Capítulo 53

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Quando parece que o corredor em que estamos nunca vai terminar, ele se abre numa ampla sala. Sob a luz das velas é difícil de enxergar detalhes, mas a longa mesa de jantar no centro do cômodo é notável. As janelas estão todas cobertas por cortinas pesadas e vermelhas como as do quarto. A lareira numa das paredes da sala está acesa, tornando o ambiente bem mais quente do que o resto da fortaleza. Pelas paredes há alguma decoração, mas não consigo distinguir do que se trata.

Bernard segue em silêncio até a cabeceira da mesa. Ainda em pé, ele olha para mim e diz, "A sala de jantar."

Aproximo-me do lugar à esquerda dele da mesa, ainda acompanhada dos dois vampiros. Sobre a mesa não vejo nada além de um candelabro e um prato tampado, além disso também há uma taça com que aparentemente deve ser água e uma colher reluzente de prata. Nem um cheiro de comida.

Olho para Bernard, e ele apenas gesticula que eu me sente. Eu o faço. Fico olhando para o prato tapado a minha frente sem saber como prosseguir. Percebo que sinto fome, e minha mente já começa a criar expectativas para o que pode haver debaixo da tampa. Começo a salivar.

Bernard sorri e tira a tampa prateada de sobre o prato, e a revelação é decepcionante. No prato branco e redondo se espalha uma pasta esbranquiçada muito semelhante à purê de batata.

"O que é isso?" pergunto ainda olhando para a suposta refeição. Não queria deixá-lo perceber que me afeta, mas é impossível esconder o tom de decepção em minha voz.

"Uma pasta nutritiva," ele responde simplesmente. "Vai te manter viva e saudável enquanto precisarmos de você."

"Isso é um tipo de ração para humanos?" Tiro os olhos da pasta para encará-lo. "Eu sou uma mascote?"

Ele fica sério. "É tudo o que temos... Agora alimente-se, não posso correr o risco de você adoecer e morrer."

Franzo o cenho. "Você acha que se morre tão fácil assim?"

"Coma." É tudo o que ele diz.

Obedecendo-o, pego a colher ao lado do prato e encaro mais uma vez a pasta. Não cheira a nada, e pergunto-me se o gosto é ao menos suportável. Dou uma olhada rápida em Bernard, ele me encara como que em expectativa. Vendo que não tenho escolha, pego um pouco e levo à boca.

O gosto não é dos melhores, sinto-me como mastigando plástico. A textura pastosa e gosmenta também não melhora as coisas. Depois de uma eternidade tentando engolir sem vomitar, digo, "Não poderia ser pior."

"Daremos um jeito nisso," ele diz. "Mas por hoje espero que você se alimente disso. Como eu disse, você não pode adoecer."

Penso em contrariar, mas então sinto atrás de mim. Carter e o outro garoto se aproximam da minha cadeira, cada um em um lado, como uma ameaça. Engulo em seco e tento mais uma colherada. A nova tentativa é pior que a anterior.

"Por que seus soldados são tão jovens?" pergunto.

Bernard pisca com uma expressão de surpresa. "Soldados?"

"É." Olho de Carter para o outro garoto. "Porque não é isso que você está construindo: um exército?"

Ele arruma a postura. "Eu não via as coisas assim... Mas o fato de eles serem novos é porque é mais fácil manipular cérebros em desenvolvimento. Já fiz tentativas com adultos formados, no entanto, os resultados foram menos satisfatórios. Exige muito mais poder." Adultos formados. O pai de Logan, Neal, fez parte dessas experiências dele?

"E por que-"

"Vai ficar me enchendo de perguntas?" ele pergunta, ríspido.

"Eu só queria entender onde acabei." Não era o plano me deixar afetar por ele, mas minha voz soa ofendida. "Supostamente essas coisas estão no meu sangue, e eu não sei nada. Eu tenho tantas dúvidas: por que nunca percebi que você era um vampiro? O que você ganha com tudo isso? Ou melhor, por que você está fazendo isso?"

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