Forget-me-not

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"My heart hurts so good
I love you, babe, so bad, so bad"
ILYSB, by The Rose

Mary tinha os cabelos soltos e mãos suadas. Sua respiração descompassada era nítida e até o garçom perto da sozinha se sentia agoniado por ela, a menina dos lábios rosados, talvez tão rosados quanto suas bochechas aguardava pacientemente por seu admirador secreto, que ainda continuava uma incógnita.

Deveria ter ficado na casa de Candance, saindo 12 minutos antes do horário combinado e se poupando de toda aquela agonia incessante. Mas ela era teimosa, e exatamente por esse motivo chegou 29 minutos adiantada, pegando uma mesa perto da janela mas logo trocou, já que não conseguia parar de olhar para fora e cada carro que estacionava fazia seu coração palpitar.

E o roteiro estava pronto em sua cabeça, roteiro repassado algumas boas vezes de frente para o espelho e repetido enquanto tomava sorvete no horário de seu almoço. Para Mary, não havia erro e era só dizer o que precisava, comer algo gostoso e se a pessoa tivesse uma reação positiva, quem sabe cultivar uma amizade em algum tempo.

Porque sua intenção não era magoar ninguém, mas ela já tinha um plano e ele teria de ser colocado em prática em algum momento. Não conseguiria seguir em frente sabendo que tinha alguém que lhe via com outros olhos, com olhos apaixonados e sem uma resposta dela. E lá estava Maryanne, com toda a coragem que conseguiu ter naquele momento.

A postura perfeita que estava adotando já fora descartada, ela rodeava a pequena vela apagada e tentava acalmar o coração inquieto. O barulho de seus sapatos Oxford batiam contra o chão e uma criança na mesa ao lado acompanhava os movimentos com a cabeça, seu olhar foi até a porta que fora aberta e seu coração parou por um momento.

Treze, treze minutos antes do horário combinado. Os cabelos inconfundíveis apareceram e achou ser uma miragem num primeiro momento, mas a cabeça dele virou e ao encontrá-la, suspirou fundo antes de se arrastar até lá, talvez o caminhar mais difícil que fez um dia.

E seus olhos pareciam mais brilhantes, e ele parecia impecavelmente bonito. Que diabos fazia ali? Ela ficou alerta, seu corpo impulsionou para cima e a garota se levantou, os olhos esbugalhados assistiam ele caminhar até ela, e aquilo parecia loucura.

— Harry? — murmurou baixo, mas alto suficiente para que ele conseguisse ouvir.

O barulho de seu sapato batendo contra o chão parou. Ele sorriu nervoso e passou a mão pelos cabelos, nada parecia real. Mas tomou coragem de olhar no fundo dos olhos dela, e talvez só naquele momento a realidade caiu contra seus ombros:

— Olá, Mary. 

Oh, tudo que preparara fora para o ralo. E ela pensou em diversas coincidências, ele poderia ter um encontro com outra pessoa e foi apenas lhe cumprimentar, mas Harry chegava sempre treze minutos antes de qualquer compromisso, até mesmo para trabalhar. E ele se mantinha imóvel, irredutível e absolutamente bonito, mas aquilo era loucura.

— Ahm... — tentava dizer algo, mas nada parecia coerente. — Eu...

— Vamos nos sentar primeiro, Mary. 

— Mas por que sentar aqui? Eu estou esperando meu admirador secreto.

— Vim ao seu encontro, não é uma coincidência.

Merda, mil vezes merda.

Harry até fez menção de ir até lá e puxar a cadeira para ela, mas Mary se sentou rápido demais e ainda o encarava com os olhos esbugalhados. A primeira coisa que lhe chamou atenção foi o vestido bonito da garota, com certeza deveria usar mais vezes a peça. 

Sunflower [H.S] [PT/BR]Where stories live. Discover now