A incrível história de Lena Luthor

Março

Três dias, 6 horas e 47 minutos foi o tempo exato que Lena conseguiu evitar Kara após o beijo. Não que ela não quisesse aquele beijo, ela queria. Queria desde o primeiro encontro. Era só que como tudo na vida de Lena, aquela situação inteira era complicada. Contudo, Kara não estava disposta a deixar as coisas daquele jeito, por isso, naquela noite depois do trabalho a veterinária foi encontrar Lena.

Ela hesitou algumas vezes em abrir ou não, porém, Kara sabia que ela estava em casa e seria extremamente rude não atendê-la. "Oi", Lena disse quando abriu a porta após o seu dilema interno.

"Oi. Você está ocupada?" É claro que Kara reparou na demora para a porta ser aberta. Principalmente porque Frida estava do outro lado, latindo loucamente para que ela entrasse.

"Não...eu estava na cozinha, começando o jantar. Pode entrar." Lena abriu caminho para Kara e sorriu ao sentir o cheiro do shampoo da veterinária que ficou no ar quando ela entrou na sua casa. "Quer beber alguma coisa?"

"Tem cerveja?" Kara manteve suas mãos no bolso da calça de moletom. Lena sorriu e a levou para a cozinha. Na entrega da cerveja para a veterinária, seus dedos se tocaram e seus olhares se encontraram. Kara umedeceu os lábios e antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, Lena iniciou uma conversa.

"Como foi o trabalho?" A pergunta serviu também para ela se afastar e voltar para a tábua onde cortava os legumes para o jantar.

"Ótimo. Foi um dia tranquilo no geral. Só consultas de rotina, vacinas...dois cachorros do abrigo foram adotados. Foi ótimo." Kara sorriu e sentou em uma das banquetas disponíveis ao redor da ilha que Lena tinha. "Sua casa é bem aconchegante."

"Eu tive tempo para decorá-la." Sorriu. "Você é vegetariana? Eu vou fazer bife a parmegiana com legumes, então..."

"Não, eu não sou vegetariana. Tentei, mas o bacon existe!" Kara levou a mão ao coração. "Obrigada pelo convite para o jantar."

Lena segurou a respiração. Óbvio que se você pergunta o que a pessoa come, você espera que ela coma com você. Talvez não fosse a intenção clara de Lena, mas ela tinha a tendência de agir por impulso quando a veterinária estava por perto. Lena deu apenas um leve sorriso e se virou para o fogão.

"Quer ajuda?" Kara quebrou o silêncio.

"Não. Obrigada." Lena olhou sobre o ombro e sorriu. "Você pode arrumar a mesa depois."

"Claro. Como foi o seu dia?" Kara respirou fundo e olhou para Frida. Não estava fácil fazer a conversa fluir. As duas pisavam em ovos e flertavam ao mesmo tempo. Era o inferno.

"Bom. Consegui sair e tirar umas boas fotos perto da região sul do lago. Frida e os filhotes também não fizeram nenhuma arte hoje, o que é um recorde para eles." Sorriu e piscou para sua cachorra que virou a cabeça na menção ao seu nome.

"Então, você é fotógrafa profissional?"

"É...eu faço algumas fotos de forma profissional sim."

Não. Lena não era fotógrafa profissional. Ela apenas queria gravar tudo o que podia em sua longa vida. E como não sabia a forma que sua memória funcionava, ela fotografava. Tudo o que era importante, ficava em suas lentes e futuramente em seus álbuns. É claro, que anos e anos de prática a ajudaram a desenvolver um olhar profissional e por isso, algumas raras vezes, ela vendia alguma foto ou doava para uma galeria de arte. Especialmente, quando ela gostava muito da cidade. Essa era a sua forma de deixar a sua marca ali, sem que ninguém percebesse.

"Como em cães?" Kara perguntou empolgada e Lena se virou para ela franzindo o cenho. "Os cães do abrigo precisam de umas fotos boas, ajuda na divulgação da feira e também no trabalho de adoção deles. Então, eu pensei em contratar você pra fazer umas fotos deles." Sorriu feliz da vida com a sua ideia.