Eu te desafio

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  GWEN

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GWEN

Dias mais tarde, pós páscoa.







Era chegada a data! Finalmente! Estive esperando por cerca de semanas o fim da páscoa e o início do evento no Coliseu que acontecia tradicionalmente a cada ano. Desde que Timothée veio até minha cela avisar que o povo de Avalon havia escolhido os prisioneiros da vez, eu não pude conter a ansiedade; não só porque, se eu vencesse a luta, poderia ser liberta, mas pelo fato de que eu teria de volta a oportunidade de pegar em uma espada depois de meses. Essa era a chance perfeita, a chance de corrigir o erro que eu havia cometido no dia do atentado.

- Precisa mesmo de tudo isso? - questionei o garoto enquanto este ajudava-me com a armadura.

- Caso não queira morrer ao primeiro golpe, receio que sim. - respondeu. Eu abri um sorriso, admirava que ele conversasse comigo como se não fosse realmente uma prisioneira.

- E não é essa a intenção? De que alguém saia morto?

- É claro, entretanto a graça não está somente na morte e sim na luta que a precede. - ele explicou e eu assenti, torcendo os cantinhos da boca para baixo em falsa admiração.

- Bem, parece que o poderio é tão sanguinário quanto os bárbaros a quem reprime, não é?

O homem suspirou e fez um gesto com as mãos para pedir que eu virasse de costas, então suas mãos ajeitaram a parte de trás da carapuça de ferro.

- Não é como se o rei e rainha apoiassem. Quem impede que esse decreto seja anulado é o legislativo. Além disso, você se surpreenderia ao ver a sede do povo por espetáculos violentos como estes.

- Acredite, não me surpreenderia. - virei-me novamente para frente. - Eu vou dar o que eles querem.

- Não porto dúvidas disso. - ele observou-me enquanto levava as mãos aos cabelos, separando as mechas e trançando-as. - O que está fazendo?

- Nunca ouviu falar em tranças, senhor ajudante real? - dei risada. - Se vou à frente de um público sedento, é bom que leve o cantil. Agora, onde está a minha espada?





[ ••• ]






Os gritos da população presente nos bancos pedregosos do Coliseu aumentaram assim que eu pude dar os primeiros passos pelo chão arenoso do local. Eu sabia que aquilo não eram as boas-vindas e sim o "espero sua morte" de alguns, afinal o príncipe não estaria vivo agora caso meu plano tivesse sido concluído. Falando em príncipe, tive de pôr a mão direita acima dos olhos para enxerga-lo ao lado de sua família no banco mais alto e mais decorado do lugar. A expressão séria e a postura bem ajeitada mostrava a distância que - não só ele, mas Leonardo e Anne - estava de sentir a alegria do povo logo abaixo. Lembrei-me, automaticamente, das palavras de Timothée sobre o descontentamento dos monarcas perante o evento "misericordioso", que costumava acontecer após a Páscoa, anteriormente promulgado pelos últimos governos. Pão e Circo, outrora fora dito, e agora repetido.

Eu soltei o ar dos pulmões ao firmar a espada em mãos quando o meu oponente ultrapassou o portão emadeirado. O homem era enorme, parecia extremamente mais forte e mais musculoso do que eu, sedento pela luta e diria até que convicto de sua vitória quando pôs os olhos em mim. Ele afastou os lábios, mostrando os dentes tortos, enquanto pisava duro no chão conforme andava; vinha ansioso, passando por entre as muralhas de pedra, sem qualquer medo, e nem mesmo esperou um aviso de que podia atacar-me para fazê-lo.

Tive de abaixar para impedir que sua lâmina acertasse minha cabeça. A ponta não cortante de minha espada bateu fortemente contra seu abdômen, mas o homem não pareceu importar-se com o golpe. Ele era grande e resistente, porém lento e certamente não sabia como segurar aquela arma. Não duraria muito. Como resposta à investida, agarrou meu braço com firmeza e jogou meu corpo contra o muro. Eu caí com o impacto, porém desviei do golpe seguinte, fazendo com que sua espada chocasse-se contra as pedras. Levantei-me rápido o suficiente para que o maior fosse cortado por duas vezes seguidas em suas pernas desprotegidas. Aquilo arrancou-lhe protestos de dor e estes misturaram-se com a vibração da plateia que não cessava.

Ele virou-se, batendo sua espada contra a minha desajeitadamente; eu revidei, avançando conforme ele recuava, e enfim encurralei-o na parede. A arma do oponente foi para longe com pouco esforço e suas mãos enormes conseguiram chegar até o meu pescoço segundos antes de minha espada atravessar seu tronco. Os olhos do homem cuja identidade eu nunca conheceria perderam a vida de forma arregalada; quando a boca proferiu o último suspiro, os meus dedos agarraram os fios ruivos e posicionei a lâmina abaixo de seu queixo. A plateia enlouqueceu com o fim ligeiro e sem graça. Nem mesmo eu estava satisfeita.

Andei até o centro do Coliseu e subi no muro de pedras para que todos pudessem ver e ouvir o que viria em seguida. No momento em que os barulhos cessaram, dando espaço para o silêncio curioso, eu ergui a cabeça dos cabelos ruivos em direção à eles:

- Eu gostaria de propor uma luta justa, - ergui o queixo para que ouvissem a minha voz claramente - com alguém do meu tamanho para que minha liberdade realmente valha a pena.

A plateia, anteriormente agitada, agora permanecia calada. Ninguém ousou reagir diante daquilo. Meus olhos correram pelas pessoas ali presentes e pairaram sobre a única que realmente interessava-me no momento: Harry. Ele carregava no rosto uma expressão confusa, porém atenta ao que eu dizia. É verdade que ele poderia muito bem acabar com isso tudo, pedir que levassem-me de volta ou até que matassem-me... mas, dessa forma, perderia a chance de acabar com a vida daquela que atentou contra a sua, de provar que poderia defender a si mesmo e, com as próprias mãos, cessar e alertar, através de minha morte, o resto da oposição. Caso contrário, levaria consigo, sejam lá quais fossem os momentos posteriores à este, o seu temor e fraqueza apresentados diante de seu próprio povo.

- Portanto, príncipe, - joguei a cabeça no chão e apontei a espada em direção à família real, em direção à ele - eu te desafio!

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