Capítulo 21

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"Que grande bagunça," diz Lindsay olhando para os destroços que uma vez foram uma escada. Ela dá alguns passos para frente e se abaixa para analisar os pedaços de corrimão e degraus quebrados. Seu longo cabelo loiro deslizando por suas costas.

"Você não viu nada ainda," responde Emily. Hoje, diferente de todos os outros dias, seu cabelo preto e liso está preso em um rabo-de-cavalo alto, e ela usa um vestido curto verde claro. É muito raro ver Emily mostrando suas pernas pálidas.

Depois do interrogatório de Bern, Logan o deixou sob os cuidados de Lando e decidiu vir para o casarão abandonado dar um jeito no exército. Baseado no que Bern disse, o exército é obra das pessoas que o estavam manipulando. Ele não soube nos dizer qual é o objetivo final, mas que todos seriam mandados para algum lugar no norte e que talvez em algum momento pudessem ser acordados. Por isso agora estamos aqui para impedir que eles saiam da casa.

"A pior parte está lá em cima," diz Emily. Ela olha para o topo da outra escadaria.

"O que poderia ser pior?" Lindsay pergunta, mas ninguém responde. Todos já estamos subindo a escadaria que permaneceu intacta, seguindo Logan e Jesse.

O primeiro quarto do corredor, o qual viemos hoje de madrugada e fizemos a garota humana de volta, está do jeito que foi deixado: porta aberta e luz acesa. Nós entramos nele.

Lindsay se apressa nas escadas e corre até nós. Ao se deparar com as filas de vampiros adormecidos, ela fica boquiaberta. "O que é isso?"

"Nem nós sabemos direito," responde Anna. Ela anda pelas fileiras de vampiros, olhando de um rosto para o outro com uma expressão de interrogação.

Logan passa por Emily e Lindsay e para na frente do quarto, analisando as filas. "Você acha que consegue fazer para todos?" Ele olha para Jesse, que vem logo atrás.

"Posso tentar," ele responde seguindo o olhar do amigo. "São realmente muitos mesmo."

Lindsay se aproxima dos dois, ainda olhando para os vampiros, e diz, "Então nós vamos simplesmente destransformá-los? E se eles souberem algo de importante? E se eles souberem o que tem no norte?"

"Não sabem," Jesse diz, e Lindsay olha para ele. "Abigail disse que a garota quando acordou não se lembrava de nada que tinha lhe acontecido."

"Mas Bernard lembra. E eu lembro!" ela protesta, um tom de irritação na voz.

"Você e ele estavam sob um efeito diferente." Jesse olha para ela, pacientemente, como se já estivesse acostumado a lidar com a teimosia dela. Ele é tão calmo que eu me surpreenderia se o visse irritado de verdade alguma vez na vida.

"Como você sabe?" Sua expressão se suaviza, e ela olha para ele realmente disposta a ouvir uma explicação.

"Já está decidido, Lindsay," Logan se intromete. "Vamos fazê-los tomar a cura e não incomodar mais."

Ela olha para o irmão. "Quem decidiu? Você?" Anda até parar diante dele, ficando na ponta dos pés para alcançar seu rosto. "Desde que quando você está no comando?"

Ele se inclina em direção a ela, tentando parecer ainda mais alto. "Eu-"

"Não temos tempo para brigas," Jesse interrompe, metendo-se entre eles e separando os dois. A rapidez com ele faz isso me faz perguntar se também está acostumado a mandar os irmãos calarem a boca. "Isso vai levar horas, e já deveríamos ter começado."

"Certo," diz Logan. Ele arruma a postura, mas ainda olhando feio para Lindsay, que retribui o olhar. "Você, Jesse, vai para casa fazer quanto da cura achar necessário. Nós pensaremos num jeito de nos livramos de todas essas pessoas."

"Como quiser," Jesse concorda. "Eu só vou fazer uma estimativa de quando será necessário." E tira o celular do bolso e começa a fazer sua contagem de vampiros.

Emily que está encarando o vampiro a sua frente, pergunta, para ninguém em particular, "E se tentarmos acordar um deles ainda vampiro?" Ela olha bem de perto o rosto do rapaz adormecido. "Talvez eles lembrem."

