Espaço em Branco

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Autoras: DboraCorra91 e isahhpsb

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Autoras: DboraCorra91 e isahhpsb

— Prazer em conhecê-lo.Verde. Era tudo que Eva conseguia enxergar. Não o verde das folhas das árvores quecercavam a praia. Verde como as ondas do mar que batiam incessantemente contra ocasco do barco."Onde você esteve durante toda a minha vida?", ela pensou enquanto observava aquelesfascinantes olhos.— Eva, não é? — ele perguntou, a voz suave e poderosa ao mesmo tempo, como o marque mudava de humor facilmente. — Ouvi sua amiga falando.Não era comum para ela ficar sem palavras, mas estava com dificuldades de controlar alíngua para não dizer de cara que ele era o homem mais lindo que já encontrara na vida,então apenas assentiu como resposta.— Eu sou Poseidon.— Como o deus do mar?O sorriso divertido e misterioso, como se guardasse um segredo, espalhou-se lentamentepelo rosto másculo.— Exatamente como o deus do mar.Esse foi o ponto de partida para um dia perfeito.Quando acordou naquele dia e se dirigiu até o cais de Paraty, Eva soube que teria um diamaravilhoso enquanto passeava pela baía de Paraty, visitando as belas praias e ilhas dolugar. Pensou, inicialmente, que sua amiga Camila tinha alugado uma lancha em algumadas agências de turismo da cidade, mas acabou descobrindo que a amiga abastada tinhasua própria lancha, onde daria sua "festa" particular – um dia de mar com apenas 13pessoas especialmente selecionadas por ela.Não conhecia ninguém na lancha além de Camila e do recém-conhecido, Poseidon, como odeus do mar. E parecia um deus mesmo, do tipo que habita os sonhos e faz com que umamoça decente deseje ser arrastada para o Olimpo — ou para o Submundo, já que ospecados que gostaria de cometer não a levariam exatamente ao paraíso... não no sentidoliteral da palavra pelo menos.— Já esteve em Paraty antes? — ele perguntou, interrompendo os pensamentos eróticosque passaram pela mente de Eva.— Uma vez, mas apenas visitei o centro histórico.O sorriso, dessa vez, não tinha nada de mistério. Ele claramente gostou do rumo daconversa.— Estava sol ou chovia?— Sol.— Ah, então ainda não viu o centro como deveria.— Eu deveria ensopar meus pés para apreciar o lugar?— Quando chove, você pode ver como era antigamente. As ruas da cidade foramconstruídas para receberem a invasão das marés na lua cheia. É como um passeio notempo.Os olhos verdes se perderam no horizonte, como se ele pudesse ver tudo o que estavadizendo. Não os dias de chuva, mas a invasão das marés da era colonial. Mais uma vez,Eva ficou encantada com ele.— Preciso ver isso um dia, então.— Quem sabe amanhã, talvez.— A previsão diz que fará sol — Eva respondeu, era óbvio que no dia seguinte o sol se fariapresente.— Por isso se chama previsão, porque pode mudar.O sorriso estava lá outra vez. O misterioso. Eva queria descobrir todos aqueles segredos e,provavelmente, revelar os seus também.Eles passaram um bom tempo conversando. Camila estava dando muito mais atenção aosoutros convidados — a um convidado em especial, Carlos, seu novo interesse romântico.Não que Eva se importasse, ela também estava preferindo a companhia de Poseidon à daamiga.Eva descobriu que Poseidon era muito fã da cidade litorânea. Ele sabia muitos detalhes ecuriosidades sobre o lugar, principalmente sobre as praias, e contava uma coisa diferente acada parada para mergulho e diversão.Levou um tempo para que Eva se sentisse à vontade para tirar a saída de praia e entrar naágua com Poseidon, ela preferia ficar admirando-o da borda da lancha enquanto ele nadavaelegantemente por entre as ondas. Não se arrependeu, porém, quando decidiu se juntar aele na água.Pareciam estar vivendo uma daquelas cenas de filme onde o casal nada um ao redor dooutro, ou de mãos dadas, ou quando um aponta algo bonito para o outro ver — Poseidonapontava, é claro, para mostrar a Eva algo que ele conhecia. Nesses casos, nos filmes, ooutro estava quase sempre prestando muita atenção ao parceiro para notar seus arredores.Por isso, Eva se espantava toda vez que voltava a olhar para Poseidon e ele estavaolhando para ela.A jovem mulher também o fascinava. Ele não era tolo, sabia que atraía as mulheres comopeixes e lulas atraíam os golfinhos. Desejo era o que a maioria sentia por ele. Poseidonnotou que Eva se sentiu do mesmo jeito que as outras quando se conheceram, mas, namedida que as horas iam passando e ele ficava mais tempo com ela, também notou que elaera capaz de ver além da aparência física. Eva ouvia o que ele falava e observava tudo oque ele lhe mostrava. Na metade do dia, ele estava tão encantado por ela quanto ela porele.O almoço seria na Ilha do Cedro, um recanto paradisíaco pouco frequentado pelos turistasda Costa Verde, no extremo sul do estado do Rio de Janeiro. Claro que não estava