🍼Capitulo 1🐝

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Milla

— Pedido para a mesa sete! — A voz anasalada da minha gerente me fez suspirar.

Peguei a bandeja com cuidado para não derrubar. Eu precisava do dinheiro para pagar as contas. Não era o que eu queria estar fazendo, mas esse foi o melhor que eu consegui, trabalho desde muito nova.

Hoje era segunda feira e não tinha muito movimento. Fui atender outra mesa, mas alguém esbarrou em mim e senti um líquido muito quente na minha roupa.

— Olha o que você fez!! Será que essa espelunca não sabe contratar um pessoal decente? — A voz do homem era grossa e me lembrava o barulho de um trovão. Eu me encolhi no chão e senti meus olhos lacrimejarem.

— D-desculpa moço! — me esforcei para falar certinho. Mexi na barra do uniforme.

— Desculpas não vão limpar a minha roupa e nem restaurar a porra do meu café! — Ele estava zangado, muito zangado.

— Milla! — Meu chefe se aproximou e me ajudou a levantar. Ele me abraçou para tentar me acalmar. — O que aconteceu aqui?

— Essa imprestável derramou meu café! — O homem acusou e senti ele endurecer a postura.

— Milla, o que aconteceu? — Ele me perguntou e eu funguei, provavelmente meus olhos estavam vermelhos.

— Foi um acidente, senhor. Ele esbarrou em mim. — Eu me forcei a falar certo, mas o que eu mais queria no mundo era a minha chupeta e a minha girafa de pelúcia.

— Pode entrar e se limpar, eu resolvo aqui. — Eu assenti e sai correndo de perto daquele homem estranho, ele me dava medo. Por sorte, o Senhor Ramos gostava de mim.

Ele conhecia a situação da minha família e me deu emprego quando ninguém mais podia. Ele sabe que eu não faria nada de ruim para ninguém, não de propósito.

No final o homem foi embora e eu continuei meu expediente. Agora eu tinha acabado de soltar do ônibus e estava andando em direção a minha casa. Eu aprendi tudo sozinha, me perdi várias vezes, mas eu aprendi.

Começou a ventar bastante e um panfleto veio voando na minha direção. Segurei a folha e analisei o que estava escrito. "Exposição de arte no Museu Municipal, gratuito." Meu interior se agitou com a ideia, eu amava artes, era a única alegria na minha vida. Mais abaixo estava escrito. " Competição de artes. Venha pintar e mostrar o artista que existe em você, é gratuito e muito divertido!!". Era no domingo, talvez eu conseguisse ir.

○○○

Abri a porta sorrindo com a ideia de poder pintar novamente, mas o sorriso desapareceu quando encontrei meu pai bêbado no sofá. Isso era uma cena comum. A sala estava fedendo a bebida barata, eu queria chorar, odiava ver meu pai assim.

— Papai ? — O chamei, pelo menos, cinco vezes antes que ele tivesse alguma reação.

— Oi querida. — Ele falou enrolado por causa da bebida. Eu tampei o nariz, que cheiro horrível. — Chegou a-agora ?

— Sim. Papai, você prometeu que ia parar. — Eu disse baixinho.

— Eu vou parar, amanhã. — Ele se sentou com a garrafa de bebida na mão e deu mais um gole. — Sobe e vai dormir, querida.

— Já vou. — Eu estava morta, mas limpei a cozinha e a sala.

Subi chorando. Eu não aguentava ver meu pai assim, já faz anos e ele não sai desse vício. Tomei um banho quente e me deitei com a minha chupeta amarelinha e a minha girafinha, a Malu.

Eu olhei as pinturas nas paredes e suspirei. Meu quarto era o meu lugar, o único onde eu podia ser eu mesma. Pintar, usar chupeta, usar a mamadeira...Eu queria ser uma artista, era meu maior sonho, desde pequena. Pena que nem sempre podemos realizar nossos sonhos.

My little BeeOnde histórias criam vida. Descubra agora