AS APARÊNCIAS ENGANAM

Capítulo 63 - DÚVIDA E INSEGURANÇA

Acordar tarde quase havia se tornado um hábito para Griselda, depois de conviver tantos dias com Tereza Cristina, seguindo a rotina dela de sono, somados ao cansaço da viagem, dias anteriores bastante exaustivos e somente se levantou porque seu neto a chamara insistentemente.

QUINZINHO -Vovó levanta, a senhora já ficou dormindo muito tempo! – Pedia, puxando-a pela mão!

GRISELDA – Estou vendo que se não levantar, não me dará sossego não é mesmo meu miúdo? – disse sorrindo, com a voz embargada de sono.

QUINZINHO -Quero te mostrar o jogo novo que o tio Antenor e a tia Patty me deram, quando a gente foi ao shopping.

Griselda achou fofa e carinhosa a forma como o garoto se referiu à namorada do filho, como se isso simbolizasse o estreitamento entre as duas famílias e essa constatação a fez pensar imediatamente em Tereza Cristina e em como estaria com sua família e o marido, e pensar em René dessa forma lhe trouxe uma certa angústia, que ela tratou logo de dissipar, se entretendo no jogo de seu neto.

Jogaram por poucos minutos, logo foram interrompidos por Quinzé que os chamou para almoçar e avisar ao filho que iria para a escola e foi somente nesse momento que a avó se atentou o quanto havia dormido.

Ela pediu licença aos dois para tomar um banho antes e almoçar e que fazia questão de levar Quinzinho ao colégio e que depois faria uma visita para suas amigas, Celeste e Dagmar que certamente estavam trabalhando a todo o vapor no restaurante.

Aproveitando a ausência dos dois em seu quarto, pegou o celular para mandar mensagem para Tereza Cristina e visualizou mensagens dela, dizendo que não se cabia de felicidade em estar com seus filhos, que os dois dormiram com ela na cama e que ficaram muito felizes em saber sobre o bebê, assim como René ficou muito contente com a notícia. Confessou também que se sentia estranha na presença dele e naquela mansão, com a sensação de que não era mais sua casa e que tão logo resolvesse sua situação com a tia gostaria de morar em um outro lugar para recomeçar sua vida, finalizando que sentia saudade e vários emojis de beijinhos e corações.

Apesar do sorriso bobo causado pela declaração de Terê, sabia que não significava nem de longe que ficariam juntas e isso logo a entristeceu e no afã de não se deixar abater se pôs a cantar durante o banho e aquilo ajudou a aliviar seu coração.

X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

CELESTE -...comadre, estou admirada com a coragem da Tereza Cristina em voltar e enfrentar a praga daquela megera.

DAGMAR – Eu fico tão feliz pelos filhos, principalmente pelo Júnior dela ter voltado. O pobrezinho foi o que mais sofreu, todos os dias chorando escondido, as notas no colégio despencando. Os dias em que ia para minha casa, me rodeava feito um gatinho! – Confessou penalizada.

GRISELDA -Confesso que até eu fiquei admirada ao ouvi-la falar com tanta determinação. Olhe, quase estou ficando com pena da tia Iris! – ironizou – apesar de ela ter voltado, precisamos manter total sigilo sobre sua volta. Quanto tempo mais conseguirmos esconder essa notícia daquela peste, melhor, enquanto isso vamos reunindo todas as provas possíveis para colocar essa mulher atrás das grades.

VILMA – Tenho um amigo meu, detetive aposentado que pode nos ajudar e muito a investigar a vida da Iris. Acredito que a partir do que a Celeste e o Crô encontraram, conseguiremos puxar todo o resto do novelo, e por falar em Crodoaldo, já não era para ele estar aqui? – Questionou.

CRÔ -Não precisam se desesperar, já estou aqui em carne, osso, beleza e elegância para abrilhantar essa reunião. Digam-me quais são os planos do dia? Sou todinha ouvidos. Estou arrepiada e emocionada em fazer parte de um esquadrão de super-heroínas.

GRISELDA – Não delira Crodoaldo, aqui ninguém está de brincadeira! – ralhou a mulher, dando um tapa em seu ombro.

CRÔ – Aiiiinnn...sua bruta! E quem disse que estou brincando? Estou aqui em missão para salvar minha rainha e minha "BFF" das garras da "Demoníris". – E sem conseguir resistir aos seus bordões escalafobéticos, todos começaram a rir.