tãovazia quanto Eva imaginou, já que na hora do almoço algumas escunas paravam ali paradeixar seus visitantes fazerem suas refeições, como o piloto da lancha de Camila estavafazendo. De qualquer forma, Eva nem se importou com o número de pessoas do lugar. Elaescolheu uma mesa vazia em um dos dois únicos restaurantes da praia e se sentou, juntocom Poseidon, para aproveitar a comida.Não demorou muito, depois que eles terminaram de comer, para Poseidon pegar na mão deEva e tirá-la da praia principal, levando-a pela pequena trilha até as piscinas naturais, umpouco mais isoladas pela vegetação e pelas pedras. Ele deixou que Eva admirasse o lugar,como ela tinha feito com tudo o que ele lhe mostrou durante o passeio, antes de levá-lalentamente para dentro da água.Novamente, Eva se sentiu em uma cena de filme, aproveitando a água morna — algoinusitado para as águas do Sudeste — e a paisagem deslumbrante. Poseidon não a puxoupara nadar de verdade, como tinha feito nas outras praias pelas quais tinham passado. Emvez disso, ele a segurou pela cintura, de frente para ele, admirando os cabelos cor de areiae os traços delicados do rosto de Eva. Ela, por outro lado, tentava não olhar diretamentepara ele. Envolta pelas águas límpidas, pelos peixes coloridos e pelos braços fortes, Evaestava lutando para não ser mais seduzida do que estava sendo. Foi uma tentativa vã.Incapaz de manter os olhos longe dele por muito tempo, Eva olhou nas órbitas verdes esentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto, em sua barriga, sentia vários peixes — eaté tubarões — fazendo a festa, igual aqueles que os cercavam. Poseidon sorriusuavemente antes de se aproximar e beijar os lábios quentes de Eva. Nenhum dos doisqueria resistir mais àquela atração.O beijo foi doce a princípio, porém, incapazes de se conter, Poseidon segurou a cabeça deEva em suas mãos e tornou o beijo mais ardente e apaixonado. As mãos de Eva, emcontrapartida, percorreram o corpo de Poseidon, deslizando por cada fenda, cada linha quedelineava o físico perfeito. Separaram-se, ofegantes, e abriram os olhos. O casal seencarou com curiosidade e paixão.Ele encostou sua testa na dela, e de novo eles fecharam os olhos. Suas respiraçõesestavam tremendo mais que as águas calmas da ilha, quase tão agitadas quanto ospequenos seres aquáticos que giravam ao redor deles.— Obrigada — ela sussurrou.— Pelo quê? — Eva sentiu que ele sorria, já que não podia vê-lo com os olhos fechadospara senti-lo com mais intensidade.— Por tornar esse dia perfeito."Por ser mais do que eu jamais podia esperar", ela pensou. Achou que era cedo demaispara externar aqueles sentimentos novos que a invadiam. Achou que era cedo demais paracontar-lhe sobre o espaço em branco que ela tinha em seu coração... E que ela talvezpreenchesse com ele.***— Eu posso te mostrar coisas incríveis! — Poseidon disse, puxando a mão de Eva naintenção de levá-la para fora.Como Poseidon sabia onde ela estava hospedada? Era o que ela se perguntava.Na tarde anterior, quando se despediram na beira do mar, Eva não passou nenhumainformação para ele. Mesmo assim, ali estava.— Poseidon, está uma chuva enorme — ela insistia, encostada na porta, olhando a águacair como se o dilúvio fosse se repetir. Em dias assim, ela preferia um bom filme, pipoca ecobertor.Outra dúvida de Eva era como podia estar chovendo daquela maneira. O dia anterior tinhasido de um calor agradável, a previsão para o dia sucessor era calor também. Ninguémprevira uma garoa sequer, imagine uma tempestade.— Logo passa. Lembra o que eu te disse ontem?— Poseidon, a minha maior lembrança de ontem tem, sim, a ver com a sua boca, mas nãoexatamente com o que ela falava.Eva era assim, uma mulher que sabia o que queria. Naquele exato momento, ela queria otal filme passando na TV, mas deixava a pipoca e o cobertor de lado, não daria atenção àscenas que a tela reproduziria se estivesse perdida no corpo de Poseidon.O sorriso, misterioso e lindo, de Poseidon, que Eva estava começando a desvendar,mostrava que os planos dele eram outros. Ela tinha certeza de que envolvia água, fosse dachuva que caía continuamente ou do mar. Estranhamente, naquele dia, os olhos dePoseidon estavam verde escuro, como o mar revolto de maré alta.— Nós podemos reproduzir a sua lembrança. — Ele a puxou pela cintura, fazendo ocoração dela acelerar e os peixinhos invadirem seu estômago novamente. — Mas pretendofazer isso de forma diferente.Eva sabia que não adiantava teimar com ele, e nem queria. Aquele mistério todo valia apena. Eva era curiosa, não era à toa que se formaria em jornalismo.Poseidon selava seus lábios em um beijo curto, mas intenso. Tudo com ele era assim,intenso e quente, como o fundo do oceano.— O que tanto você quer me mostrar? — ela perguntou, entusiasmada, enquanto fechava aporta da casa.— Magia, loucura, paraíso e pecado — ele respondeu, sendo ainda mais misterioso. —Talvez sua roupa não seja muito apropriada.— O que tem de errado com meu vestido?Mesmo no meio da chuva, Paraty era quente. Eva deu de ombros e pegou na mão dele.As gotas quentes da chuva caíam sobre os dois. Não estava chovendo tanto quanto elaimaginou, mas o suficiente para ela entender o que tinha de errado com seu vestido.Se estivesse hospedada em outro bairro da cidade, Poseidon teria ido buscá-la com umguarda-chuva para que se molhasse apenas quando chegassem ao Centro, mas a casinhaque ela tinha alugado ficava convenientemente nas ruas de paralelepípedos. Ele não sepreocupou em cobri-los quando a puxou levemente para fora, nem se importou com osprotestos sobre as sandálias quando a levou ao meio da rua, onde os tijolos de cimentoestavam cobertos por um lençol de água.— Poseidon, isso é lindo! — ela se impressionou com a água refletindo as casas, como sefosse um espelho. Queria ter levado o celular para registrar o momento, mas, com medo dachuva, deixou o aparelho em cima da cama. — Imagina se parar de chover, essa águarefletindo o céu... Eu daria tudo para ver.Poseidon observava Eva, que estava com um olhar sonhador. Sabia que tinha acertado nasurpresa.Eva não se importava de estar molhando os pés, na verdade, ela estava mais interessadana voz grave e sedutora explicando como as ruas tinham sido feitas exatamente paraaquilo. A forma como Poseidon explicava, parecia que tinha vivido tudo aquilo. Os olhosdele pareciam até nostálgicos.Caminhavam em direção à praia, a água estava cada vez mais alta, o que começou apreocupar Eva. Seu vestido, que ficava pouco abaixo do joelho, já tinha que ser erguido ouficaria encharcado.— Poseidon, acho bom voltarmos...— Eu nem te mostrei o que queria ainda.Nesse momento, ele abriu uma garagem, revelando o que tinha lá dentro. Uma canoa, comespaço suficiente para duas pessoas, e um remo.— O que é isso? — Eva perguntou, com o olhar curioso e ansioso.— Você verá como eram os dias maravilhosos de Paraty. Pelo menos um pouco.A água tomou conta da garagem, fazendo a canoa ir para fora. Não era necessário esforçoalgum. Poseidon sorriu de forma divertida, segurou a canoa branca, cujo nome era Thetis, epediu para Eva embarcar. Não demorou muito, a chuva parou de repente. O sol apareceu,mas ainda estava um tímido se escondendo nas nuvens. Poseidon e Eva conseguiram ver opôr-do-sol da canoa, no meio da rua. Trocando beijos e carinhos.Quando já estava escuro, Poseidon remou até a garagem para guardar a canoa.— Então é aqui que você mora?— Não, eu só guardo Thetis aqui.— Onde você mora?— Vem, quero te mostrar mais uma coisa.Eva percebeu que ele fugiu do assunto, mas não insistiu. Daria seu jeito de descobrir, afinal,ele fez a mesma coisa. Chegou de surpresa.Caminhando pelas ruas ainda inundadas, Eva falava mais um pouco de sua amiga Camila,de quem ela não tinha notícias desde a noite anterior.Foi quando ela reparou no reflexo das casas na água. Era como um espelho perfeito. Ascasas em estilo colonial, brancas com batentes e esquadrias azuis, as árvores. Era comoviver na época em que a monarquia portuguesa se instalou no Brasil. Eva gostava dehistória. Ver o lugar que tanto gostava dessa forma era mágico.Poseidon a deixou na porta de onde estava hospedada, depois que jantaram, com aesperança de que ela o convidasse para entrar.— Então, é isso. Obrigada mais uma vez.— Talvez você queira estender mais a companhia.— Poseidon, serei sincera. Você parece meu próximo erro.— E isso é ruim? — De novo, o sorriso estava lá. Aquele sorriso misterioso que fazia ocoração dela perder o ritmo. Seu olhar era divertido, verde como o mar calmo após umatempestade.— De forma alguma. — Ela sorriu, deu um beijo em sua bochecha e entrou, deixando ohomem ainda mais desejoso por ela.***Os rumores se espalharam tão rápido quanto passaram-se os dias. Em uma semana,Camila estava jogada na cama de Eva implorando que ela contasse todos os detalhes deseu novo romance.Novo. A palavra fazia com que Eva se sentisse levemente tentada a explanar o que tinhavivido nos últimos dias. Mas não precisava contar nada, se parasse para pensar, já que, poronde quer que andasse na cidade histórica, as pessoas cochichavam a seu respeito e arespeito de Poseidon.Era engraçado como ninguém realmente o conhecia, mas todos tinham algo a dizer sobreele. De acordo com os moradores e comerciantes, principalmente os mais próximos daágua, diziam que ele aparecia quando chovia e as ruas se alagavam, pegava sua canoa erodava pelas ruas, observando as casas com um semblante nostálgico.Nostalgia era o que Eva também observava nele, como se ele tivesse presenciado tudo quecontava a ela. Não apenas sobre as ruas alagadas, mas Poseidon a levara para passear delancha para conhecer outras ilhas e praias que não tinha visto no dia em que seconheceram. Ele sabia sobre lendas e histórias, sobre fauna e flora, falava sobre ascriaturas marinhas que existiam por ali. Poseidon, inclusive, a levou para mergulhar,ensinando-lhe tudo que poderia saber sobre o esporte.Foi a semana mais mágica de sua vida. Ela nunca pensou que se sentiria daquele jeito, quese derreteria como larva com o calor que ele emanava ou que ficaria petrificada desentimentalismo com os sorrisos dele. Eva não queria que aquilo terminasse.