Capítulo 09

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Aviso: As partes em itálico são flahsbacks

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Os olhares eram difíceis de disfarçar.

Com o passar dos dias e da paz que estava durando demais, sem que nenhuma morte fosse notificada, foi inevitável que o beijo trocado durante aquela noite se repetisse nos dias seguintes. Aconteciam obviamente fora do trabalho, mas era impossível que não acabassem se encarando demais em alguns momentos, ou que estivessem se tornando muito mais protetivos e atentos em relação um ao outro.

A falta de novas ocorrências e a estagnação do caso sem novas evidências trouxe uma onda de frustração que era extravasada durante as noites fora do serviço noturno no quarto de um dos dois.

O sexo veio rápido depois do primeiro beijo e era quente e lento de um jeito gostoso demais. Havia uma fúria latente que precisava ser externada e ela vinha em marcas na pele, mordidas e beijos sedentos e ferozes. Mas apesar de forte, ainda era devagar o jeito que Hyunwoo se metia para dentro e ainda era carinhoso o jeito que ambos se abraçavam quando tudo terminava.

O tempo parecia curto demais, mas eles aproveitavam cada segundo, jogando para fora da cama qualquer preocupação. Menos naquele dia.

Depois de mais uma dia cansativo e mais uma noite de sexo, Jooheon deitou-se de costas ainda nu, olhando para o teto de forma pensativa. Hyunwoo estava prestes a cair no sono, mas percebeu o olhar contemplativo do mais novo e não pode impedir-se de perguntar o que ele tanto pensava.

— Estava só... Pensando que já faz mais de um mês que cheguei e... — disse, suspirando em seguida — Me desculpe por estar pensando nisso agora.

— Você não tem que se desculpar — Hyunwoo virou-se na cama — Tem sido difícil.

— Eu quero te contar uma coisa — Jooheon disse de forma rápida, como se estivesse com medo de perder a coragem.

Hyunwoo o encarou, aguardando.

— Eu... — o Lee prosseguiu — Eu não me lembro de nada do que aconteceu comigo antes de eu parar no orfanato — suspirou — Eu acordei no hospital. Disseram que eu quase tinha morrido em um acidente de carro em um local afastado. O veículo explodiu com mais duas pessoas dentro, que eles alegam terem sido meus pais biológicos, mas não havia documentos a serem recuperados e ninguém veio atrás de mim ou deles. Eu perdi a memória de quem eles eram, da minha vida toda antes disso. Não faço ideia de quem eu era antes desse acidente acontecer — mordeu o lábio porque, embora aquele fosse um tópico sensível, já fazia muito tempo que não o deixava vulnerável daquele jeito — Eu sempre quis saber. Não é como se tivesse feito grandes avanços ou como se não gostasse da família que me adotou mesmo sendo uma criança mais velha. Eles foram ótimos pra mim, mas... Eu sempre tive vontade de descobrir o que eu tinha esquecido.

As mãos de Hyunwoo foram direto para os cabelos do Lee, acariciando enquanto ele contava e estimulando-o a se abrir o quanto quisesse.

— Mas... Desde que cheguei aqui... Estou com medo.

— Medo de que? — o mais velho perguntou, em voz baixa.

— Tenho medo do meu passado ser tão terrível como o dos incendiados — confessou aos sussurros — Tenho medo de que este seja o meu passado.

— Mas... Por que você acha uma coisa dessas?

— Eu não sei... — Jooheon encolheu-se buscando por mais carinho e Hyunwoo prontamente o atendeu — Eu sempre sinto algum tipo de conexão com esse caso. De um jeito muito estranho. Tenho ficado paranoico ligando isso aos casos recentes... Tenho ficado com medo até de mim.

— Olha pra mim — Hyunwoo buscou o rosto de Jooheon, acariciando suas bochechas e percebendo seus olhos vermelhos; um sentimento forte demais o tomou naquele instante — Este passado não é seu. Eu tenho certeza.

— Como pode ter certeza? — o mais novo perguntou, segurando as mãos de Hyunwoo em seu rosto e sussurrando com a voz quebrada.

— Porque você é bom demais para estar ligado a qualquer coisa ruim — respondeu, beijando-o de forma suave — Tenho certeza de que tudo isso tem sido pesado, mas também sei que nada disso tem a ver com você.

Embora Jooheon quisesse confrontá-lo mais uma vez e dizer que aquilo não o tinha convencido completamente, ele desejava muito que aquela fosse uma verdade. Por isso aceitou-a por hora, tentando deixar fora da cama o que ele sequer deveria ter colocado lá.

Apenas puxou o corpo mais velho sobre o seu para que pudessem se sentir mais uma vez.

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O lugar estava preparado para a grande noite.

O mais novo havia tomado um banho longo, vestido em roupas brancas e chorava enquanto a mãe penteava seus cabelos. A mulher não tinha nenhuma expressão no rosto, mas uma única lágrima caiu enquanto ela encarava o caçula uma última vez.

O destino não poderia ser mudado.

As outras crianças esperavam na sala de estar, observando o pai pela janela, enquanto rezava ajoelhado diante da pedra lisa que seria usada para o sacrifício. Esteve ali o dia todo, pedindo por algo que nenhum deles entendia e todos eles pareciam nervosos demais quando o mais novo entre eles passou pelo cômodo sendo levado para o lado de fora com a mãe.

Uma das crianças, de cabelos mais claros, começou a chorar também. Era apegado demais ao caçula, e não queria ver o que aconteceria lá fora.

— Por favor — ele agarrou a roupa de outro dos irmãos, sabendo que o que pedia era perigoso demais.

O mais jovem já estava diante da árvore. Os pés foram descalços enquanto ele se sentava sobre a pedra e o pai ordenou que parasse de chorar.

— Essa é a vontade de Deus. — pontuou — Como espera entrar no céu se chora diante de sua vontade?

Mas ele não conseguia parar. O corpo foi preso ao redor da árvore com cordas e o pai continuava a rezar.

— Este é o único que vem da minha semente — dizia em voz alta e de olhos fechados o pai — O único com o qual o Senhor nos presenteou na forma mais pura da criação. O nosso preferido. Agora entrego o que tenho de melhor para que nossos pecados sejam perdoados e novos frutos ainda melhores surjam.

O garoto gritou ao ver o punhal que o pai carregava e chorou muito alto ao vê-lo erguer o objeto sobre a cabeça. Mas antes que a lâmina encontrasse seu corpo, um barulho estrondoso se fez ouvir dentro da casa.

Ao desviar o olhar para a residência, viram fogo tomando todos os cômodos e os olhos dos pais se arregalaram enquanto tentavam entender o que estava acontecendo. A cerimônia havia sido interrompida e as crianças correram para fora enquanto a casa era tomada por chamas velozes que se espalharam sem mais nem menos.

— O que aconteceu? — o pai gritou para um deles enquanto corria para mais perto da casa, confuso e irado.

Nem ele e nem a mãe perceberam quando uma das crianças cortou as cordas e libertou o caçula. O menino foi colocado no colo do irmão de cabelos claros e todos correram em direção ao riacho.

Mas o salvador não conseguiu segui-las a tempo. Os cabelos foram puxados para trás pelo pai, que percebeu tarde demais o plano dos filhos. Uma das crianças gritou em sua direção, mas ele pediu que continuassem correndo.

Que se salvassem.

O pai, ainda irritado, jogou o garoto no chão e chutou-o na barriga. A corrida atrás das crianças seria inútil, ele sabia. A casa ao fundo em chamas e um futuro que nenhum deles era capaz de prever depois de tamanho pecado.

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Burned | ShowHeonWhere stories live. Discover now