Mesmo sem estar

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O dia já havia transcorrido de forma monótona e chata para a menina de cabelos negros, estava claro para qualquer pessoa, que conhecesse o mínimo sobre a jovem, que algo estava perturbando sua mente, e, dentre todas as pessoas, Blaise era a pessoa que mais conhecia a menina. Pansy não conseguia entender o que havia acontecido consigo no momento em que resolveu escrever aquelas palavras ali, sentia angústia e medo, apenas não sabia o motivo exato para isso. O andar pelo apartamento já estava tão repetitivo que era capaz de criar um burraco no chão.

Sentou-se ao lado do amigo no sofá, tentava, inutilmente, acalmar os pensamentos e tentar pensar com clareza, mas simplesmente não se sentia capaz disso. Sentia-se livre por enfim confessar o que sentia e trazia por anos, mas sentia-se temerosa pela reação da morena, ela sabia que não seria fácil. “E se perdesse sua melhor amiga? E se ela não quisesse mais falar com ela? E se tudo não passasse de uma brincadeira de alguém?”, a verdade era que existiam muitos “E se…” em sua mente e nenhum parecia agradar a menina.

— Quer colocar pra fora? - a voz do moreno entrou pelos ouvidos de Pansy e a menina se sentiu despertar de um outro mundo ao ouví-la. Blaise não era bobo, já tinha reparado no comportamento da melhor amiga. Na forma como sorria mais nos últimos dias, como se mostrava sempre ansiosa por algo e corria feito louca, sobretudo após a carta de Draco, que claramente não era de quem ela esperava. E tinha de haver um motivo plausível para sua blusa branca ter adquirido a cor vermelha e dourada.

O silêncio ainda perdurou por alguns minutos, ela analisava a proposta do amigo. Eram melhores amigos desde sempre, ele havia estendido a mão para ela em um momento em que ninguém mais acreditava nela, o menino era mais que um amigo, ele era sua família. Sua única família. Havia visto o pior e o melhor dela e ainda estava ali. Sentiu o menino fazer carinho em seus cabelos e ela fechou os olhos para apreciar aquilo. 

— Eu gosto de alguém… - a voz era baixa, quase como se quisesse ganhar confiança ainda, mas fazia de tudo para mantê-la firme. — A gente combina tanto! É como quando você simplesmente acha alguém que finalmente pode te entender e você sente que é aquela pessoa!

— Ei, espera! Eu não sou essa pessoa? Como você ousa? - ele falou um pouco mais exagerado, o que arrancou um sorriso da menina, então para ele já estava valendo. A menina sentou e olhou para o menino, negando com a cabeça e se afastando um pouco. Blaise sorriu e puxou a menina para perto, colocando as pernas dela sobre as suas e continuou olhando para a menina.

— Você é um idiota. - afirmou enquanto negava, mas ainda sorria. — É sério. Eu simplesmente achei que estávamos caminhando, entende? 

— Calma, pequeno gafanhoto. - o menino diz e se levanta, aproximando-se da amiga e ajoelhando na sua frente. — Você mandou hoje, não foi? - viu a menina concordar com a cabeça e ele sorriu fraco. — Espera um pouco, talvez essa pessoa esteja ocupada? 

— Certo… eu prometo tentar. - o suspiro seguiu aquela sentença. Pansy simplesmente tinha surtado por algumas horas de demora, ela não era assim, essa não era a pessoa que todos eram acostumados. 

— Você sabe onde estou, caso precise de mim. - afirmou Blaise e curvou o corpo sobre o da melhor amiga, deixando um beijo na testa dela e se dirigindo para a cozinha. Pansy observou o momento em que o amigo fez uma caneca de achocolatado e seguiu para o quarto.

Naquela noite Pansy não conseguiu dormir direito. Sentia-se mil vezes mais cansada na manhã seguinte, pensava nas palavras que havia colocado no final da carta, talvez o problema tenha sido perceber e colocar o sentimento para fora. Ela foi a primeira a dar o passo e, quando se tratava de Hermione, podia ser um perigo. 

Blaise viu a irmã decair no decorrer daquela semana. Viu a alegria que irradiava dela simplesmente sumir. A semana foi corrida para os dois, quase não houve um tempo para que conversassem de forma digna, da maneira correta e, enquanto Pansy agradecia por poder trabalhar até a exaustão, Blaise se sentia impotente ao ver a menina se acabar daquela maneira. A sexta já chegava ao seu final e, sobre o terraço e observando as estrelas acima dele, a solidão lhe pegou. Pansy não estava ali e ela nunca perdia uma sexta-feira com ele.