— Vão se encontrar amanhã? — Camila perguntou, interrompendo os pensamentos daamiga.— Não sei.— Como não sabe? Não marcou de vê-lo? Estão namorando há uma semana e nem se deuao trabalho de marcar um último encontro antes de partir?— Nunca marquei nada com ele.— E ele apareceu todos os dias? Amiga, acho que você o fisgou direitinho.Eva riu da brincadeira, mas sentiu os peixinhos no estômago de novo só de pensar napossibilidade que a amiga cogitava.— Espero que ele venha amanhã — confessou em voz baixa enquanto guardava as roupasna mala.Como parecia que tudo que ela desejava estava se realizando naquela semana, Poseidonapareceu em sua porta de manhã cedo, segurando um copo de café e uma sacola de pãodoce. Era incrível como em uma semana ele já era capaz de lê-la como a uma revista.— O que gostaria de fazer hoje?— Podemos só... andar pela cidade?Poseidon inclinou levemente a cabeça e sorriu, concordando com a proposta simples.Não foi como nos outros encontros, quando ele apontava para algum lugar ou alguma coisae falava sobre a história incrustada nas pedras, nas madeiras, como se objetos econstruções pudessem guardar lembranças e emoções de uma outra época. Não. Dessavez, Poseidon simplesmente deixou que ela segurasse sua mão e andasse abraçada aoseu braço, com a cabeça repousada sobre seu ombro.Eles caminharam sem rumo, pelo tempo que durou até que ambos terminassem suasbebidas — ela o café e ele o chá gelado. Nenhum dos dois disse nada, mas era como sedissessem tudo. Quando ficou cansada, Eva puxou Poseidon pela mão e o sentou em umbanco em frente a uma pousada rústica, deixando o corpo cair sobre as pernas dele.— Tem espaço no banco sabia? — ele perguntou, rindo e abraçando-a pela cintura paraimpedir que ela aceitasse sua sugestão.— Eu preciso falar com você — mesmo que estivesse se sentindo triste pelo que iria dizer,Eva não conseguiu deixar de sorrir enquanto observava o rosto dele.— O que é?— Vou embora amanhã de manhã bem cedo.A frase foi como um balde de água fria na manhã morna e deliciosa que estavam tendojuntos. No entanto, Eva sentiu seu próprio sorriso se alargar quando viu que Poseidon nãogostou da informação. Era lisonjeiro — e tentador — ver como ele queria passar maistempo com ela. Eva não era boa em resistir às tentações.— Eu queria...Por algum motivo, ela não teve coragem para continuar o pedido. Pelo menos, não até quePoseidon voltasse a olhar nos seus olhos e sorrisse para ela.— O quê? — ele perguntou com carinho transbordando pelos lábios.— Se eu te contar, vai fazer acontecer também? — Ela não sabia de onde tinha vindoaquela insegurança, mas estava com dificuldade de contê-la.— Não fiz exatamente isso na última semana? — ele perguntou rindo.Eva ficou observando os traços firmes e expressivos do rosto dele, como se pudessedecifrar o que aquela frase queria dizer. Ela tinha percebido que muitas das coisas quedisse que desejava tinham acontecido de verdade. Não fora isso que a levara a pensar quepoderia desejar o que pediria a ele? Respirando fundo, ela externou seu novo desejo:— Eu queria que você viesse comigo.Poseidon levantou levemente as sobrancelhas, surpreso com o pedido dela. Não negou deimediato, como ela temeu que fizesse.— Onde você mora? — ele perguntou simplesmente.— Brasília.Foi a primeira vez que ela detectou um sentimento de insegurança da parte dele, como seele não soubesse como reagir ao que ela dizia. Mas ele apenas tocou no rosto deladelicadamente, traçando a curva do nariz dela, das sobrancelhas, da linha do rosto.— Pega seu passaporte e segura minha mão — ela pediu de novo. — Quero te mostrar oque eu sei também.Finalmente, ele sorriu de novo, derretendo todas as defesas de Eva.— Acho que não vou precisar do passaporte — ele respondeu em tom de brincadeira,acalmando os nervos da jovem em seu colo.***— Tenho uma longa lista de ex namorados — Eva puxava a mão de Poseidon —, eles vãote dizer que eu sou louca. Mas só desbravaram essa cidade da forma correta, porqueestavam comigo.Poseidon estava incomodado, sentia falta da maré próxima, sentia falta da água. Algumacoisa naquele lugar estava errada. Era tudo plano. Plano demais. Sem morro, semondulação. Tinha certeza de que, se um terremoto atingisse Brasília, a cidade não seriaafetada.A única alegria para o homem charmoso, naquela cidade estranha, mas linda, era Eva. Elabrilhava. Não como em Paraty, que ela parecia brilhar junto ao mar, mas brilhava por si. Acada lugar que iam, ela conhecia a história, conhecia o porquê de ser daquela forma.