Capítulo 5

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  Meu corpo paralisa completamente no lugar, não consigo pensar em uma resposta sequer para isso. Tudo parece simplesmente parado na frente dos meus olhos, como se alguém tivesse pausado a cena e eu encarasse de outra perspectiva.

  Não é como se eu nunca tivesse ouvido isso; minha família sugeriu que eu voltasse aos poucos, ter aulas particulares para ser no meu tempo. Até Emma sugeriu isso certa vez, e eu neguei todas, sem nem precisar pensar. Mas agora, ouvindo isso da boca de Ethan, parece mexer comigo mais do que as outras vezes, talvez pela saudade que me atormenta cada dia mais.

  Me vejo tão tentada a aceitar que as palavras quase me escapam a boca. Como um doce facilmente dado a uma criança tão esperançosa antes do almoço. O lado emocional, que me moveu por tanto tempo, grita na minha cabeça: "Aceite! Volte a dançar! Volte a amar!". Mas o racional é mais forte e como em todos os outros anos fala em cima sem se esforçar, comandado pelo medo irracional de me perder novamente.

  Parece fácil, e seria, se eu não fosse comandada pelo medo, pelo pavor de ouvir que não posso voltar, que não posso dançar, que meu tendão não aguentaria tanto esforço, que se romperia de novo, e talvez, dessa vez, não tivesse mais solução para a garota querendo ser movida pelo amor.

— Se mantenha longe de mim — falo isso tão próxima ao seu rosto que posso sentir sua respiração normal, longe do que a minha está. Seu hálito quente bate no meu rosto e posso me sentir em uma batalha com aqueles olhos.

  Tento passar por ele, continuando a encará-lo, mas paro quando ele segura meu braço, não me deixando dar mais um passo. É a primeira vez que sinto seu toque e quero apenas me afastar ainda mais, assustada. Olhamos sua mão em meu braço e ele não parece que irá soltar até terminar de falar.

— Não fuja disso — ele me puxa para sua frente, continuando cara a cara comigo, tão perto quanto eu estava. Não somos da mesma altura, mas estamos longe de sermos tão diferentes. Ethan não precisa praticamente se abaixar como meu pai, mas precisa se inclinar para ficar cara a cara comigo. — Sabe que quer isso.

— Você não sabe o que eu quero.

— Posso ver em seus olhos, Luna, qualquer um poderia ver. — sinto seu aperto se afrouxando, e por um segundo, desejo que ele continue a me segurar aqui e me faça dançar, mesmo que eu negue. — Você é difícil de ler, admito, mas seus olhos passam tudo aquilo que você esconde. Ainda deseja dançar, ainda ama isso, bem no fundo...

— Eu não quero mais o ballet! Eu o amei, com cada célula do meu corpo e ele me machucou, me mastigou e me cuspiu... — despejo nele a fúria que sinto e meus olhos se enchem de lágrima, mas não deixo que elas escorram pelo meu rosto. — Me quebrou.

— E então você vai deixar que ele vença? Vai continuar caída? Por que? Porque é mais fácil, e não vai precisar explicar o motivo de ter desistido, usando a lesão como desculpa? — não vejo quando arranco meu braço de sua mão e o empurro com toda a minha força, fazendo ele tropeçar e cair no chão.

  Retorno a mim e encaro ele com a mão cortada, encarando o sangue.

— Mil perdões — me abaixo a sua frente e tomo sua mão para perto, olhando a ferida. Acho que é superficial, mas não dá para saber com o sangue que escorre. — Eu não sei o que deu em mim...e-eu.

— Tudo bem, eu mereci. Mexi mais na ferida do que deveria — ele sorri de jeito sarcástico e mordo a bochecha para não sorrir também.

— Venha, vamos limpar isso...— mesmo uma parte de mim o odiando, entendo que fiz errado ao partir para a violência e tenho noção.

— Não precisa.

— Não vou tirar esse peso da consciência — me levanto e o puxo para cima comigo. Pego seu skate no chão já que ele provavelmente não vai nele. — Não fuja.

Sobre laçosWhere stories live. Discover now