GIRL POWER é o termo utilizado para poder feminino, independência, autossuficiência. Contudo, é muito mais do que isso.
Popularizado por Spice Girls na década de 1990, o termo também está ligado à terceira onda do feminismo.
Ser mulher não é fácil...
Pela centéssima vez, Lúcio passou por mim, ou melhor, me sarrou. Ele faziaquestão de levantar com aquele sorriso asqueroso, se espremer por trás de mim, demãos levantadas como se estivesse dizendo pros demais "olhem, não estouassédiando ela" e sussurrar um "dá licença, Eleninha" e sair do setor.
Quando isso acontece, reviro meus olhos de maneira automática, tento o
ignorar algumas vezes e outras dou um sorriso fraco, alguma risada frouxa, dependedo que ele diz. As vezes alguma piadinha sem graça, algum comentário — nãosolicitado — do que estou imprimindo ou algo sem nexo, finjo entender para ele sairlogo.
Sento na minha cadeira cabisbaixa, sentindo a cadeira me apertar e forçar ficar
reta, puxo minha saia até o joelho, escondendo minhas coxas.Pelo menos Lúcio não senta mais perto de mim, quando se mudou de guia, deualguma resposta de que eu o "desconcentrava" e que também eu sou muito fechada,eu não puxava assunto ou respondia seus flertes — como queria —. Confesso quefiquei muito feliz, não é legal ter a sensação de ter alguém te secando toda hora, eleera ao nem discreto. Pelo quê as outras adms me contaram, ele jura de pé junto quesó estou me fazendo de difícil.
É nesses momentos que penso em me demitir, porém como minha mãezinha
diz "filha, o emprego tá difícil depois de se formar você procura outro". Aguenta Elena,afinal essa é a empresa dos seus sonhos.
Ouço um aglomerado de vozes, observo de relance o grupinho de machos
anunciarem sua chegada com berros e risadas estridentes. Minha cabeça chega adoer. Vejo Marcos rindo entre eles, ele percebe meu olhar sobre si e fica cabisbaixo,girando aliança no dedo. Filho da puta. Se pudesse me levantar e dar um tapão nacara dele, faria com tanto gosto que morreria em paz. Eu queria tanto voltar notempo e nunca ter beijado esse idiota... como EU fui idiota. Na primeiraconfraternização da empresa, eu cometo uma gafe dessas. Não é atoa que mechamam por aí de "marmita do Marcão". A adm idiota que "deu" pra ele na primeira.
Me tornei a puta do setor. Alguns caras aleatórios me olham de cima a baixo, com
aquele olhar de "essa é a gostosinha do setor X?".
É minha hora de almoçar. Pego minha marmiteira, antes de me levantar ajeito
minha saia outra vez, ponho meus cabelos atrás da orelha e finalmente fico de pé,caminho cabisbaixa até a porta.
— Que saia bonita, Eleninha. — A voz rouca de Gregório me faz parar.
Suspiro, dou um sorriso sem mostrar os dentes em resposta. Todos estãoolhando para mim agora, meu rosto esquenta.