"Será que não é perigoso?" Anna pergunta ao lado dela, encarando o mesmo vampiro. Ela desvia o olhar para Logan. "Tentamos?"

Logan fica em silêncio pensando por um instante e então diz, "Tudo bem. Podemos tentar."

"Só sejam cuidadosos, por favor! Não quero mais problemas do que já temos," Jesse avisa, concentrado em sua contagem.

"Vocês têm alguma ideia de como fazer isso?" Emily pergunta.

Enquanto eles se preocupam em encontrar formas de despertar os vampiros, fico pensando em tudo o que aconteceu de madrugada. Ainda não sabemos como aqueles vampiros acordaram, nem para onde fugiram, e Bern não parece se lembrar de mais nada de relevante que possa nos ajudar em nossa busca.

Decido ir ao quarto no final do corredor e me retiro do cômodo. Passo os olhos pelo corredor, agora claro pela luz do dia, e percebo que a porta no final dele continua aberta e a luz também acesa. Olho uma última vez para trás, para Logan e Anna, que encaram o vampiro escolhido para ser acordado, e então avanço para fora em direção ao quarto no final do corredor.

Na claridade a casa parece menos assustadora, mas o corredor ainda maior do que no escuro. Ele é imenso e interminável. Enquanto caminho silenciosamente por ele, tenho tempo para pensar em Carter. Não entendo ainda por que justamente ele fora transformado e sido acordado. Por que precisariam de uma pessoa tão nova? Pensando melhor, ninguém do exército parece muito mais velho que eu. Teria isso algum motivo ou é mera coincidência?

Entro no quarto e me deparo com a mesma cena de hoje de madrugada: janela quebrada e vampiros faltando. Olho para o espaça vazio onde Carter estava prostrado sem deixar de me perguntar como ele acordou e simplesmente decidiu pular a janela.

Passando os olhos pelo cômodo vejo a mesma escrivaninha onde encontrei os Cristais. Noto que há algo faltando além da esfera. Todos os papéis e cadernos que cobriam o tampo da mesa hoje mais cedo simplesmente desapareceram. Vasculho por todo o quarto, mas não há nada que tenha ficado para trás.

Suspiro decepcionada e passo os olhos pelas fileiras de vampiros. Realmente, são todos muito novos. Ouso dizer que poucos deles têm mais de duas décadas de vida. Volto minha atenção para a janela quebrada. Uma brisa fria entrando pelo vidro destruído. Caminho até lá e olho para fora, só há visão do jardim mal cuidado: grama alta e folhas secas por todo lado. Mas alguma coisa ali chama a atenção. Há um pequeno brilho refletindo no gramado. Não há sol, então não deve ser um reflexo, mas sim algo de luz própria. Espremo os olhos tentando distinguir o objeto. Está longe demais e a única coisa de que tenho certeza é que não é vidro.

Afasto-me da janela e resolvo ir até lá embaixo inspecionar o objeto. Talvez possa ser uma pista que nos leve aos vampiros fugitivos, ou até mesmo àqueles que estão por trás de tudo isso. Saio do quarto e sigo pelo corredor.

Passando pela frente da porta do quarto onde os outros estão, pelo que vejo, parece que eles ainda não tiveram qualquer sucesso em acordar o vampiro. Por algum motivo, tenho a impressão de que não vamos conseguir. Mas não digo isso a eles, apenas passo pela porta e continuo meu caminho pelo corredor até a escadaria.

Pouco antes de chegar aos primeiros degraus, olho para baixo e me lembro dos acontecimentos da madrugada. Fora exatamente aqui que eu tinha destruído a esfera, no entanto, percebo algo de muito estranho: os cacos dela sumiram.

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Sinceramente eu não gosto deste capítulo, foi meio difícil de escrevê-lo, as palavras nunca soavam certas (ainda acho que não soam, na verdade). Mas ele explica algumas coisas, então tive de deixá-lo existir. Eu espero que os próximos capítulos pareçam melhores, esta segunda parte me deu um pouco mais de trabalho que a primeira, e seria legal se o resultado desse esforço fosse positivo.  

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