendo para ela não pensar nessa possibilidade. Era impossível. Ele sentia, tanto quanto ela, que esse medo de nunca mais voltar começava a avivar na ex-comandante da Horda. Só que não era hora de desistir. Tinha tudo o que precisava em suas mãos para pelos menos tentar.

– Sabe, Melog, eu sei que parece uma coisa estúpida. É que eu... Só quero uma última coisa certa que pode reparar muitas dores que eu causei para a Cintilante, para o Micah, para Adora... Eu tenho medo de não voltar, mas tenho mais medo ainda de passar a minha vida toda sentindo o que eu sinto.

Talvez o discurso tenha sido mais para ela do que para Melog. Essa vulnerabilidade era difícil de aceitar, estava trabalhando nisso. Mais uma vez, respirou fundo, virou-se de costas e iniciou sua partida rumo à Zona do Medo.

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De todos os possíveis lugares para a festa surpresa, Adora, Arqueiro e Cintilante optaram pelo jardim principal de Lua Clara, o mesmo onde foi a coroação da atual rainha. Também, o lugar em que Felina mais passava o tempo durante noites estreladas. O dia havia chegado. Estavam apostando em uma noite agradável para que pudessem fazer tudo a céu aberto. Arqueiro com seus dotes manuais ficou com toda a parte de ornamentação. Adora insistiu para que a fizesse bem discreta e simples, para não assustar sua namorada com a sensação de que seria um grande evento. Cintilante implorou para que ficasse responsável pelas comidas. Sabia que o bolo de sorvete, sobre qual comentaram ainda na nave do Mestre da Horda, era uma curiosidade de Felina, e a faria provar hoje. E não seria um bolo de sorvete qualquer, seria o bolo de sorvete de sua primeira festa de aniversário. A rainha estava ansiosa para ver a reação da amiga que salvara sua vida.

Além de pequenos preparativos com Arqueiro, Adora também estava encarregada de não deixar que Felina aparecesse naquele jardim, pelo menos até a hora do evento. Essa função se mostrara a mais fácil de todas, já que não viu Felina por esses dois dias. Em alguns momentos sua intuição gritava que algo não estava certo, que precisava acha-la, nem que fosse só para observá-la de longe. Mas, lembrou-se do quão perturbada a havia deixado quando tentou falar sobre algo que ela não estava pronta. É, ela só está me evitando. Até porque, não iria para um outro lugar sem levar Melog, a princesa pensou. No mesmo minuto, avistou de longe o gato alienígena passeando no corredor por uma das grandes janelas do castelo. É. Ela está por perto e hoje isso tudo vai ser resolvido. Era tudo o que mais queria.

A Última Redenção (Catradora)जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें