CAPÍTULO 20 - Pré-apocalíptico

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Felipe.

Pelo jeito eu ainda tinha alguns círculos do Inferno de Dante para percorrer antes de finalmente chegar no Paraíso.

Isto é, depois que a Marina trocou a gráfica da VixSao impressa, eles não estavam mais acertando a saturação correta da cor da pele das pessoas, então todas as pessoas fotografadas pareciam ter ido ao mesmo estúdio de bronzeamento artificial que o Donald Trump — o que, vamos combinar, não era uma boa ideia.

Eu tive uma discussão árdua com a Camila sobre ela querer usar o meu recente término-não-término com a Marina para uma coluna intitulada "Amizade pós-beijo: mito ou realidade" e ela queria realizar uma entrevista comigo, simplesmente porque eu era uma pessoa decente e as garotas que me beijavam queriam continuar sendo minhas amigas. Até agora eu não sabia dizer se isso era algo bom ou ruim.

Ulisses queria fazer uma matéria sobre Biotônico Fontoura e se ele realmente aumentava o apetite das pessoas, porém, pelo jeito, no rapaz aquilo teve um revertério e ele passou a manhã inteira dentro do banheiro da VixSao. Desta vez não havia pastel de frango que ele pudesse inventar que fizesse com que as pessoas acreditassem nele.

Dos meus repórteres mais experientes, apenas o Vitório estava tranquilo, terminando uma matéria digna de concorrer ao prêmio FIPP World Media Congress. Quando me contaram que agora nós teríamos um repórter de furos na VixSão — uma coluna que não existia na No Pique — eu fui cético e ouso dizer que contra, porém a G.G. foi firme em relação às funções de Vitório Gava e eu dei o braço a torcer. Ainda bem que eu dei o braço a torcer. Ele me entregou uma reportagem sobre o desvio de dinheiro de uma super conhecida ONG de ajuda aos animais abandonados e eu até ofereci a ele um pacote de pastilhas de menta.

Depois de revisar todas as colunas pela trigésima vez, mudarmos mais uma vez o layout da página sete — para o desespero do André — e conseguirmos conectar todas as nossas matérias como se fossem complementares, eu finalmente mandei o e-mail para G.G. e esperei.

Claro, todos nós sabíamos que ela estava na sala com Rui Casagrande depois da pequena e direta troca de farpas na reunião de hoje de manhã — a última vez que ela havia usado seu tom de voz de Miranda Priestly, do Diabo Veste Prada, foi quando anunciou as demissões do ano passado para dar um fôlego a mais para a No Pique. Daquela vez, perdemos um quarto do nosso quadro de funcionários e todos nós sentimos que a corda ao redor do nosso pescoço estava apertando.

No entanto, todos nós acreditamos que a fusão seria a nossa salvação quando realmente as projeções mostraram que nossa aceitação com o público havia melhorado e que havíamos ampliado o nosso público-alvo. Havia uma luz no fim do túnel, ela nos fez acreditar.

Ou seja, neste exato momento, a maioria das pessoas já estavam preparando suas pás para terminar de enterrar a revista.

Eu não cheguei a conhecer a tal da Paulinha que enfiou a gente nessa enrascada, mas na quarta-série tinha uma garota na minha turma chamada Paula Pimentel que sempre dava mais comida do que deveria para o peixinho dourado da turma. Para quem já teve um peixinho dourado, sabe exatamente o que aconteceu com ele, porém se você nunca teve, então deixa eu te explicar: peixinhos dourados não sentem exatamente fome, eles apenas comem. E comem. E comem. Então se você der 10 gramas ou 1 quilo de comida para ele, ele vai comer tudo de qualquer maneira até morrer.

O funeral do Sebastião foi triste, mas de acordo com a nossa professora, ele iria para o Mundo dos Peixinhos Dourados Livres — descobri alguns anos depois que ela apenas deu descarga nele.

Bem, o que eu queria dizer com tudo isso é que depois da Paula Pimentel ter matado um peixinho dourado eu sempre tive um pé atrás com Paulas — e depois dessa, eu estava certo em não acreditar nelas.

Amor em Revisão (Concluído).Where stories live. Discover now