05

68 37 108
                                    

A biblioteca do castelo é o meu local favorito, cheio de histórias e conhecimentos, Ray costuma passar bastante tempo aqui também quando não está na sala de treinamento, ou em seu laboratório. Ultimamente tenho procurado saber mais sobre os mestiços, mas existem poucas informações, tudo se baseia em boatos e lendas, mas tudo tem um fundo de veracidade, certo? Bem, espero que sim. Principalmente pela maioria delas dizerem que são seres muito superiores aos originais, as misturas dos dois genes podem ser inabaláveis. Isso explicaria como Zerek conseguiu acabar com três vilarejos sozinho, mas ele estava tão derrotado e deplorável quando chegou aqui, não parecia que tinha toda essa força correndo entre suas veias. A não ser que ele queira estar aqui, oh! Céus. Ele está se punindo? Isso é perturbador, mas em todo o caso… ele estava faminto, sem se alimentar, isso pode abalar a força de qualquer ser vivo. Sim, vou me apegar a isso. Pego mais alguns livros aleatórios antes de ouvir as portas sendo abertas abruptamente, me viro e vejo Rayleigh com os olhos aflitos, ele balança a cabeça como se estivesse lamentando algo e então caminha em minha direção.

— Irmã, preciso que você me ouça com atenção. — seus dedos me tocam gentilmente traçando as linhas do meu rosto. — Zerek recebeu a sua sentença. — tento dar um passo para trás, mas Ray me segura contra seu corpo.

— Diga-me que não é a morte? — imploro para ouvir sua voz dizendo tais palavras que acalmariam meu coração. Mas tudo o que tenho em resposta é o seu silêncio, um silêncio que parece querer me engolir. — Não. — rosno me soltando de seus braços, antes que ele possa me alcançar, estou praticamente derrubando as portas do salão do trono, meu pai se assusta e seus guardas entram em postura de defesa, sinto os braços de Ray na minha cintura quando estou a poucos passos do trono.

— Áurea, por favor. — Rayleigh sussurra tentando me acalmar, mas tudo o que quero agora é confrontar o rei.

— O que é isso, criança? — Ronan se levanta do trono sinalizando para seus guardas saírem do salão. — Áurea, eu lhe fiz uma pergunta e exijo uma resposta.

— Você não pode mata-lo, não pode. — consigo me soltar de Ray por poucos segundos e isso é o suficiente para que minhas garras fossassem direto para o rosto do rei, antes que possa acertar, meu pai segura meus pulsos bem de frente ao seu rosto.

— Você se envolveu demais, criança. — ele começa abaixar meus punhos e lentamente me puxa para seus braços. — Ele cometeu um crime terrível, Áurea, não foi justo para todas as vidas que ele tirou.

— Também não foi justo quando tiraram a vida da irmã dele. — Ray dispara enquanto eu não consigo formular nenhuma palavra. — Se quer saber meu pai, poderia ser eu no lugar dele. — sinto o corpo do rei ficar rígido com as palavras de meu irmão, me afasto de seus braços e logo sinto as mãos de Ray em mim. — Poderia ter sido eu a cometer um massacre se tivessem ferido Áurea.

— Isso não justifica os acontecimentos em questão.

— Não, não justifica, mas também não há motivos para matar aquele garoto. — aperto minhas mãos contra o meu peito e olho para o meu pai, seu rosto está sério, mas seu olhar já diz tudo. Ele já tomou a sua decisão final, e nenhum rei volta atrás com suas palavras. Mesmo que tenham sido mal formuladas.

— Me dê um tempo? — meu pai olha diretamente em meus olhos. — Me dê mais tempo com ele, livre. Sem correntes, sem prisão. Sem sofrimento.

— Querida… — meu pai parece atordoado com o meu pedido, mas é tudo o que quero. Só preciso de um tempo, Zerek precisa, ele tem que viver um pouco de uma real liberdade. Sem ter que se esconder.

— Um ano, é tudo o que peço. — aperto ainda mais os meus dedos e meu pai suspira concordando com a cabeça, lágrimas silenciosas me escapam. Sem dizer mais nenhuma palavra corro dali, corro o mais rápido que posso, quero fugir de tudo. Estou quase saindo do castelo quando mãos pesadas seguram a porta.

— Está amanhecendo, Áurea, deveríamos estar dormindo. — balanço a cabeça e volto lentamente pelo caminho em que acabei de passar. — Por que você pediu um ano? Isso não tornará as coisas mais difíceis do que já são? E se…

— Continue. — aperto meu braço ainda mais em volta do seu, Ray respira funda e para de caminhar, ele fica na minha frente me olhando cautelosamente.

— E se você se apaixonar? — dou um passo para trás atordoada com tais palavras. Eu, apaixonada? Sinto compaixão por Zerek, não nego. Mas paixão, amor? Não.

— Isso não irá acontecer, pretendo fazer com que ele tenha uma boa vida dentro desse tempo, quero que ele aproveite tudo daquilo que lhe foi privado. — volto a caminhar lentamente em sua companhia.

— E como você fará isso? Vai lhe contar a verdade sobre a sentença? — nego com a cabeça imediatamente, isso só faria com que ele vivesse cheio de medo. — Áurea…

— Ele não precisa saber, ele merece ser livre de qualquer medo, e… quando chegar a hora. Faremos com que seja um acidente. — um acidente do qual todos serão convencidos de sua morte. Incluindo o rei — Será natural, como a lei da vida.

— Não será tão simples assim, Áurea, matar um mestiço em um acidente? Quais são as chances? — dou de ombros e me encosto na porta de meus aposentos.

— Pensarei nisso quando chegar o momento certo, por hora… eu só quero descansar. — murmuro e Ray suspira, ele aponta para a porta ao lado.

— Estarei me mudando para este cômodo, ficarei o mais perto possível para que possa te ajudar. O da frente será dele. — sem que eu diga algo, abro a porta e a tranco atrás de mim. Meu corpo escorrega pela madeira fria até o chão onde me encolho lembrando daquele olho dourado.

Blood (Sangue)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