John

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Precisava acordar... Sim, sem dúvidas precisava, era de suma importância que meus olhos abrissem para que enfim meu medo fosse esvaido. Sentia medo... Medo de acordar e ainda estar no apartamento de Annabeth, medo de Sherlock estar ferido... Medo de não conseguir me livrar daquela mulher maluca e ninfomaníaca... Mas existia um fio de esperança, esperança de que meu companheiro - sendo o grande Sabe-tudo da Baker Street- já estivesse me livrado daquela situação horrenda e estúpida por assim dizer.
No fundo do meu inconsciente ouço o bip ritmico dos aparelhos. Então mesmo não conseguindo despertar com facilidade, sabia que já não estava em West End, o que era um alívio. Por outro lado, ainda sentia medo... Medo do que Annabeth tenha causado, tanto em minha saúde, quanto em minha vida no geral. Havia pendências. Coisas a serem explicadas à Sherlock, situações que Annabeth havia criado e que eu desejava muito saber se eram reais ou não.
Forço meu cérebro à acordar, pelos anos de medicina exercidos por mim, não deixavam dúvidas de que eu me via inconsciente muito mais tempo do que deveria, com certeza passava das 22h consecutivas. Aos poucos sinto meu corpo despertar, com custo, porém não sucumbira novamente a onda de sono que queria me carregar para a escuridão.
Os bips ficavam mais nítidos e próximos de mim, conseguia ouvir o pinga-pinga do soro e o falatório abafado ao redor. Tento reconhecer as vozes, mas ainda era deveras complicado. Minha boca estava seca, e sentia a falta de água agir com força em meus rins. Mesmo recebendo soro, ainda assim não substituía a água, e nunca desejei tanto algo na vida, quanto desejava beber um copo de água.

-Água... -enfim consigo formular uma frase. Que sai mais baixo do que eu havia imaginado, e rouco pela falta de uso de minha voz. Rapidamente o falatório ao meu redor cessa, sendo substituído por um toque suave em minha mão. Dedos gelados e longos, eu conhecia aquele toque.

-John, já não era sem tempo... -Ouço a voz de Sherlock logo ao lado esquerdo de meu corpo. Enfim forço minhas pálpebras a se abrirem, piscando algumas vezes para me acostumar a claridade.

Sherlock se inclina para o lado e pega um copo de água, colocando com calma em meus labios. Era como chegar ao paraíso, sentir o líquido entrando em meu organismo sedento, umidecendo meus lábios ressecados e lubrificando minhas cordas vocais. Depois disso, começaria a dar mais valor a água.

-Como você se sente, John? -O mais alto pergunta, abandonando o copo de água, na mesa ao lado de minha cama. Observo melhor o ambiente, estava apenas Sherlock e uma enfermeira, o quarto era muito conhecido, um dos vários que eu entreva todos os dias para fazer visitas a meus pacientes.

-Digamos que surpreendentemente bem. -Digo olhando para o homem que se via logo a minha frente, sua iris cristalina brilhando à luz fluorescente do quarto, deixando nítido as pequenas manchinhas que existiam ao redor de suas pupilas. Sherlock me olha sério, mas esboça um sorriso fraco e apagado, sinto ali que algo não estava certo.

-Ótimo, ganhará alta em poucas horas. -Ele diz com tranquilidade.

-Perfeito... E Rosie? -Pergunto sentindo uma fisgada de saudade ao lembrar de minha filha.

-Não se preocupe, Molly se encarregou de levá-la em um parque hoje, no mais, Rosie está muito bem. -Sherlock fala me olhando com atenção, respiro aliviado, balançando a cabeça em concordância. -John...

-Sim?

Sherlock se aproxima mais de meu leito, vejo uma ruga se formar entre as sobrancelhas fartas do detetive, sabia bem o que significava aquela expressão.

-Você foi imprudrente, inconsequente e inocente demais...

-Eu sei Sherlock...

-Não me interrompa. -Ele diz com rispides, suas narinas inflam. -Se tivesse dado ouvidos ao que lhe disse, nada disse teria acontecido. Você ignorou todo o meu alerta, só pelo simples fato de ter adorado a atenção que recebeu...

-Ei, não foi bem assim...

-Foi sim John, você gostou e admita isso! -Sherlock conteve sua voz que estava subindo dois oitavos. Era fato seu descontentamento para comigo. -Correu risco de vida, foi até West End sem ao menos me avisar... John, você tem idéia do que me causou?

