Sinceramente

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Hermione estava sentada em sua cama que, no momento, parecia mais com uma mesa repleta de livros e pergaminhos com anotações. A concentração da morena era notável a qualquer um que adentrasse o cômodo naquele momento. Ela havia acabado de apoiar o queixo na mão em punho, enquanto seu rosto formava uma expressão de dúvida, quando ouviu bicadas em sua janela.

Assim que se deparou com o barulho, seu coração se encheu de expectativa. Já havia enviado a carta a Pansy há três dias e tinha perdido as esperanças de ter uma resposta. Mas será que a garota havia decidido lhe responder?

Ela levantou de uma vez e abriu a janela. Pegou a carta que a coruja trouxe consigo, já com um sorriso de felicidade incontida ao constatar que aquela era a coruja de Pansy Parkinson.

- Espera um pouquinho...

Ela disse à coruja e, em seguida, foi até a cômoda que estava no outro lado do ambiente, retirando da primeira gaveta alguns petiscos e um lenço que continha uma estampa que remetia à Grifinória. Voltou ao animal, lhe dando os petiscos, acariciando suas plumas e, num gesto gentil, amarrando o lenço de maneira que não o incomodasse.

- Leva pra Pansy... Ela vai achar ridículo, mas vai ser um sinal de que você me encontrou direitinho... - Ainda sorrindo, ela ficou observando o animal voar para longe dali.

Assim que perdeu a coruja de vista, Hermione se jogou em sua cama para ler a carta. Riu ao constatar que havia sido escrita à caneta, numa folha comum. Abriu a folha com cuidado e sentindo o coração ansioso. A cada palavra que lia, o sorriso em seu rosto tomava mais liberdade para continuar por ali, mesmo quando ela balançava a cabeça negativamente e cerrava os olhos.

De repente, estudar para a prova que teria no dia seguinte já não parecia mais tão atrativo, então ela retirou tudo de cima da cama e se permitiu deitar ali lendo, relendo e lendo mais tantas outras vezes as palavras de Pansy, até que pegasse no sono.

Na manhã seguinte, Hermione acordou e partiu para a sua rotina diária, porém algo dentro dela estava feliz. A carta permanecia consigo onde quer que ela ia e, por vezes, ela a pegava para ler novamente as palavras. Não conseguiu parar para escrever no dia seguinte, nem mesmo no posterior. Talvez pela correria da rotina, onde o estágio pela manhã somado à semana de provas, tomava conta do seu tempo. Ou, talvez, por não saber como organizar tudo o que estava sentindo em palavras.

Foi apenas no sábado, após o tomar seu café da manhã com Harry e Rony - e ambos terem saído para assistir a um jogo de quadribol - que ela finalmente se permitiu sentar e começar a escrever. O coração estava acelerado e ela não entendia o porquê daquela reação. Mas, por ora, decidiu ignorar e apenas prosseguir.

Londres, 22 de janeiro de 2000.

Srta. Parkinson,

Eu sei que você odeia que eu te chame assim, mas não resisti. Peço perdão por ter demorado em fazer essa resposta, apesar de você não ter demonstrado muita convicção de que realmente esperava por ela. Mas eu sei que você espera. A única diferença entre nossa ansiedade e expectativa, é que você, ao contrário de mim, consegue se conter.

Essa semana foi bastante corrida. Foi uma semana de provas e, acho que não te contei (e também não sei se os jornais já te contaram isso antes de mim), mas eu faço estágio no Ministério da Magia, no Departamento de Cooperação Internacional em Magia. Foi realmente difícil parar para te escrever.

Parabéns, Hermione, você está falando demais, sem parar, outra vez. Uma coisa me deixou curiosa: por que você me escreveu com caneta e usou um papel comum? O que a Srta. Parkinson anda fazendo de sua vida que a permite utilizar objetos trouxas?

Eu confesso que li sua carta tantas vezes que já sou quase capaz de recitá-la. Sinceramente, talvez você ache isso muito idiota, mas eu queria te contar, já que não poderia contar isso para mais ninguém.

Estou feliz por você ter dito que também sente a minha falta e que também considerava que aquela fosse a nossa árvore. Isso me conforta. Saber que não é coisa da minha cabeça tudo o que vivemos naquele último ano, sabe? Não teria sido nem de longe tão bom como foi se não tivesse sido ao seu lado. Ainda lembro da sua cara de irritada quando a professora Minerva nos designou para atuarmos em dupla na monitoria. Tenho minhas dúvidas se não te marquei infinitamente mais do que você me marcou...

Ai, Pansy, eu não acredito que aquela noite ficou na sua memória assim. Eu juro que se soubesse disso teria te acordado, ou ao menos tentado te contar o que aconteceu, depois. Apesar que, pessoalmente, esse assunto seria um tanto quanto... constrangedor? Eu não sabia como agir depois daquela noite. E, quando acordei, você estava dormindo feito um anjinho, sabe? Seria um atentado aos deuses te acordar.

Então, eu simplesmente levantei e fui para a aula. A minha intenção era ter desviado para a cozinha e levado algo para você comer quando acordasse, mas a minha covardia (ou seria minha vergonha?) simplesmente não permitiu que eu fizesse isso...

Aquela noite foi muito especial para mim. Foi indescritível vivenciar um momento tão verdadeiro e onde fomos apenas nós mesmas, onde nossas palavras eram sinceras e espontâneas. Acho que ali foi quando eu percebi de verdade todo o carinho que eu sentia por você e como eu não saberia viver sem a sua amizade.

É, Pansy, eu acertei o pulo quando te encontrei. Mas não é pra se gabar demais, porque eu tenho absoluta certeza que você também acertou o pulo quando me encontrou.

Queria saber se você gostou do lencinho da Grifinória que eu mandei pela sua coruja. Ele é um dos meus favoritos e eu quis te dar. Cuida bem dele. Eu daria tudo para te ver usando. Seria divertido.

Olha, eu acho que já falei demais outra vez. Eu vou aguardar a sua resposta sim, como se a minha vida dependesse disso. E eu espero que você me responda o quanto antes. Me comunicar com você tem sido a melhor parte da minha vida.

Espero que você esteja bem. E que continue bem.

Com carinho,

Hermione.

PS: Estou tão orgulhosa por você não ter um elfo que eu seria capaz de morder sua bochecha.

PPS: Engraçado que, ao dizer isso, eu consigo rir imaginando a sua expressão que significaria "Hermione, sua estranha. Vai fazer aulas de demonstração de afeto".

Ao finalizar a carta, a morena sorriu e pensou que talvez tenha falado demais. Ao mesmo tempo, no entanto, ela sabia que poderia falar tudo o que quisesse para Pansy. Com Pansy, ela podia ser ela, em sua mais profunda e sincera essência.

Novamente, ela enrolou o pergaminho com excessivo cuidado e o amarrou em sua coruja, para não correr o risco de amassá-lo, caso fosse levado nas patas ou no bico do animal.

- Você sabe onde encontrá-la, não é? - ela perguntou, enquanto afagava o bico do animal. - Cuidado para não fazer muito barulho a ponto de ser incômodo.

O animal parou por alguns segundos, como se entendesse e processasse o que estava sendo dito. Em seguida, alçou voo e partiu pela janela aberta. Hermione sentiu um vazio e levou a mão ao bolso, retirando dali, outra vez, o papel mais apreciado por seus olhos nos últimos dias.

My best half - PansMione - ConcluídaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora