Capítulo 2

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  Coloco a mão na barra, vendo cada memória que já tive aqui passar na frente dos meus olhos, se quebrando como já se fez tantas vezes. A tiro rapidamente, fechando os olhos para respirar o ar composto por poeira.

  Minha mão marca a barra, deixando o rastro de que novamente entrei aqui. Abro as janelas, deixando a luz do dia quente entrar e começo a limpar os vidros que ocupavam metade da sala. O chão continua com os velhos riscos das sapatilhas de ponta e ainda posso ver os tapetes gastos depois de tanto uso.

 Tiro todo o pó que vejo e começo a esfregar o chão, com saudade de quando fazia isso apenas para dançar sentindo o cheiro de desinfetante no dia seguinte. Mas não será para isso que estou limpando hoje.

  Me pergunto se deveria doar todas essas coisas para alguma escola de caridade. A barra, os tapetes, collants e sapatilhas. Não me servem de nada aqui, a não ser me lembrar de tudo que não consigo me desapegar.

 Quando termino tudo, empurro o balde para fora no mesmo momento que minha família chegava para ver a menina desmoronada no chão. Mas não a encontram, não de novo.

— Que bom que terminou, filha — minha mãe cheira a produto de limpeza e parece estar tão cansada quando eu após ter limpado a zona no quarto de tintas. — Eu estava pensando em pedir uma pizza para comemorar o primeiro dia.

— Eu topo! — óbvio que Cody seria o primeiro a levantar a mão, mostrando sua felicidade com a comida.

— Quando você recusa comida, guloso? — provoco, sendo atacada quando ele vem em minha direção e bagunça mais ainda o meu cabelo já nojento. — Eu juro que te mato! — começou a revidar, mas meu pai vem atrás de mim e me puxa.

— Eu não consigo entender se vocês se amam, ou se odeiam — meu pai questiona, a mesma pergunta que todos fazem sobre nossa relação.

— Eu diria os dois — nós respondemos em uníssono, fingindo que não estávamos brigando há menos de um minuto e ignorando tudo, como sempre fizemos.

  Mesmo que não sejamos irmãos, minha relação com Cody é a mesma. Fomos criados juntos, como se fossemos e nos vemos assim. Passei minha infância na sua casa e ele passa boa parte do dia aqui agora. Ele esteve comigo no meu pior momento. E sabe como fiquei e mesmo que eu não tenha muito o costume de dizer, eu o amo mais que tudo.

— Então acho que está na hora do banho de uma menina muleca — tio Derek vem até mim e me ergue nos braços, me jogando em cima do seu pescoço e sai rodando pela sala, como se eu ainda tivesse dez anos.

— Acho que cheguei em um bom horário, não? — tia Annie entra em casa com seu terninho branco e coloca a bolsa no sofá antes de dar um selinho no meu tio e um beijo na bochecha do filho. — Ainda me pergunto como você nunca quebrou essa menina fazendo essas maluquices, amor.

— Eu sou o tio legal, preciso fazer isso.

— Na verdade — tio Hunter coloca a cabeça para dentro da sala e sai com um passo meio estranho, como se tivesse na estreia de algum filme que protagonizou — , eu sou o tio legal.

— Essa casa virou bagunça e não fui avisada — minha mãe cruza os braços sobre o peito e encara o amigo fingindo estar brava com a invasão que sempre existiu.

— Sempre foi — tio Zach que sai agora, acompanhado da Tia Belle e Zoe. Os gêmeos estão aqui também, assim como Theo.

— Samuel é o próximo a aparecer? — meu pai brinca, mas o som da porta se fechando e escutado e quem aparece é tio Dylan.

— Ele só poderá vir à noite, está trabalhando no hospital agora. — observo todos da família que chegaram de surpresa como sempre e vejo que sou a única além da minha mãe a vestir roupas de trapo.

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