-Sherlock, eu sinto muito, de verdade... -Digo com toda a sinceridade que poderia reunir. Sherlock me olhava firme nos olhos. -Eu compreendi meu erro logo que cheguei ao apartamento... Mas era tarde demais.

-John, não se arrisque jamais... Se algo ocorresse com você, o que seria de mim? -Ele fala enfim baixando os olhos para as próprias mãos, e eu sabia que era muito difícil para o mais alto lidar com aqueles sentimentos.

-Me perdoe...

-John, mais uma coisa...

-Sim?

-Você lembra do que fez? -Sherlock pergunta mudando sua feição. Seu rosto rapidamente se tingiu de um rosado claro, e seus olhos perfuravam os meus.

Facilmente entendi o que meu amigo estava querendo saber, mas como lhe falaria se eu mesmo não tinha certeza do que havia acontecido em West End.

-Sherlock, o que vou lhe dizer é a mais sincera verdade... -Respiro fundo. -Eu não sei ao certo, lembro de flexes, de poucos momentos... Eu não posso afirmar com convicção que Annabeth não aproveito o momento em que me via dopado, para... Você sabe.

Sherlock fecha os olhos, vejo o escurecer de sua íris assim que eles voltam a se abrir.

-Sherlock, eu sei que é péssimo isso tudo, mas acredite... Se aconteceu alguma coisa... Eu estava certo de que era você junto de mim naquele momento... Eu entendo se não poder acreditar no que lhe digo, até porque você só tem minha palavra... -Sinto a urgência de lhe explicar, não seria capaz de viver vendo a magoa nos olhos de Sherlock. -Se aquela maluca psicopata aproveitou o fato de me deixar drogado ao ponto de me fazer imaginar você em meu... Em meu colo... Bom ela realmente é uma pobre coitada...

Sem tempo para mais explicações, sinto meus lábios invadidos pelos lábios quentes de Sherlock. Um toque casto, mas com a mesma intensidade que meu coração ansiava. Nada no mundo em que vivíamos tinha maior efeito sobre mim, do que aquela boca, do que aquele toque suave de sua mão em minha nuca, do que aquela íris cristalina que agora, ainda mantendo nossos lábios colados, me encaravam. Nossas testas se uniram, fazendo com que respirassemos o mesmo ar. E era tudo do que eu precisava... Ter certeza de que Sherlock Holmes acreditava em mim... Em minha ridícula aventura sem sua escolta... Eu era um tolo... Que não poderia viver sem o homem à minha frente.

-Sou um homem perverso, por ter qualquer dúvida ou me deixar desconfiar de que você...

-Não se culpe por sentir isso Sherlock, a situação não ajudou... E sim, você é humano. -Digo, fazendo nossos lábios rossarem enquanto as palavras saiam de nossas bocas.

-Entende porque nunca me deixei viver algo assim...? -Sherlock fala quase aos sussurros, vez ou outra interrompia sua frase para lhe aplicar um beijo leve no lábio inferior. Nossas testas ainda coladas, Sherlock sentado ao meu lado na cama, suas mãos em minha nuca. -Romances emaranhados... Ter de suprir as necessidades de alguém... Ter de compreender meus próprios sentimentos... Exige muito de mim John... Mas não entendo porquê que com você isso tudo se torna quase que necessário, me obrigando a querer sentir mais e mais...

Sorrio tão feliz ao ouvir aquelas palavras, meu peito se aquece como o interior de um chalé aconchegante... Meu estômago se vê dominado por borboletas que acariciavam as paredes de meu órgão com ternura. Não poderia ser possível alguém se sentir tão amado, como me sentia naquele momento.
Sem conseguir formular uma frase que fosse capaz de suprir todas as sensações que estava sentindo, apenas lhe puxo para mais perto, e então lhe beijo, com todo o amor que sentia, com tudo que existia em meu ser. Nossos lábios se acariciando, línguas em uma manifestação de afeto tão perfeita, que poderia dizer terem nascido só para isso. Sherlock era meu céu e inferno... Tornando ambos quase que um só em momentos como aquele. Afasto nossas bocas lhe trazendo para um abraço apertado.

-Quero que todos saibam sobre o tanto que eu amo você Sherlock... Seja meu namorado?!


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Demorei?
Sim!
Mas cá estou eu com esse cap cheio de dengo 😻
Espero que gostem meus amores.

Aprendendo a Amar (Em Revisão)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant