A Bruxa que Caminha pelo Tempo

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Autora: DeborahZanette

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Autora: DeborahZanette


Não era a primeira vez que ela se via olhando pela janela, esperando pelo que jamaisviria.

Justo ela, vinda de tempos passados, um ser vivo por séculos, que já vira de tudo.

Eva era uma Bruxa, uma entidade que sobrevivera pelos séculos como quem apenasvive semanas. Não se sabia porque e nem de onde sua imortalidade vinha, só que erarepassado através das mulheres de sua família. Voar, fazer feitiços, encantamentos? Balela, asBruxas apenas viviam demais e tinham que aturar unhas encravadas, espinhas e todo o restodas pequenas moléstias que acometem a humanidade.

Eva estivera viva na última pandemia, a tal Gripe Espanhola, assim como estivera viva

na Peste Negra. Ela vira de tudo, vira grandes guerras e as pequenas também, viradescobrimentos de terras, de artes e ciências, jantara em banquetes de reis e vira adecapitação deles também. Se escrevesse um diário, seria capaz de narrar com exatidão a cordos olhos de Napoleão.

Cada dia era mais difícil, observar da janela os humanos morrerem por suas próprias

decisões erradas, sem se dar conta de que a vida era finita e não havia replay.

Ela suspirou, passando a mão pelo rosto sem rugas enquanto pensava que aquela seria

mais uma chance de fugir, aproveitar a morte que pairava ao redor para mudar mais uma vezde cidade.

Os vínculos humanos? Amores? Tudo sempre ficava para trás depois de alguns anos,

no que para ela eram breves momentos. Obviamente, dessa vez seria mais difícil, com as redessociais e o mundo globalizado, não seria mais como a brincadeira de antes, de trocar decontinente, nome, língua, como se escolhesse sua roupa íntima.

Roupa íntima essa, que quando um novo amor surgia, logo virava tapete. Eva não era

mais uma puritana há séculos, e o que mais gostava na modernidade era poder amar semcompromisso ou vergonha. Homens, mulheres, tanto fazia, o que importava naquelemomento era a pele com pele e a sensação de que o mundo explodia quando o ritmo certo eraimposto.

Eva sabia que doeria, sempre doía, quando tinha que partir rumo ao desconhecido

levando consigo apenas memórias de tempos bons e nada mais. Filhos? Nunca os tivera e nemos quisera. Como poderia explicar a sua descendência quem era? Como não assusta-los comuma mãe que jamais envelheceria, que veria geração após geração de seu sangue definhando?Não, ela não precisava disso, não quando a própria humanidade cometia tantos erros.

Era mais fácil observar os erros dos outros do que os próprios, disso ela sabia.

Assumindo o papel de espectadora do tempo, uma Bruxa que por ele caminhava, elavia a Roda girando.

ANTOLOGIA GIRL POWEROnde as histórias ganham vida. Descobre agora