Capítulo 11

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  A água cristalina banha meus pés, e me deixo aproveitar a sensação dela entre meus dedos cicatrizados. O sol quente bate forte nas minhas costas, queimando a extensão dos meus ombros e nuca, mas não me viro ou me mexo, apenas seguro a sandália com uma mão, sentada na grama da beirada do lago.

  Observo meu avô desconfortável com o lugar e com a roupa quente menos formal que tinha. Ele continua em pé, sem querer sentar ou encostar na água gelada. Parei de tentar depois de dez minutos insistindo para que largasse a postura séria da empresa, mas ele parece irredutível sobre isso. Meu pai fugiu de manhã, com a desculpa de ter um treino com o time de futebol, não me deixando escolha para desistir do passeio hoje. Minha mãe se ofereceu para ficar com a minha vó durante o dia, indo mostrar o seu ateliê no outro lado da cidade, mostrando os projetos para outras filiais; mesmo que meu vô quisesse ir, insisti que ficasse um tempo comigo, e ele parece ter se arrependido de aceitar.

  Olho para essa parte do lago, vazia. Ainda consigo ouvir os gritos das brincadeiras das crianças na outra extensão, onde a parte é rasa. Nunca vou lá, é sempre muito cheio, impossível de prestar atenção em alguma coisa que não o barulho; mas aqui, onde é mais fundo, onde há pedras altas, com grandes árvores é vazia, a não ser quando há alguma festa de fraternidades e os idiotas decidem se desafiar a pular no lago.

— Não consigo entender como gosta de ficar aqui tanto tempo. — A voz dele é grossa e seca, e ignoro o fato dele falar como se falasse com algum funcionário. Dou de ombros, sem ter o que responder, já que não foi uma pergunta. — Por que não prefere os shoppings e coisas que garotas da sua idade gostam?

— Não me viu a vida inteira, vô, mas me diga um dia que pareci com qualquer outra adolescente que já tenha conhecido, minha beleza e falta de respeito aos mais velhos não contam. — Ele fica quieto e arregala os olhos, impressionado com o fato de que tenho razão.

— Sua mãe, acho. — Sinto sua sombra crescendo atrás de mim, mas ele não se senta ao meu lado, continua em pé, fazendo sombra nas minhas costas, que gritam em agradecimento. — Ela nunca foi com as outras garotas que Luke me apresentou. Ela era quieta, tinha uma visão diferente, apaixonada, acredito. Jurei que não daria certo, eram tão diferentes, e você é a prova de que estava errado.

— Fico feliz que estava.

— Eu também fico. — A sombra de um sorriso chega ao seu rosto, mas morre rapidamente. Me remexo para o lado, a fim de mostrar para que ele se sente, e a contragosto, o faz. Não põem o pé na água e não tira o sapato, mas se senta na grama ao meu lado. — Algum dia irão me contar por que são tão distantes?

— Se ele não contou, eu não o farei. — Reviro os olhos, mesmo sabendo que poderia levar uma bronca dele pela falta de respeito que poderia mostrar. Apoio os braços atrás, me inclinando para que o sol ficasse no meu rosto.— É uma longa história — Ele acrescenta e espero que fale mais alguma coisa, mas parece querer encerrar o assunto ali.

— São mistérios da minha família que terei que descobrir então.

— Grace me contou que voltou a dançar. — Abro um olho, encarando seu rosto nervoso com a conversa.

— Treinar seria a palavra mais adequada, dancei uma ou duas vezes, preciso recuperar o treinamento.

— Mas é um passo.

— Sim, é.

  Ele fica espantado quando me jogo para frente, para dentro do lado, mergulhando até o fundo. Jogo o cabelo para longe do rosto e observo meu vô horrorizado com a minha maluquice. Me aproximo da borda e tiro seu sapato contra a sua vontade.

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