Capítulo 10

187 18 8
                                    

  Corro na direção do Ethan, segurando o cabelo que insiste em cair no meu rosto, desmanchando da tentativa fútil de coque que fiz atrasada. E olha que eu passei anos fazendo coque. Ele está de braços cruzados, apoiado na mureta da frente.

  Ele veste uma regata preta e calça jeans clara folgada. Seu olhar percorre todo o meu corpo, desde o top preto rendado até a calça rasgada. Minha bochecha esquenta quando paro na sua frente e ele continua me observando.

— E eu com medo que você viesse com collant — Dou um tapa em sua nuca pela atrevimento e ele me mostra a direção com a cabeça. As pessoas na rua olham para mim, provavelmente estranhando alguém novo aqui na região, que parece ser uma comunidade bem próxima, onde todos se conhecem.

  Não andamos muito até chegar em uma pequena pista de skate, com alguns papelões no meio e pessoas em volta, do lado de uma grande caixa de som com música alta. Nos aproximamos das pessoas e consigo ver duas garotas saltando no papelão.

  Meus olhos se prendem nelas e no movimento fluido que conseguem fazer sem nem parecer se esforçar. Não noto quando dois garotos altos se aproximam da gente e cumprimentam Ethan do meu lado.

— Quem é a garota? — Desvio o olhar da dança para encarar um homem com uns vinte anos todo tatuado. O outro do lado dele parece ser mais novo do que eu e tem as tranças presas atrás da cabeça. Me sinto exposta quando outras pessoas da roda se viram para me olhar, mas não me encolho.

— Uma amiga — Ethan diz com a voz grave, como um aviso e algumas pessoas desistem de olhar, mas o cara tatuado continua me fitando, interessado.

— Amiga? — Ele pergunta com malícia e sinto a mão do Ethan se fechar no meu punho quando faço menção de andar para frente.

— Amiga, Julius. Não pro teu bico. — Julius abre um sorriso amarelo e nos chama para se aproximar da roda de dança. Encaro Ethan de lado, me perguntando o que acaba de acontecer e por que ele não pareceu ser tão próximo do cara. —Depois eu explico. Vem, se concentra na dança.

  Faço o que ele falou e volto a observar os passos. Como a cintura delas consegue passar de um estado robótico para um tipo de gelatina em um piscar de olhos. Cada movimento se encaixa, uma conexão, mesmo os passos sendo separados. Elas formam duplas para uma impulsionar a outra a girar em sincronia; a batida de fundo dando o toque final.

  Elas se afastam e entram na roda, deixando o centro livre. Um outro garoto negro entra na roda com uma mulher de cabelos longos e encaracolados. A sequência deles parece ser mais casal do que em dupla. A mão dele percorre todo o corpo dela, cada linha e curva, instruindo o que ela tem que fazer.

  Ele salta para trás em um mortal enquanto ela roda no chão. Ao fim, ela pula no colo dele, prendendo as pernas no tronco e jogando a coluna para trás e depois as pernas. Bato palmas junto das outras pessoas e eles saem da roda para dar espaço para uma garota sozinha.

— Eles são incríveis...! —Digo o óbvio e Ethan sorri ao ver o quão impressionada fiquei.

— Todo mundo aqui tem talento no improviso, seja em dança, batalha de rima ou o que for.

— É improvisado? — Pergunto mais surpresa, mas não é Ethan que responde, e sim a garota que tinha acabado de dançar.

—Claro, gata, assim tem mais graça, e ninguém tem tempo de nada que não trabalhar para ganhar o mínimo— Ela prende o cabelo em um rabo de cavalo e se aproxima com a mão estendida na minha direção. — É nova na vizinhança?

— Na verdade, ela tá comigo, Rubi — Ele responde e ela revira os olhos em resposta.

— Sabe dançar? — Ela questiona com um tom de brincadeira na voz e dou de ombros, com a resposta em aberto. Ela encara o garoto ao meu lado e ele pisca para ela, entregando aquilo que não disse.— Podia tentar depois, gostamos de carne nova.

Sobre laçosWhere stories live. Discover now