Capítulo 4

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  Ignorei Ethan pela semana inteira. Não me orgulhava disso, mas não queria falar com ele e ouvir qualquer coisa que ele tivesse a dizer, seja desculpas, ou argumentos para outra coisa, como imaginava que fosse.

  Continuo comendo meu bolinho, desatenta a conversa que rola na roda de conversa. Eles estão rindo de alguma piada e apenas forço um sorriso, focada em algum ponto aleatório na grama a minha frente.

— Luna... Luna! — Volto a focar minha visão quando vejo as mãos grandes do Manon passando na frente dos meus olhos. O encaro, esperando que ele diga o que quer, mas vejo apenas uma cara preocupada vinda dos meus amigos.— Está tudo bem? Parece perdida.

— Eu estou apenas preocupada com algumas lições que mandaram; não imaginei que fosse ter tanta coisa nesse ano — Coloco a colher dentro do pote e vejo quando Malina pede o resto e confirmo sem fome para terminar.

— Já tem alguma faculdade? — Theo pergunta e se cobre um pouco com a jaqueta jeans, mesmo que não esteja frio aqui no jardim. Estamos aproveitando os minutos que temos antes dele terem que ir para as atividades extras. Respondo com um sorriso amarelo, que se transforma em uma careta.

— Não faço ideia.

  Eu deixei de fazer.

  Meus planos eram claros, desde que me lembro. Melhorar a técnica e entrar em uma grande companhia de dança; ficar reconhecida pelo meu amor à dança; fazer turnês com grandes repertórios, como Coppélia, O Quebra Nozes, Romeu e Julieta. Como quis fazer a Julieta.

  Mas agora eu não tinha ideia do que fazer. Não acho que meus pais me forçariam a fazer uma faculdade, eles sempre foram incríveis com essa liberdade e agradeço por não ter essa pressão por parte deles, seria muito.

  Os meninos se entreolham sabendo o porquê da minha resposta e Malina apenas abaixa a cabeça para o doce, fingindo que o clima não pesa toda vez que surge esse assunto.

— Como anda o teatro?— Mudo o foco do assunto para o meu amigo. Theo parece se iluminar com a possibilidade de falar sobre a sua paixão com a atuação.

— Simplesmente perfeito...!— Ele diz com um ar apaixonado e seguro uma risada com Malina. Encaro os alunos sentados na grama, esperando o seu horário, todo o barulho que fazem impede que alguém que consiga escutar alguma outra conversa que não a sua própria.— Vamos ver ter uma nova peça esse ano, fora dos clássicos.

— Já tem isso definido?— Malina questiona, estranhando por ainda ser tão cedo para definir algo que acontecerá apenas no final do ano letivo.

— A professora quer nos dar tempo para fazer os nossos roteiros.

—Theo, isso é incrível!— Digo e abraço meu amigo de lado e ele aceita a demonstração de afeto de bom grado. Malina parece ser a mais contente, já que solta um pequeno gritinho de felicidade e bate palminhas para ele.

— Se acalmem, é apenas a chance de fazer o roteiro, não quer dizer que será a minha a escolhida — Ele passa para o lado pessimista e por mais que queira brigar com ele por isso e dizer para ser positivo, não posso ser hipócrita, mas Malina não entra nisso e pode dizer o contrário.

— Você cala a boca, sua peça vai ser incrível e aposto que vai ser escolhida — Ela fala séria e teria medo de tentar discordar quando usa essa voz.

— O basquete está sendo incrível, gente, obrigado, tá?!

  Manon brinca e coloca a mão no coração, fingindo estar profundamente magoado. Ele me olha, procurando consolo e desvio o olhar para minha amiga. Saciando a minha vontade, sua irmã dá um tapa em sua cabeça e os dois começam uma pequena guerra.

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