1962, Montpellier

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"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal

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"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal."

— Oscar Wilde
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O rádio, disposto estrategicamente sobre o balaústre da sacada, transmitia a melodia calma e harmônica de La Vie en Rose, na voz de Édith Piaf.

Nada melhor do que um clássico chanson française no clima gélido do inverno de Montpellier, onde os Cullen mantinham residência fixa desde 1958.

Sentada ao lado do rádio com as pernas cruzadas e as mãos apoiadas sobre o balaústre, se encontrava Mia; entoando a canção em um dueto suave com a cantora.

Bem próxima à ela, com um sorriso terno nos lábios, Esme montava um arranjo de flores silvestres enquanto observava a jovem cantarolar como um rouxinol. A matriarca encantava-se continuamente com os talentos infinitos de Mia, que sempre a surpreendiam de alguma forma.

Nesse momento, Esme deu graças à Deus por Carlisle ter insistido nos talentos musicais da jovem. Agradeceu também à invenção do daguerreótipo, que fez crescer em Mia uma paixão impetuosa pela fotografia. E, por fim, aos poetas e escritores que habitavam na mente dela em forma de palavras cálidas e citações estonteantes que sempre deixavam os Cullen maravilhados.

Aos olhos da família, Mia era uma flor delicada que trazia um aroma indescritível consigo. Apesar dos espinhos, eles souberam identificar nela a mais pura e graciosa essência da alma.

Mesmo que seu comportamento pudesse ser considerado um tanto hostil, era perceptível que ali só existiam boas intenções. E que, dentro de si, havia uma menininha amedrontada que foi privada de muitas coisas na vida por amadurecer rápido demais.

O que Esme enxergava em Mia não era, nada mais, nada menos, do que uma garotinha. A sua garotinha.

Percebendo o doce olhar da matriarca em si, Mia pôs-se a sentar ao lado de Esme na mesinha de madeira enquanto finalizava os últimos versos da canção.

Et dès que je t'aperçois
Alors je sens dans moi
Mon cœur qui bat*

O que te aflige, querida? — questionou a mais velha, parando de podar o caule das flores, ao notar o olhar distante de Mia.

Existe algo que há anos tem me silenciado — suspirou.

Um ato bastante humano que Mia fazia questão de manter sempre que podia. Mesmo que odiasse qualquer coisa relacionada à humanidade, ela via no simples ato de respirar uma forma de se parecer um pouco menos com uma aberração.

❛CHOICES ── Crepúsculo ❥ [Seth C.]Where stories live. Discover now