Maio

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O tempo sabe ser cruel quando quer. Mas, se pararmos para pensar, o que é o tempo? O que é o tempo se não a simples audácia do ser humano de colocar ordem para tudo. De pegar algo infinito e dividi-lo em horas, em minutos, em segundos. Em dizer que um ano contém apenas doze meses e isso é suficiente. Dividir os meses em semanas e dias. E colocar uma rotina, uma hora para fazer suas refeições, seu trabalho, seu descanso. Quem dita a nossa vida? Nós ou o tempo? Quem criou o tempo?

Lena acordou daquele sonho estranho e respirou fundo. Ao seu lado, Kara dormia pesado, indiferente ao sono pertubardo da namorada. Lena levantou com um cuidado exagerado para alguém que dormia ao lado de uma pessoa com sono tão profundo. Ela olhou para o chão e alguns dos cães a encararam, como se reclamassem dela acordar tão cedo.

"Quando foi que vocês entraram aqui?" O casal sempre colocava os "filhos" para fora quando iam fazer amor, nenhuma das duas queriam animais dentro do quarto naquelas horas.

Lena logo sabia que foi quem havia aberto a porta para os cães e gatos em algum momento da madrugada. Mesmo assim, ela pegou no pé dos pequenos antes de ir até o banheiro fazer a sua higiene matinal.

Como era domingo, deixou Kara dormindo e foi até a cozinha preparar o café da manhã das duas. Tinha certeza que o cheiro de bacon iria atrair mais do que só os cães para a cozinha.

"Eu queria reclamar que você acordou cedo e me deixou sozinha naquela cama, mas...bacon." Kara riu. Os cabelos ainda estavam bagunçados, como se ela tivesse passado pelo banheiro apenas para fazer xixi e escovar os dentes. Seus braços envolveram a cintura de Lena, enquanto ela preparava os pratos das duas. "Bom dia, gostosa."

"Bom dia, Darling." Lena sorriu com o beijo no pescoço que recebeu. "Desculpa ter saído da cama, acordei cedo mesmo. E quase tropecei nos cachorros que estavam dormindo no quarto." Ela olhou de lado para a namorada.

"Eu desci uma hora pra beber água e eles invadiram nosso quarto. O que eu posso fazer, sou uma só!" A desculpa esfarrapada da veterinária fez Lena sorrir.

"Tá certo, vou fazer de conta que acredito." Serviu a comida e apontou para Kara sentar.

"Então, hoje é almoço lá na minha mãe. Tudo bem por você?"

"Darling. Agradeço a sua preocupação, mas eu estou bem e é tudo bem almoçar no dia das mães com a sua mãe. Eu posso conversar com outras mães, sobre mães e filhos, tá tudo bem. Prometo que não vou quebrar." Lena sorriu.

"Eu sei que você não vai quebrar. Só não quero que você fique desconfortável."

"Eu juro que está tudo bem."

"Ok, ótimo. Perfeito." Kara disse um pouco empolgada demais e Lena logo percebeu que tinha mais alguma coisa por vir. "Eu fiz um presente pra você. Pra data de hoje." Fez uma cara desesperada. Diante do estado atônito de Lena, Kara correu até a sala e voltou com uma sacola nas mãos. "Espero que você goste, se não gostar tudo bem também!"

Lena abriu a sacola e tirou o quadro de lá. Uma moldura preta segurava a folha branca que tinha escrito à mão o nome de sua filha, embaixo o poema que trouxe lágrimas saudosas aos olhos de Lena.

JOSEPHINE

menina sapeca, levada

que agora corre no céu,

mas no meu coração fez sua morada.

"Você fez isso? Escreveu e tudo?" Lena ergueu o rosto para a namorada com os olhos marejados.

"É...achei que gostaria. Não era pra você chorar. Amor, eu..."

Kara nem terminou de falar. Lena saiu de sua cadeira para abraçar apertado a veterinária e agradecê-la tantas vezes, que chegou a deixar Kara envergonhada. Poderia ser simples, de material, do jeito que foi entregue, das palavras usadas. Mas, o significado era muito maior do que ela poderia imaginar.

A incrível história de Lena LuthorWhere stories live. Discover now