Gardenias

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"Can't I just say I like you?
I want to tell you the truth."
Some, by BOL4

— Na base, Mary. — Harry a instruiu, se abaixando um pouco para ajeitar a mão da garota. — Dessa forma.

Ela assentiu, voltando a regar as flores e conversar com elas sobre como deveriam se tornar bonitas para que Harry ganhasse dinheiro, como se isso fizesse algum sentido. Ele pegou um saco de adubo e o carregou em direção a estufa, deixando a loira sozinha regando as tulipas. Harry deixou a casa de sua mãe com dezoito anos, almejando sua independência e trabalhando com uma simpática florista, que já se aposentou.

Mas o dinheiro que ganhava na época não era suficiente para manter uma casa com um quintal vasto, como o da casa de sua mãe, por isso optou pelo apartamento. Mas Anne, tão apaixonada por flores quanto seu filho, disponibilizou espaço para que Harry plantasse-as ali, espaço que fora sendo administrado e ocupado de forma inteligente nesses anos.

E já com 26 anos, ele tinha o costume ainda de plantar girassóis, sua flor favorita. E por ser sua favorita, ele não presentava à ninguém (nem mesmo sua mãe, já que as camélias sempre foram suas favoritas e muito menos Gemma, que apreciava um arranjo bonito de Asters). Seus girassóis sempre foram seu ponto fraco, e quando decidiu abrir uma floricultura, não pensou duas vezes no nome.

Porque além de carregar o belo significado do girassol, foi a primeira flor que sua mãe o incentivou a plantar, no verão. Jovem, bem jovem, mas ao tocar na terra fofa pela primeira vez e regar com amor aquela flor, sentiu que era o que queria fazer, encontrou sua paixão jovem. E ele não se via fazendo outra coisa, mesmo sendo extremamente julgado por parentes e até mesmo conhecidos de escola, que já não fazia questão de chamar de amigos.

Harry adubou as flores na estufa e deixou o adubo no armário verde, limpando suas mãos no local que preparou. Mas antes de sair, a imagem de Mary lhe deixou estático por um momento: ela encaixava uma pequena gardênia branca no seu cabelo, perto de sua orelha esquerda enquanto sorria sem mostrar os dentes, e pelo que conseguiu entender, perguntou a flor se parecia bonita. 

Mas ele sorriu sincero, perguntando-se como alguém poderia ser tão bonita. Mary não era a menina mais bonita do mundo, muito menos alguém que um dia almejou se apaixonar; mas não mandamos no coração, e manter tudo para si já se tornava um pouco mais difícil. 

— Harry, olhe aqui! — chamou-o assim que percebeu que ele estava parada na porta da estufa, com um semblante estranho.

— Diga, Mane. 

— Mane? Que apelido é esse?! — fez uma careta.

— Eu ia dizer Maryanne, mas saiu Mane. — riu com sua própria confusão, apertando o passo para chegar perto dela.

— Oh, Mary está ótimo, pode continuar me chamando assim. — piscou. — Tenho um presente para você! 

— Se você colocar algum inseto na minha mão, vou jogar no seu cabelo. — brincou, se abaixando ao lado dela. — O que é?

— Feche os olhos, hm? 

E tantas coisas passaram pela cabeça dele... mas ele fechou os olhos, talvez perto demais dela. Será que ela iria o beijar? Ele já antecipava as mãos na nuca dele, como seria a sensação de seus dedos contra a pele sensível de seu pescoço, ou até mesmo como ela enrolaria os poucos cachos em seus dedos leigos.

E ele sentiu o primeiro toque perto de sua orelha, e sua esperança foi por água abaixo, talvez se precipitara demais por pouca coisa. 

— Agora temos gardênias, pode abrir os olhos! Wow, eu adorei. Você poderia trabalhar assim. 

Sunflower [H.S] [PT/BR]Where stories live. Discover now