Ao ouvir o barulho da porta e a voz cansada de Pansy, o menino apenas colocou uma caneta e papel na frente dela. Havia se passado uma semana, não era possível que não tivesse tirado um momento de descanso ali no meio. Ele simplesmente deixou a menina ali e seguiu seu caminho, ela sabia o que fazer.

Aquela carta também não obteve resposta e o tempo apenas transcorria cada vez mais, cada vez mais impiedoso, cada vez mais rápido. Blaise viu a amiga voltar a ser quem era antes de tudo começar. Pansy, no decorrer de dois meses, voltou a ser a pessoa sozinha e fechada, que não confia em alguém além de Blaise e ele se sentia destruído com isso. Observou a menina escrever assiduamente durante um mês inteiro e, após enviar todas as cartas, todos os dias, ela passou a escrever para ela. Ela escrevia e guardava em uma caixa.

— Estou saindo. Não me espera acordado, anjo. - a voz de Pansy, um pouco menos animada do que antes, sentenciou e ele logo sentiu os lábios da menina em seu rosto. Era isso que ela fazia. Pansy havia chorado por um mês, toda vez que enviava uma carta e não recebia uma resposta, o trabalho quase foi por água abaixo quando se descuidou de prazos e coisas próprias da empresa, mas agradeceu por ela não ter regredido tanto em si mesma.

— É a Hermione, não é? - ele ouviu a própria voz e se surpreendeu com aquilo, mas ele já sabia, tinha observado a amiga no último ano, Hermione foi a única pessoa que conseguiu algo dela.

Pansy sentiu o corpo travar com a simples menção do nome da morena. A dona de seus pensamentos. Ainda se mantinha de costas para ele, como ele poderia saber? Ela nunca havia citado nome, nem mesmo dado indício de ser a morena, então como? Sentiu o corpo do amigo próximo ao seu, ela não queria fazer isso, não agora. Ela já havia derramado lágrimas pela menina. Conseguia vê-la em todos os lugares, conseguia ouví-la em músicas que tocavam em locais aleatórios, ela sentia o perfume da menina onde nem mesmo poderia estar.

— Não… por favor, não.

Blaise assentiu e beijou o rosto da amiga, viu o momento que ela saiu enxugando uma lágrima teimosa e colocando outro sorriso no rosto. Essa Pansy fazia mal para ela mesma e Blaise não era o maior fã dessa versão dela, mas aceitava e se mantinha ali para ela. Queria ela bem e, pensando nisso, sentou-se novamente e pegou uma pena e um pergaminho. 

“Hermione Jean Granger, 

Não terei todas as formalidades de uma carta padrão, confesso que me é cansativo, porém falo de Londres. Talvez você esteja estranhando uma carta minha, o simples fato de falar com você pode lhe surpreender, mas seria um paraíso para Pansy. E é sobre ela mesmo que venho falar. 

Eu não sei do relacionamento de vocês. Não sei do que passaram. Tive partes de telespectador, vi a alegria nos olhos da minha menina novamente, vi a vontade de viver habitar ali e um sentimento puro tomar o lugar da tormenta que ela era. Eu acompanhei seus momentos e, hoje, acompanho a decaída dela. 

Sei que minha posição não é de pedir, mas deixo que você escolha. Eu gostaria de ter minha menina de volta e, perdida da forma como ela está, apenas você pode trazê-la de volta. Eu consigo ajudar, se desejar, mas peço que me informe. Responda essa carta se assim desejar. Aguardo ansiosamente sua resposta, mas peço que pense em você, olhe para você e consiga ver quem realmente é. 

Não tenha vergonha de si, não tenha medo de amar. O amor é lindo.

Atenciosamente,

Blaise.”

O menino suspirou, não acreditava que faria isso, mas apenas acariciou sua coruja e deu um petisco para ela, pediu que entregasse para Hermione e observou o animal partir após piar. Agora não teria mais volta.


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N/A: Tô passando aqui só pra avisar que estamos na reta final. Temos só mais um capítulo e um epílogo. Ah, e quero aproveitar para agradecer de novo o feedback de vocês. 💚❤️

My best half - PansMione - ConcluídaWhere stories live. Discover now