— Como foi projetada para ser a capital do país, Brasília foi criada para ser exemplo — Evadizia, apresentando cada um dos pontos turísticos.— Então é aí que devem jogar a bomba? — ele brincou quando passaram pelo Palácio doPlanalto.— Não fale assim, Poseidon. Eu sei, a maioria aí não vale um centavo, não vale o salárioque tem. Mas muitos são bons — Eva ponderou um pouco. — Vamos tirá-los e depoisjogamos a bomba, pode ser? — ela completou com uma piscada.Poseidon amava cada coisa nova que descobria em Eva. Ela era jornalista, não tomavapartido de nada sem antes ver todos os lados. Ela tinha uma curiosidade que o encantava.Eva sabia que ele não estava muito bem, dava pra ler naqueles olhos cor de mar dele, que,naqueles dias em Brasília, pareciam perder um pouco do tom vivo, como se o oceanoestivesse triste e com saudade. Mesmo sendo o mistério em pessoa, Eva começava adesvendá-lo.Com muito trabalho a fazer, ela tentava virar três para dar atenção a Poseidon, trabalhar eainda se cuidar. Não podia se deixar de lado.Almoçavam em um restaurante qualquer, Eva não tirava os olhos do notebook, trocandoe-mails atrás da confirmação de mais um esquema de corrupção no país. Poseidon nãotirava os olhos dela.— Eva — ele chamou pela terceira vez para que ela olhasse.— Desculpe. Estou tentando confirmar tudo para poder soltar a notícia.— Não se desculpe por ser tão boa no seu trabalho. Inclusive, isso é uma das coisas quemais me atrai em você. — Eva corou, há muito tempo não se sentia como uma garotinha detreze anos sendo cortejada por um garoto mais velho. — Muitas coisas me atraem paravocê, na verdade. É como se fôssemos dois ímãs. Quando você me pediu para vir comvocê, eu sabia que seria necessário. Me separar de você não é uma opção. E eu acho queestá na hora de darmos um passo a mais. — Eva perdeu o ar. Não sabia o que ele iria falar.O silêncio e a tensão entre os dois era notável, o medo de Eva era ele pedir para casar, eisso ela não queria. Quer dizer, queria sim, mas não agora. Ainda estava cedo. O medo dePoseidon era ela dizer não para seu pedido.— Eu queria saber se... — ele estava tão nervoso que mal conseguia dizer qualquer coisa.— Você aceita ser minha namorada?Ela finalmente respirou, não era algo que teria que negar.— Poseidon, eu achava que já estávamos namorando — ela respondeu.— É que eu sou das antigas, gosto de colocar tudo nos conformes. Eu queria saber seposso fazer parte do seu coração, dizer à minha família que estou namorando a humanamais linda que existe... Queria oficializar.— É. Eu tenho um espaço em branco no meu coração. Talvez, só talvez — ela disse emtom de brincadeira —, eu possa preencher ele com seu nome.***Foi diferente de todas as outras vezes em que fez sexo. Eva já tinha feito com pressa,devagar, brusca e delicadamente, com homens de vários tipos e tamanhos, mas a conexãoe sensualidade que a cercavam quando estava com Poseidon eram totalmente diferentes.Apesar de estarem famintos um pelo outro, eles ansiavam por prazer — o próprio e o dopar.Poseidon, por sua vez, sentia como se estivesse em casa. Não era só porque haviafinalmente chovido em Brasília depois de duas semanas, mas também porque se sentiainvencível quando tocava em Eva.Eles tinham ido a outro encontro, mas dessa vez tinham voltado para o apartamento deEva, e ela o convidou para entrar. Ele envolveu-a em sua sedução no elevador mesmo, nãoconseguindo mais ficar longe dela. Por isso, não foi surpresa que ela tivesse dificuldade emabrir a porta, com os olhos fechados e as sensações à flor da pele enquanto ele a beijavalenta e sedutoramente.Quando finalmente estavam dentro do apartamento, Poseidon tomou a chave da mão deEva e ele mesmo trancou a porta enquanto a prensava contra a parede branca em um beijoininterrupto. Ele deslizou as mãos pelos braços de Eva enquanto permanecia com suasbocas coladas em uma carícia sem fim, tanto delicada quanto faminta. O gosto dela eracomo o das águas salgadas do mar e os sons que saíam de sua boca eram como arebentação das ondas.Subiu e desceu as mãos mais lentamente do que pensou que conseguiria, acariciando cadacentímetro das mãos dela até a borda da camisa que ela vestia. Passou as mãos por baixodo tecido e voltou a subi-las, acariciando a pele sedosa dessa vez.Eva estremeceu com o toque, agarrando os fios de cabelos dele e puxando sua cabeçapara trás, interrompendo o beijo por um segundo para olhar em seus olhos. Sua respiraçãoacelerou mais quando viu as profundezas azuis escurecendo. Eles já haviam se beijadoantes, mas nunca com aquele fervor.Poseidon voltou a beijá-la, mas não em sua boca. Ele traçou um caminho de beijos elambidas de seus lábios, passando pelo queixo e pescoço, até chegar ao seu ombro, sópara voltar até o lóbulo da orelha dela.Enquanto a embriagava com seus lábios e língua, as mãos dele alcançaram seus seios sobsua blusa. Ele deu um pequeno sorriso quando sentiu que o fecho era na frente, facilitandoseu trabalho para alcançar a pele dela mais uma vez. Ela segurou um gemido e inclinou acabeça para trás, descansando-a na parede para aproveitar as sensações que Poseidon lhedava.A blusa e o sutiã só foram inteiramente removidos depois de Poseidon massagear os seiosde Eva até não conseguir resistir e gemer. Ele a desencostou da parede e deixou-a nua dacintura para cima, apreciando os mamilos intumescidos. Sem pensar duas vezes, Poseidonlevou a boca até eles, encostando Eva na parede de novo. Ela gemeu no mesmo instante,sem saber se era pela língua de Poseidon em seu mamilo ou pela frieza da parede geladaque tocava seu corpo aquecido pela excitação.Ele tomou seu tempo, lambendo um mamilo e depois soprando, enquanto acariciava o outrocom a mão. Sugou e beliscou cada um dos mamilos, chupando e apertando até ela cravaras unhas em seus ombros, arfando sem parar.Como ele estava começando a perder o controle também, Poseidon voltou a beijar a bocade Eva, dessa vez sugando e mordendo os lábios dela. Suas mãos foram parar no traseirode Eva, segurando-a com firmeza para que ela pudesse envolver sua cintura com aspernas.Eles foram até o sofá nessa posição, por sorte sem esbarrar em nada no caminho, já quePoseidon não estava muito familiarizado com o lugar. Ele a deitou na superfície branca,inclinando-se levemente para cima para alcançar os botões da própria camisa entre eles.Eva o ajudou, puxando a camisa de dentro da calça e abrindo os botões de baixo paracima. Eles chegaram ao meio ao mesmo tempo e, enquanto Poseidon removia a camisados braços, Eva acariciava seu torso de músculos definidos.Eva tomou seu tempo, como ele tinha feito com ela ao lado da porta, e o acaricioulentamente, sentindo cada um dos músculos sob seus dedos. Quando ela levou a mão até obotão da calça dele, Poseidon fez o mesmo, abrindo a calça dela e puxando levemente parabaixo. Eva levantou o quadril para que ele conseguisse remover sua calça e sua calcinha.Ele estava com a calça aberta, mas não deixou que ela terminasse de removê-la. Em vezdisso, ele a observou em sua beleza natural, entregue aos caprichos dele. Voltou a tocá-la,então, começando pelos joelhos, deslizando e massageando languidamente suas coxas,até encontrar os lábios de seu sexo.Eva ofegou e arqueou levemente as costas quando ele a tocou onde a pele era ainda maissensível. Novamente, ele tomou seu tempo, acariciando, estimulando o clitóris. Inclinou-sesobre ela de novo, para beijar-lhe a boca, quando a penetrou com um dedo. Acariciou seuinterior, em círculos, retirando e colocando seu dedo. As respirações dos dois aumentavamem força e ritmo, assim como os toques de Poseidon. As mãos de Eva desceram pelascostas dele, arranhando a pele. Poseidon inseriu outro dedo dentro dela, arrancando outroarquejo contra seus lábios.Eva agarrou seus cabelos, passou as pernas por seus quadris e o puxou contra ela,ronronando quando sentiu a ereção dele, protegida pela calça, apertar contra a mão dele eseu sexo, fazendo com que os dedos tocassem mais fundo. O som fez poseidon perderlevemente o controle, aumentando ainda mais a velocidade de suas carícias.Quando percebeu que ela estava molhada o suficiente e sem conseguir se conter mais, elese levantou rapidamente, retirou a calça e a cueca, colocou um preservativo que retirou dobolso da calça e voltou para a posição de antes. Dessa vez, suas mãos estavam umatocando no interior da coxa de Eva e a outra do lado de sua barriga, para apoio.Inclinou-se sobre ela, roçando seu pênis na entrada umedecida, mas sem penetrar, apenastorturando ambos com a espera enquanto voltava a atenção para os lábios e os seios dela.Eva arranhou-lhe as costas de novo e tentou puxá-lo para si, para que ele acabasse logocom a tortura, mas Poseidon apenas sorriu, friccionando seu membro nos lábios inferioresmais uma vez.Eva soltou um som gutural, algo entre um gemido e um rosnado, que veio do fundo de suagarganta, talvez do fundo da alma, antes segurar os cabelos de Poseidon e envolvê-lo comsuas pernas, repetindo o gesto de aproximação. Dessa vez, ele não resistiu, deixando-sepenetrá-la na força e velocidade exigidas por ela.Arfou de novo, acompanhada de Poseidon, quando o sentiu preenchê-la por inteiro. Ele semanteve parado, então, para que seus corpos se acostumassem um ao outro. Não levoumais de um minuto, nem deu tempo de suas respirações regularizarem, e então ele jáestava saindo e entrando de novo. Firme. Forte. Repetidas vezes. Como se buscasse poralgo além do preenchimento, além da satisfação.Ela arranhava suas costas, apertava sua bunda, puxava seu cabelo. A cada estocada, Evase esquecia ainda mais que estavam manchando seu sofá branco com o suor de seuscorpos, com