Honey Flower

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"Lighting star, shooting star
I will give you my galaxy"
Galaxy, by BOL4

Mary pegou a xícara fumegante e a levou com cuidado até o sofá, estendendo-a para seu namorado já um pouco mais calmo. Ele aceitou, bebericando um pouco do chá de camomila e fechando os olhos ao fazer preces para que aquilo lhe deixasse tranquilo. Felpudo correu para o colo da garota quando ela se sentou no sofá, deitando-se em suas pernas e ronronando por carinho.

— Felpudo, você não quer ficar com Harry? — murmurou para o gato, se curvando um pouco mais para afagar sua barriga.

— Ele me odeia, amor. 

— Ele não te odeia, ele só...

— Me odeia? 

— Não, claro que não! Você é o dono dele, Felpudo não tem motivos para te odiar. — tentou o confortar.

Era sempre assim, toda vez que Mary estava pela casa o gatinho malhado o esquecia completamente, seguindo-a por todos os cômodos e suplicando sua atenção, algumas vezes até roubando o foco. Mas quem resistiria a aqueles olhos claros e barriga macia? E Mary aproveitava para dar carinho ao gato que amava incondicionalmente. 

Harry bebericou um pouco mais do chá e Mary aproveitou para o olhar um pouco: seu rosto ainda estava tão vermelho quando a ponta de seu nariz e bochechas, mas parecia mais calmo da crise que tivera. Assustador para ambos, mas a menina mantivera-se ao lado dele com palavras de conforto ou até mesmo sua presença, fazendo uma mega diferença no momento que, para ele, a realidade parecia distorcida.

E eles chegaram ao apartamento pouco antes das cinco da tarde, Harry foi tomar banho enquanto ela separou algumas roupas confortáveis para ele e preparou um chá quente, pegando a dica com Gemma e a agradecendo infinitamente por isso. Quando o moreno saiu do quarto já com um moletom quente e meias fofas, tentou dar um sorriso que mais parecia uma careta.

Retrucando uma vez o que ele havia lhe dito, Mary suplicou para que ele não se forçasse a sorrir e parecer bem quando não estava, não precisava fingir, não para ela. E ele apenas assentiu derrotado, sentando-se no estofado e mantendo os olhos fixos no carpete. 

— Como está se sentindo? — perguntou cautelosa.

— Bem, eu acho. Obrigado, querida. — a encarou, dando um sorriso fraco. — E me desculpe por isso.

— Não, não há do que se desculpar Harry. Eu só quero lhe ver bem. 

Há tempos não era tratado com tanto carinho. 

Felpudo pulou do colo de Mary quando ela se esticou um pouco mais no sofá, abraçando Harry de lado e pousando sua cabeça no ombro largo dele, que sorriu sem mostrar os dentes. Conseguia sentir o cheiro de lavanda que emanava dos seus cabelos loiros e seu calor, inconscientemente sabendo que ela tentava o consolar daquela forma.

Poucas coisas o deixavam dessa forma, mas seu pai sempre fora um assunto complicado de lidar durante sua vida inteira. E Mary nunca havia o visto tão frágil, tão aberto e principalmente tão nervoso, desejando que isso não acontecesse mais vezes. Ele sequer tocara no nome de seu pai durante todos esses anos, e por mais que estivesse com uma pitada de curiosidade para saber o que havia acontecido, não tirava a razão dele.

Laços sanguíneos não são conectados a afeto e a loira sabia disso bem até demais.

— Já disse que gosto daquele vaso? — tentou melhorar o clima, apontando para o vaso de álissos arroxeados. 

— Foi um presente de Lyn, adoro aquele vaso também. — comentou, se ajeitando um pouco mais no sofá. — Essa flor também é chamada de Flor de Mel por conta do seu cheiro. 

— Acho que me lembro dela, não teve uma encomenda de flores assim para um evento de uma empresa? 

— Isso, acho que há um ano, algo assim. — claro que se lembrava, apenas pegou o pedido porque seria um bom dinheiro.

— Sua memória sempre me surpreende. — sorriu tranquila, o abraçando um pouco mais. 

— Sim, também me lembro do dia que você chorou alto até demais no casamento dos Adamsen e te confundiram como parte da família. 

— Não precisa se lembrar disso, certo? — disse envergonhada. — Eu não tenho culpa se metade da família era loira também, além disso aquele discurso foi fantástico! Deveríamos fazer mais casamentos, chefe. 

— Vamos ter muitos nos próximos meses, vai ter tempo suficiente de chorar e se estressar. — beijou o dorso de sua mão. 

— Você fala de mim, mas lembra quando ficou tão nervoso que precisou dos calmantes da noiva? — o provocou, sentindo-o rir.

— Eu me lembro perfeitamente do dia que percebi que estava apaixonado por você. — confessou com os olhos vidrados na janela. Não tinha como esquecer. 

— Oh, estou curiosa para ouvir sobre isso! 

— Talvez um dia, amor. Por enquanto é segredo. — beijou novamente o dorso de sua mão.

— O quê?! Por quê? — Mary se esticou um pouco mais, levantando a cabeça para o encarar. 

— É segredo.

— Achei que não tivéssemos segredos. — deu a língua de forma infantil. — Não acredito que vai me deixar curiosa assim. 

— Um dia vou lhe contar, é uma promessa. 

Um dia, quem sabe. 

Harry subitamente se desvencilhou da menina, deixando-a com uma expressão confusa até entender o que ele de fato queria: colocou a xícara na mesa de centro e seus pés foram para o sofá, deitando-se de forma desengonçada e pousando a cabeça no colo dela. De olhos fechados, juntou os pés e teve  vontade de sorrir quando sentiu Mary acariciar seus cabelos com cuidado. 

Ela enrolava os fios na mão e se sentia tão bem com aquilo... ele relaxava sob seu toque, e era ótimo o ter tão perto dessa forma. Segurando a vontade de correr os dedos pelo perfil de seu namorado, a menina acariciou os cabelos castanhos com sua mão pequena e, se pudesse, pausaria aquele momento. 

Embalado ao barulho da chuva, as carícias de sua namorada e o cansaço emocional, Harry acabou dormindo no sofá, mesmo que isso fosse lhe render uma dor nas costas no dia seguinte. Felpudo estava na poltrona do outro lado, e Mary sibilou um pedido de desculpas para o gatinho que teve seu lugar tomado. 

Ele não estava no centro das atenções e odiava isso.

— Espero que um dia possa lhe mostrar de fato o quanto gosto de você, amor. — sussurrou para ele, dando um leve beijo na sua bochecha. 

Mal sabia ela que Harry estava acordado, e aquelas palavras foram suficientes para que seu coração acelerasse.

Sunflower [H.S] [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora