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Vou ajeitando meu vestido com as mãos enquanto caminho pelo corredor, Ray está logo atrás de mim, estamos atrasados para o jantar. Assim que paramos em frente às portas, os dois guardas as abrem. A grande mesa está posta, frutas e carnes estão em bandejas douradas, meu pai está sentado na ponta, como sempre, me sento à sua direita e meu irmão à sua esquerda. Ray começa a se servir, meu pai não se alimenta com nada mais que sangue humano esta noite, estou sem apetite então não me sirvo, só lhes faço companhia. Os olhos de meu pai me observam, ele sabe que visitei a prisão e quer detalhes.

— Então. — ele começa a falar e deposita sua taça na mesa de mármore negro. — Como foi o seu dia, querida? — Ray para de comer e observa nós dois.

— Bem, fui ajudar o prisioneiro como eu tinha lhe informado. — sorrio de lado e ele balança a cabeça, meu irmão dá de ombros e volta a comer. — Também matei os três guardas que estavam tomando conta de Zerek. — meu pai suspira enquanto meu irmão engasga com a comida tentando segurar o riso.

— Eles eram ótimos guardas, Áurea. — brada meu pai voltando a beber a sua dose de sangue. Claro que eram. — Qual a motivação para tal coisa?

— Eles estavam torturando Zerek, tiraram um de seus olhos. — um rosnado me escapa enquanto bato o punho na mesa fazendo as taças com sangue caírem. Meu irmão se afasta silenciosamente da mesa com a cadeira para que não caia sangue em suas roupas. Meu pai parece mais intrigado com a minha reação do que qualquer acontecimento ao seu redor.

— Qual seu verdadeiro interesse neste homem, Áurea? — fico confusa com a sua pergunta, então meu irmão nos chama atenção quando pigarreia.

— Eu não julgo que ela tenha algum tipo de interesse nele, meu pai. Ainda. — Ray sorri maliciosamente. — Entretanto, tenho que concordar com ela. Tirar os olhos de alguém? Mesmo sendo um criminoso. É doentio até para nossa espécie. — ele balança a cabeça e quando meu pai vira para mim, Ray pisca em minha direção. Sorrio agradecida e volto minha atenção para meu pai.

— Está bem, quem ficou responsável pela segurança da cela dele?

— Nicola, foi o guarda que me acompanhou até lá. — Nicola foi muito gentil a todo momento comigo e também com Zerek, por isso lhe depositei confiança.

No dia seguinte estou caminhando novamente pelos corredores dos prisioneiros, na cesta trouxe novos panos para conferir seus ferimentos, carnes e sangue. Desta vez ninguém precisou me acompanhar, quando chego em meu destino, avisto Nicola encostado na parede enquanto observa Zerek encolhido da mesma maneira em que o deixei ontem.

— Ele não se moveu desde ontem? — Nicola olha para mim, negando com a cabeça ele me entrega a chave e se retira. Penso que minha demonstração de ontem foi o suficiente. Abro a grade da cela e me ajoelho ao lado de Zerek.

Seu olho está fechado e seu corpo treme um pouco, retiro o fino lençol de seu corpo para ver os seus ferimentos, estão praticamente curados, provavelmente o sangue de ontem foi muito pouco para o seu estado físico deplorável. Volto a cobrir o seu corpo com mais um lençol, sento ao seu lado e fico observando as suas feições dolorosas. Logo seu olho abre e ele me encara em silêncio.

— Trouxe algumas coisas para você. — aponto para o cesto, mas seu olhar se prende ao meu, desvio os olhos e retiro as carnes deixando ao seu lado com mais uma garrafa de sangue. O ideal seria dar-lhe sangue humano, mas isso o deixaria forte demais para a situação. Mesmo que eu tenha certeza que este homem seja inocente das acusações sobre ele. Rapidamente ele estica sua mão para pegar os alimentos e os devoram em poucos minutos enquanto se senta corretamente. Assim que ele termina, coloca o torço da mão em seus lábios.

— Por que está me ajudando, princesa? — questiona desconfiado, suspiro encostando a cabeça na parede sem tirar os olhos dele. — Não que eu esteja reclamando... mas, você sabe. — ele aponta ao redor da cela como se estivesse me lembrando do local em que estamos.

— Acredito na sua inocência, Zerek. — sussurro e ele se encolhe, Zerek abraça o próprio corpo e desvia o olhar para o chão.

— Eu menti. — sussurra sem se mover. — Fiz tudo o que disseram, princesa. — sinto um aperto em meu peito e olho para as minhas mãos em meu colo. Então ele realmente matou todas aquelas pessoas... mas por quê? Descontrole? Ou... prazer?

— Por quê? — pergunto sem olhar para ele, ainda perdida em meus pensamentos.

— Eu estava fora de controle, mataram a minha irmã. — um pequeno rosnado vibra em seu peito e volto a olhar para ele. Sua irmã? Ray claramente faria o mesmo que ele, se me matassem. — Ela era tão jovem e inocente. Não merecia ter provado da maldade humana, nosso mundo já é cruel. — lágrimas silenciosas rolam por seu belo rosto pálido. Estico a mão para las enxugar. Sinto ele estremecer diante do meu toque em sua pele.

— Sinto muito. — sussurro e ele balança a cabeça. Zerek coloca a garrafa vazia e os pratos de volta no cesto antes de voltar a se deitar todo encolhido. — Quero te ajudar. — também quero saber mais sobre ele, por que mataram sua irmã, se existe mais de sua espécie por aí.

— Agradeço, mas não é necessário. — com isso ele fecha seu olho ignorando a minha presença pela próxima uma hora e meia em que estive ali.

Blood (Sangue)Where stories live. Discover now