a prova de sua paixão. Poseidon a beijava, lambia, mordia, como se nãopudesse se saciar da mulher sob seu corpo. As mãos dele passeavam pelo corpo dela,como se precisasse gravar cada curva, cada monte, cada fibra.Não foi surpresa para nenhum dos dois que atingissem o ápice juntos, mesmo que nenhumdeles tivesse realmente imaginado que fosse possível. A paixão deles, porém, levava-os acrer que podiam alcançar mais.Poseidon se deixou cair sobre ela, descansando a testa sobre o ombro de pele acetinada.Ficaram naquela posição até que suas respirações se acalmassem. Depois, ele se retiroude dentro dela e levantou. Antes de sair dali e ir para o banheiro para se livrar da camisinha,ele pegou na mão dela e a forçou a se sentar. Beijou seus lábios e pediu que ficasse ali.Quando voltou, ela estava com a cabeça jogada para trás sobre o encosto do sofá, com aboca levemente aberta, como se ainda buscasse por ar. Ele não se sentou ao lado dela,mas colocou um dos joelhos entre as pernas dela e se inclinou para beijar-lhe de novo.— Está cansada? — perguntou enquanto acariciava levemente seus seios.— Talvez — provocou, arrancando outro sorriso dele.— Vem — ele se afastou e puxou-lhe pela mão para que ela se levantasse também —,vamos para o quarto.Na cama, a paixão tempestuosa que os tomara na sala deu lugar a um amor calmo. Eles setocavam em uma exploração curiosa, descobrindo os pontos sensíveis e as áreasinexploradas, mas sem se perder no calor do momento. Era a hora perfeita, ele pensou.— Preciso te contar uma coisa.Ela não respondeu, apenas olhou-o nos olhos.— Talvez você já tenha notado, mas não fez as ligações ainda.— Do que está falando?— Eu não sou... como os outros caras que você ficou.— Isso eu já percebi mesmo — ela disse sorrindo.— Estou falando... — ele fez uma pausa quando ela inspirou profundamente depois de elepassar o polegar sobre o mamilo dela. — Estou falando sobre as coisas que posso fazer.— Acho que não estou entendendo.— Sabe quando você disse que não iria chover em Paraty e pouco depois as ruas estavamalagadas para nosso passeio de bote? — Ela assentiu. — As coisas que sei sobre o mar, omodo como os peixes não chegavam tão perto de nós quando estávamos na água. — Elaassentiu de novo, mais lentamente dessa vez, como se estivesse começando a entender oque ele queria dizer. — Meu nome... Não é coincidência.Ela parou de mover a mão, sua exploração sendo interrompida quando sua atenção estavatotalmente concentrada nas palavras que saíam da boca dele.— Eu sou Poseidon — ele afirmou por fim. — Não como o deus do mar. E sim o deus domar.Eva não disse nada, ficou olhando para ele com os lábios levemente entreabertos. Depois,ela voltou a explorar o corpo dele com os dedos, ainda em silêncio.— Posso provar, é claro — ele continuou, com medo de que o silêncio dela quisesse dizerque ela não acreditava. — Mas é mais difícil aqui na capital.A questão não era que ela não acreditava nele, e sim que ela acreditava. Agora tudo faziasentido para ela. As chuvas inesperadas, o conhecimento dele, as habilidades que ele tinhana água e, principalmente, o desconforto dele em sua cidade. Ali ele estava longe do mar,longe de casa, estava desconfortável.— Eva.A voz dele ficou profunda, como estivesse se contendo para não chamá-la. Certamente, eleestava lhe dando tempo para absorver a revelação. Mas ela não precisava de tempo.Sorriu e se inclinou, beijando-o languidamente.— Quer dizer que eu realmente seduzi um deus grego.Ele sorriu também, aliviado.— Sinto-me mais como um rei que encontrou sua rainha.— Então, vamos descobrir o que você quer, majestade?Ela se inclinou para beijá-lo de novo. Sem interrupções e revelações dessa vez.***— Então, vai ser sempre assim? — Eva perguntou a ele depois de mais uma discussão.Toda a pressão de namorar o Poseidon fez Eva ficar receosa. Ele era nada mais nadamenos que o deus dos mares e dos terremotos. O que muitas mulheres desejavam, paraEva, era motivo de insegurança. Ela só queria a calmaria de antes.Não, as discussões não faziam eles desistirem. Poseidon era bom em tudo. Bom emaprender com ela, bom em estar com ela. Era extremamente romântico — como na noiteseguinte à primeira vez dos dois, que ele preparou um jantar à luz de vela, regado a massase vinho para ela.— Onde arrumou esse vinho? — ela tinha perguntado. Nunca tinha experimentado algo tãoperfeito.— Dionísio fez especialmente para mim.Ela também notou que ele estava muito à vontade depois de contar sobre sua origem. Ashistórias do Olimpo eram um tanto quanto divertidas. Eva não sabia que os deuses podiamser tão temperamentais. Achava que era só ficção.Mas o que ela sabia? Para ela, Poseidon também não passava de mitologia até algunsmeses antes.Ainda era incrível estar com ele. O sexo era maravilhoso. Tudo era intenso demais. Aíestava o problema. Até as brigas, por mais novas que fossem, eram intensas.