04

71 37 72
                                    

O jardim está sendo cuidado e cultivado por servas humanas e vampiras, faço meu caminho por entre elas e às cumprimento com um leve sorriso, o tempo nublado e escuro me permite sair do castelo enquanto ainda é dia. O sol pode nos destruir, é uma desvantagem quando se trata de nossos inimigos. Lycan's. São cruéis e indisciplinados, já tentamos vários acordos de paz, mas o líder deles se recusa, o que é uma pena. Mais a distante vejo Ray, cobiçando algumas moças que estão cuidando do jardim. Me aproximo lentamente e fico parada logo atrás dele.

— Rayleigh Villin, deixe essas moças em paz. — meu irmão se vira para mim com os olhos estreitos. Reprimo um sorriso por conseguir provocar ele dizendo seu nome. Ray se volta para as moças e curva a cabeça.

— Senhoritas! — assim ele se afasta me puxando pelo braço até um local afastado. — Maldição, Áurea, não diga meu nome. — começo a rir quando paramos e ele cruza os braços fazendo um bico com os lábios, parece uma criança mimada.

— Perdoe-me pelo inconveniente, mas não pude me conter, irmão. — nos sentamos em um dos bancos e Ray fica me encarando. Tem algo diferente em seus olhos, sinto que alguma coisa o está incomodando, e não foi pelo fato de eu ter dito seu nome, mesmo tentando ter acesso aos seus pensamentos, sinto ele me bloqueando. — Há algo lhe incomodando?

— Sendo sincero, sim. — Ray desvia os olhos para as flores silvestres ao nosso redor antes de voltar sua atenção para mim novamente. — Sei que lhe defendi na presença de nosso pai, mas estou começando a me questionar se o que fiz foi o correto.

Há, então é isso. Faz alguns dias desde aquela nossa conversa no jantar, e durante essa semana toda estive indo à cela de Zerek, por algum motivo me sinto responsável por ele.

— Zerek é um bom homem. — digo firme, mas ele não parece acreditar em minhas palavras.

— Garoto, Áurea. Ele é apenas um garoto.

— Que seja! Nós dois também somos apenas dois jovens — gêmeos — vampiros. — passo a mão na saia do meu vestido azul-celeste, Ray suspira e hesitante segura minha mão enquanto brinca com meus dedos. — Você sabia que mataram a irmã dele? Humanos podem ser tão cruéis quanto qualquer um de nós.

— Esse foi o motivo pelo seu descontrole? — Ray murmura e sinto o aperto de sua mão contra a minha — Eu faria o mesmo se alguém te ferisse.

— Sim, sei que faria. — sorrio e ele balança a cabeça. — Eu também perderia os meus modos se você fosse tirado de mim. — Ray sorri e logo seu sorriso se transforma em uma gargalhada.

— Modos… sabemos que esta garota delicada aqui na minha frente, não é você de verdade. — dou de ombros e ele solta minha mão. Provavelmente todos sabem que não me porto assim, mas estou tentando agradar o meu pai, preciso que ele esteja de bom humor para quando eu lhe fazer o meu pedido. E sei que mesmo em meu melhor momento, será difícil. Rayleigh se levanta e me dá o seu braço para que eu segure, aceito seu gesto de cavalheirismo momentâneo, e assim caminhamos pelas redondezas do castelo.

— Gostaria de conhecê-lo pessoalmente. — Ray comenta quando passamos pelas portas de meus aposentos. — Dar-lhe meus cumprimentos por ter defendido a honra de sua irmã depois de tê-la perdido.

— Creio que não seja uma boa ideia, Ray. Está sendo realmente difícil para ele se acostumar a sua nova vida de prisioneiro. Mesmo que eu tente tornar as coisas mais fáceis para ele.

— Certo, não direi nada sobre seu crime. Mas ainda quero conhecê-lo. — ele insiste enquanto eu pego minha troca de roupa e vou para trás do biombo para me trocar. Depois de vestir calças escuras, camisa branca e botas, vou até o espelho para fazer outra de minhas tranças. Ray está alinhando suas roupas com mão e logo seus olhos encontram os meus pelo reflexo do espelho, ele abre um sorriso inocente.

— Só não o chateie com suas bobagens, Rayleigh. — alerto e ele revira os olhos enquanto abre a porta para nós. Todo o caminho que percorremos até a torre dos prisioneiros Ray ficou me alertando sobre uma nova família que nos fara uma visita em breve. Os Sallow. Ouvi poucas coisas sobre a pequena família, ao todo são quatro: o casal Genevieve e Griff, e seu dois filhos, Mandy e Theo.
Quando chegamos na frente da cela do Zerek Nicola se curva e me entrega a chave como em todos os outros dias. Zerek está sentado no chão com a cabeça entre os joelhos.

— Eu trouxe alguém que gostaria de lhe conhecer, Zerek. — o mestiço levanta a cabeça e olha para Ray, meu irmão sorri balançando a cabeça em forma de cumprimento, Zerek se vira para mim e confirmo com a cabeça.

— Zerek, este é Ray. Ray, este é Zerek. — meu irmão chega perto do jovem mestiço e estica a mão, mesmo desconfiado ele aperta a mão de Ray. — Como se sente hoje, Zerek?

— Como todos os outros dias desde que cheguei aqui, princesa. — seu único olho dourado mira as paredes úmidas da cela. Ele comentou comigo que não sente nada, que está vazio por dentro. Isso foi a três dias atrás. Penso que talvez à presença de Ray pode ajudar um pouco. — Mas devo ser realmente interessante, já que os dois filhos do rei estão aqui.

— Sim você é, estou realmente interessado em saber como você dizimou três vilarejos. — Rayleigh se senta no chão ao lado de Zerek sem se importar com ruas roupas.

— Rayleigh… — murmuro chamando sua atenção, mas ele me ignora, Zerek me direciona um rápido olhar antes de sorrir fraco para meu irmão. Espero que isso não seja desconfortável para ele, ou Ray irá dormir com o pescoço dolorido.

— Então, diga-me qual o seu potencial em combate? — meu irmão parece muito mais empolgado do que deveria estar, enquanto Zerek parece tímido. — Como é sua transformação? Total ou parcial?

— Já chega, Ray! — rosno e ele para de falar imediatamente olhando para mim, Ray percebe que está indo longe demais então fica em silêncio.

— Não me importo com suas curiosidades, príncipe. — Zerek sussurra e Ray sorri mostrando suas presas. — Não sei ao certo qual meu potencial em um combate, mas tive um… incentivo para fazer tal coisa, até então, eu não seria capaz de um ato tão brutal. — meu irmão balança a cabeça e me olha rapidamente, conheço esse olhar, ele está se colocando no lugar de Zerek. — Minha transformação é parcial.

Arregalo os olhos, nunca vi um mestiço, quem dera em sua transformação, Lycans originalmente são lobos com sua transformação humanoide, o corpo cheio de pelos, garras enormes e dentes tão afiados quanto qualquer lâmina recém produzida. Sem contar é claro, no veneno em que cada mordida carrega, para a maioria dos humanos, é a morte. Para vampiros… é a morte certa, sem o antídoto, é claro. Agora fico me perguntando como é uma transformação parcial de um mestiço.

Blood (Sangue)Where stories live. Discover now