GRISELDA -Gente, vamos falar sério. Crodoaldo, sei que não preciso pedir, mas é importante que esteja vigilante, atento a qualquer movimento suspeito. Vilma você conversou com seus amigos para serem os seguranças de Patrícia e René Jr.? Eles deverão ficar à paisana, para não despertarem a atenção, já que ainda não sabemos se a Demoniris tem outros cúmplices.

VILMA – Oxe, o Montanha e o Rock estão prontos para começar, aliás já começaram. O Rock a essa hora está na porta do colégio do René Jr, pois além dele precisamos proteger o Leonardo e Carolzinha estão sempre com garoto e não podemos deixar as nossas crianças correrem risco.

DAGMAR -O meu Leandro também está atento, todo preocupado com o irmão e se diz preparado para dar uns cascudos em quem precisar e como está querendo uma graninha extra para participar de um campeonato nos Estados Unidos, se candidatou a nova vaga de segurança do Marapendi Dreams.

CRÔ -Se o bofe...quero dizer, o seu filho precisar de recomendações, as darei com todo o prazer. – Derreteu-se todo. - Se eu falar com o seu René, tenho certeza absoluta de que ele intervirá pelo seu deuso-filho junto ao chefe dos seguranças e a indicação de um chef tão renovado, será levado muito em conta.

Juntos, o "squad" combinou cada passo do que deveriam fazer, todos tão empenhados em ajudar Tereza Cristina, tomando a causa dela para si, voltando depois, cada qual para sua rotina.

Griselda acompanhou Celeste até sua casa. Precisava conversar com a amiga e comadre, sobre o seu drama pessoal e sua paixão por Tereza.

CELESTE -Comadre, estou percebendo o quanto está agoniada mulher e sei exatamente o motivo dessa tua tristeza. Antes de você falar quero que saiba que te amo e que vou te apoiar sempre minha amiga. Sei que está apaixonada pela Tereza Cristina, vi seus olhos brilharem como nunca, nem mesmo pelo traste do Pereirinha quando olhava para ela, com um sorriso fácil, toda carinhosa de um jeito que não é com outras pessoas.

GRISELDA – Sua ingrata! Tá jogando na minha cara que não sou carinhosa contigo? – fingiu indignação.

CELESTE – Não se faça de besta para desconversar, pois entendeu muito bem o que eu disse. Foram carinhos de mulher apaixonada, de quem se abriu para o novo, de quem foi flechada pelo cupido e fico tão feliz por isso!

GRISELDA – Jura que não sente vergonha de mim por ter me apaixonado por uma mulher? – Perguntou, se esforçando para conter a emoção.

CELESTE – Pelo contrário, sinto orgulho. Griselda há quantos anos esse coração estava vazio e mesmo por todos os momentos ruins que passaram, pelos atritos, somente uma pessoa como ela para preencher esse espaço. Sei que são completamente diferentes, mas vejo tanto em comum. O mesmo gênio quase indomável, a mesma teimosia, entre tantos outros que irão descobrir.

GRISELDA – Descobrir como minha amiga, se nem sei se ela irá ficar comigo... e conto em detalhes tudo o que aconteceu entre as duas – O problema é que agora ela espera um filho do René. Um homem completamente apaixonado, os filhos que sofreram enlutados e agora tem a mãe de volta, uma família perfeita como sempre quis ostentar. – Desabafou num fôlego só.

CELESTE – Griselda, será que é realmente isso que ela quer? Depois de tudo o que me contou, está mais do que na cara de que a Tereza também está apaixonada e naturalmente confusa e com uma bomba gigante para resolver, só que tenho certeza de que assim que a tal Demoniris for presa é para os teus braços que ela irá correr.

GRISELDA -Esse é o meu sonho, só que não posso criar expectativas. Bem ou mal é com ele que ela está agora, talvez dividindo a mesma cama. Não se esqueça que a senhora Velmont me odiava por ter um ciúme doentio do marido e não se apaga uma pessoa que se ama tanto, de nossa vida de uma hora para outra.

CELESTE – Como se todo aquele ciúme fosse sinônimo de amor. Depois dessa transformação dela, fica fácil concluir que o que sentia antes era posse, por ser uma mulher totalmente controladora, uma paixão doentia, muito longe de ser amor? Ela será capaz de superar a mágoa, de perdoar o marido por ele não a ter escutado e protegido quando mais precisou?