— Por favor, Eva, considere apenas — ele pedia, mais uma vez.— Poseidon, eu sei. Você tem suas responsabilidades, não é fácil. Tem que ir cuidar do mare tudo. Mas o que eu vou fazer?— Me ajudar.— Poseidon, a eternidade nunca foi algo que almejei.— Eu sei, por isso estou pedindo para você considerar. — Os olhos estavam verdes ecalmos, pareciam o mar em dia ensolarado, pedindo para que as pessoas entrassem nele.E era exatamente isso que Poseidon fazia, implorava para ela entrar nas profundidades deseu lar. Para que Eva considerasse se tornar uma deusa, uma imortal, e vivesse com elenas profundezas do oceano.Mas era impossível para Eva ceder. A eternidade era tempo demais, ela se entediava comfacilidade. Não era a toa que sua lista de ex-namorados era gigantesca.Sabia que amava Poseidon. Só não tinha declarado ainda. Precisava ter certeza se iriaceder aos desejos dele.Eva fora criada em Brasília. Cidade grande, bonita, moderna. Não estava pronta para ir aofundo do mar. Sabia que lá era ainda mais belo que a capital brasileira, mas era tudo muitoantigo. Não queria ter poder de comandar criaturas das quais, na verdade, tinha medo. Nãoqueria o poder.Eva só queria viver um amor. Calmo e intenso. Exatamente como estava acontecendo como deus dos mares, pelo menos antes dos pedidos dele para que ela o seguisse.Os dias passavam, e chegaram à conclusão. A solução era passar uns dias distantes parater certeza. Poseidon também tinha uma reunião no Olimpo com os irmãos. Um mês. Foi otempo que passaram distante.Eva sentiu saudade dele nos primeiros dias, mas continuou vivendo sua vida. Eva nãoesqueceu dele, só sabia que sua vida não mudaria muito sem ele.Poseidon preparou um castelo novo, do gosto de Eva, perto de Paraty para poderem estarsempre no Brasil. Já conversou com os irmãos e estava tudo certo para torná-la deusa daságuas salgadas. Cada lugar que olhava, desejava Eva.Reencontraram-se no aeroporto de Brasília e nem deram muito tempo para conversa.Chegaram em casa e se amaram, como se fosse a última vez.Depois das energias recuperadas, Poseidon chamou Eva para o sofá branco, onde tinhamdeixado seus corpos serem um só naquela primeira vez.— Eva, eu te amo.Eva perdeu o ar, o chão, sentiu-se tonta. Não sabia como responder. Ele percebeu que elaestava pálida e continuou falando:— Por isso, insisto tanto para que você se torne a rainha dos mares. O que sinto por vocêestá além de tudo que já senti em toda minha existência. Nossa casa, um Palácio no fundodo mar, está pronta. Acho que fiz do seu gosto. Meus parentes, os outros deuses, jáconcordaram em tornar você a deusa das águas salgadas. Já está tudo pronto para nossapartida.— Mas eu não vou, Poseidon — ela nem sabia que havia tomado a decisão, somentepronunciou as palavras, descobrindo que os dois nunca dariam certo.Doía. Dizer não a ele era como dizer não a si mesma. Mas, na verdade, era o contrário.Eva teria que abrir mão da vida normal, da sua cidade natal e de sua família, teria que abrirmão de seus sonhos para estar ao lado dele.— Eva, por quê?— Porque não. Porque eu não vou deixar minha vida normal que eu tanto gosto para estarcom você. Eu também te amo, mas não posso abrir mão de mim para estar com você —Eva dizia em meio aos soluços. — Nós nunca daríamos certo, meu amor — ela afagou orosto dele. — Você é um ser eterno, que tem suas responsabilidades longe daqui. Epertence a um mundo que eu nunca sonhei em fazer parte. Eu sou grata por tudo que memostrou e me fez sentir. Mas acho que chegamos ao nosso fim.Porque era isso, estar com Poseidon no fundo do mar era abrir mão de si mesma. De tudoque construiu, de tudo que viveu. Era abrir mão de sua vida. A vida humana podia serconsiderada pacata, mas era o que ela queria. Nada de extraordinário, apenas uma vidanormal.Poseidon, que não estava acostumado a ser rejeitado, começou a juntar suas coisas. Suavontade era causa um terremoto naquele instante, fazer a cidade tremer para demonstrar oquanto doía o não de Eva. Mas fazia parte do amor aceitar que ela não queria. Ele entendiaisso. Deixou-a chorando no sofá enquanto fazia suas malas. Olhou para a cama de Eva,onde se amaram há poucos minutos. Queria poder voltar no tempo, pensou até em recorrerao pai, que estava em pedaços no fundo do Tártaro, para poder viver aqueles dias com elanovamente. Para amá-la fisicamente antes, para aproveitar mais cada segundo.Com as malas na porta, olhou para ela de novo. Correu até o sofá e a abraçou. Beijou-auma última vez, mesmo em meios às lágrimas.— Achei que você ia preencher o espaço em branco no seu coração com meu nome.Ele não esperou a resposta, saiu pela porta sem olhar para trás.— Eu também, Poseidon — mesmo ele não estando ali, ela respondeu. — Acontece queesse espaço em branco será preenchido com o meu nome.

ANTOLOGIA GIRL POWERWhere stories live. Discover now