Capítulo 11

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Jooheon ficou um longo tempo apontando a lanterna na direção do corredor de onde vinha o som. O próprio celular ainda estava na orelha, mas a chamada nunca se completou.

Os pés estavam presos no lugar e ele sentiu um repentino medo. Largando o celular e buscando novamente a arma, perguntou a si mesmo se o assassino ainda estava ali e se tinha feito algo com Hyunwoo.

No entanto, por trás da penumbra, quem apareceu foi o próprio Son. Ele o encarou dos pés à cabeça, com o olhar martirizado e se aproximou a passos lentos.

— Jooheon...

— Hyunwoo, o que está fazendo aqui? — perguntou, suspirando um tanto aliviado — Você encontrou o assassino? Tem um corpo na cozinha...

— Você não devia estar aqui. — ele parecia lamentar enquanto chegava cada vez mais perto; uma mão pesando em seu ombro — Eu sinto muito.

E então, tudo ficou escuro.

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Havia uma dor insistente no ombro, um cheiro forte de água sanitária e o bruxulear suave de velas ao redor. As mãos e os pés estavam presos em uma cadeira e percebeu que havia sido amarrado fortemente quando se machucou ao tentar forçar a corda.

Jooheon se remexeu mais uma vez, notando a figura no canto da sala, orando sobre o corpo morto do rapaz mais jovem. Uma cruz de ipê deixada sobre seu peito pelas mãos enluvadas de Hyunwoo.

Como mensagem, mais uma parte de um versículo: prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus.

Jooheon, completamente perdido e chocado, se fez ouvir no meio das orações do parceiro.

— Hyunwoo, o que você está fazendo? — perguntou — Você é o culpado pelas mortes? Por que está fazendo isso? Me solte.

— Eu sinto muito — respondeu, erguendo-se do lugar e caminhando com o rosto banhado em lágrimas até estar diante do mais novo; agachou-se e o encarou — Eu sinto muito mesmo. Mas as coisas acontecem de acordo com a vontade de Deus.

— Do que você está falando? — a voz estava cada vez mais alterada e nervosa.

— Este é o único modo pelo qual eu poderia me redimir — respondeu, ainda chorando — Eu ainda não entendia que os sacrifícios eram necessários, mas...

— Se redimir de que? — o Lee perguntou, forçando as mãos mais uma vez, sem sucesso em se soltar.

— Eu os matei — confessou baixinho — Meus pais... Eles queriam sacrificar o meu irmão caçula, mas eu os impedi. Salvei a vida dele de uma morte para entregá-lo a um destino incerto e sequer consegui suportar o meu castigo — riu de forma insana ao dizer aquilo; as lágrimas ainda correndo pelo rosto — Eu planejei suas mortes e tomei o sobrenome de solteira da minha mãe. E não houve um dia sequer em que eles não tenham me perseguido.

— Hyunwoo... — Jooheon prestava atenção, mas estava cada vez mais temeroso com o rumo daquela história.

— Eles iam sacrificar o pequeno Changkyun na árvore do quintal — disse e Jooheon arregalou os olhos, compreendendo que Hyunwoo falava sobre as próprias experiências naquela casa — Mas Minhyuk chorou tanto, pedindo que eu o salvasse. Eu era o mais velho... Como poderia negar? — negou com a cabeça — Mas eu devia. Assim, nenhum de nós teria sido castigado.

O Son se levantou, seguindo até a parede de onde tirou a foto de família que Jooheon havia visto mais cedo.

— Vê? — mostrou-a mais de perto — Nós éramos uma família bonita. Meus pais e meus irmãos. Eram quase todos adotados, assim como eu, menos o nosso caçula. Ele foi o milagre de nossa casa. Diferente de mim, Hoseok, Minhyuk, Kihyun ou Hyungwon, Changkyun era o filho biológico.

— E por que seu pai queria matá-lo?

— Porque havia pecado — ele suspirou de modo sofrido — Minha mãe perdeu o novo bebê que viria de seu próprio ventre. Sabiam que haviam pecado para que Deus lhes tirasse uma nova benção dessa forma. Precisavam sacrificar aquilo que tinham de melhor.

— É assustador e nojento ver você agir como se fosse menos do que seu irmão mais novo por não ser filho biológico dos seus pais — Jooheon cuspiu, sentindo-se pessoalmente ofendido por aquilo — Eles eram monstros. Você não precisa ser igual.

— Eu sou pior — Hyunwoo sorriu mais uma vez; o choro aumentando e assustando o Lee — Eu os matei. Eu os desobedeci. Foi por isso que não tive paz nenhum dia da minha vida depois disso. Deus castigou a mim também.

— E como assassinar pessoas inocentes te faz sentir menos culpado?

— Fui eu que os matei — voltou a se agachar, ajoelhando-se em seguida — Precisei fazer sacrifícios em nome de cada um dos meus irmãos, para que assim, suas almas fossem poupadas também. Eu os condenei ao fim, soterrados numa mina que já não tem saída. Quando retornei para a cidade, eu soube... Eles estavam mortos e eu precisava libertá-los desse sofrimento.

— Hyunwoo, você está errado — Jooheon disse, tremendo — Não há nada a ser ganho com isso.

— Eu os vi — sorriu de modo carinhoso, até — Eles surgiram para mim nos lugares onde os sacrifícios aconteceram, como homens feitos. Primeiro Hoseok... Depois Hyungwon e Kihyun... Depois Minhyuk e Changkyun... Eu tive a dádiva de vê-los. Por isso sei que estou seguindo pelo caminho certo.

— Você está completamente louco.

— Eu não queria que você viesse — baixou a cabeça e soluçou — Mas Deus o enviou ao meu caminho porque ele sabia... Sabia que eu também precisaria sacrificar o melhor que tenho em minha vida agora.

Jooheon paralisou, sentindo o sangue correr mais rápido. As mãos forçaram a corda novamente.

— Do que está falando? Me solta agora mesmo.

— Eu sinto muito — ele se aproximou, segurando o rosto de Jooheon, roubando dele um beijo que não foi correspondido; Jooheon franziu os lábios e virou a cabeça — Você é o meu preferido. Eu jamais esperaria encontrar algo tão precioso como você.

— Eu já disse pra você me soltar — dessa vez Jooheon gritava. O corpo se movendo de forma furiosa enquanto ele tentava se soltar — Porra.

— Não se preocupe — Hyunwoo sorriu de forma gentil, alcançando uma seringa — Eu prometo que serei misericordioso. Não haverá dor alguma.

Mas Jooheon continuava a gritar e a mover a cadeira. Sentia o corpo todo se agitar quando o veneno foi forçadamente colocado em sua veia e Hyunwoo o segurou firme para que não caísse; as palavras gentis dizendo que não queria ferí-lo no processo. As lágrimas desceram com ódio enquanto sentia a ardência no local e continuava a gritar e xingar.

E enquanto ambos choravam esperando pelo fim, Jooheon percebeu que era como o sono vindo lhe dar as boas vindas. Hyunwoo havia feito como prometera e, até aquele momento, não havia dor física alguma.

E enquanto a alma ferida de Jooheon era levada, Hyunwoo secou as lágrimas que insistiam em cair. Olhou ao redor, observando a figura daquela casa mudar de forma e voltar a aparência que tinha quando era menino.

Viu as paredes claras e os ornamentos que já haviam lhe parecido tão assustadores. Ouviu a folhagem da árvore do quintal. Viu a si mesmo e aos irmãos correndo pela porta da frente; os pais observando sua bagunça com severidade.

Então sorriu. Era hora de se libertar completamente do pecado.

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Burned | ShowHeonUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum