7 Mauro

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Mais um dia sem que Luan, comparecesse no canavial. Esse menino tinha o dom para me tirar do sério. Se ele achava que dessa vez eu também estava blefando, estava muito enganado. Eu criticava Francisca, pela extrema proteção e por sempre cobrir seus erros, mas, no fundo era o que eu estava fazendo também.

Não importava o quão duro e autoritário eu pudesse parecer, se no final, eu sempre acabava cedendo às minhas próprias imposições. Tentei lembrar onde eu falhei com ele, ou com a educação que lhe foi dada, e eu não sabia. Infelizmente, eu não sabia. Pois ele sempre teve o mesmo carinho, atenção e acompanhamento que dei a Sofia.

Cheguei em casa suado, e completamente sujo do pó das terras. Não cruzei com ninguém, até sair do banho e Francisca entrar no quarto. Seus olhos percorreram meu corpo nu e ainda úmido.

Fazia tanto tempo que nós não tínhamos qualquer contato físico. Não posso negar que apesar dos anos que passaram por nós, das rugas em nossos rostos, e de alguns cabelos grisalhos, ela continuava tão linda e atraente como quando era mais jovem. Seus cabelos longos negros, foi o que mais me atraiu na noite em que nos conhecemos durante a festa junina. Ainda hoje, ela os mantém quase do mesmo comprimento, e eles continuam lindos. Nossos corpos já não são tão tonificados como já foram em tempos, mas o seu continuava atraente e ainda mexia com os meus instintos carnais, mesmo se o sentimento que havia em meu coração tenha esfriado há muito tempo. Sabia e sentia que era algo mútuo, e que o nosso casamento já teve melhores dias.

— Como foi o seu dia? — perguntei tentando manter uma conversa amena. Ultimamente a gente só vivia brigando.

— Saí essa tarde, para tomar chá na casa da Palmira. E o seu?

Sua pergunta não deixou de me surpreender, ela nunca perguntava. Parecia tranquila e até querendo conversar.

— Foi bom. — enrolei a toalha na cintura, depois de terminar de me secar e me aproximei dela. — Vem cá, sinto falta dos tempos em que a gente ainda se abraçava e beijava. — disse a envolvendo em meus braços.

Francisca se desenvencilhou dos meus braços, me dando as costas. Esfreguei meu rosto cansado e inspirei fundo. Fui na direção do armário e retirei uma roupa confortável a vestindo de seguida.
Francisca continuou no quarto, em silêncio, de costas para mim olhando a janela.

— Não vai dizer porque veio até ao quarto? Sei que quer me dizer algo.

— A Fernanda foi embora.

Fernanda era a senhora que cuidava da casa e da cozinha. Uma senhora com uma paciência enorme, para conseguir lidar com as exigências e o temperamento de Francisca. Faziam 3 anos que ela trabalhava aqui em casa, e foi a que durou mais tempo, depois de várias outras terem sido despedidas por Francisca, ou elas mesmo indo embora não aguentando mais a convivência com ela. Se até Fernanda tinha se despedido, das duas uma, ou ela tinha arrumado um trabalho melhor, ou a sua paciência também se esgotou. Eu acreditava piamente ser a segunda hipótese.

— Por que ela foi embora? — questionei, quase ciente da resposta.

— Não sei, deve ter arrumado outro trabalho. Aquela ingrata.

— Ela tem o direito de procurar algo melhor, e vamos combinar que Fernanda, até aguentou muito tempo nessa casa, aturando suas exigências e mau humor. Boa sorte para arrumar outra agora.

— Você fica sempre contra mim, até parece que eu sou tão ruim assim.

— Eu gostaria de negar, mas você mudou tanto desde que a nossa vida econômica melhorou. Perdeu a humildade.

— Você também mudou. Antes protegia nossos filhos, os dois, e agora você vive discutindo com Luan, e obrigando-o a trabalhar naquele trabalho escravo no canavial. Você mais do que ninguém deveria protegê-lo desse inferno.

— Ele não tem sequer aparecido no canavial, que dirá trabalhar. Luan teve a oportunidade de seguir faculdade, ou escolher a profissão que quisesse. Mas ele prefere ficar mamando nas tetas dos pais para o resto da vida, se a gente deixar, enquanto faz merda  por aí.
Sinceramente Francisca, eu não quero mais brigar por causa do Luan. Eu estou cansado, esgotado disso. Essa responsabilidade ficará por conta dele, se ele não quiser trabalhar não trabalha, mas também não vai ganhar dinheiro de mim. Se  acha que  o está protegendo, ficando sempre contra o rumo que eu queria dar na vida dele, então essa responsabilidade também ficará por sua conta. Depois não venha choramingar, quando ele aprontar de novo.

Francisca abriu a boca para falar.

— E não ouse repetir que eu não o amo! — falei seco. Ela sempre me acusava disso. Dando a entender que eu fazia distinção ao amor que dava aos nossos filhos. — Se eu não brigo com Sofia, é porque ela nunca me deu motivos para isso. E você sabe disso tão bem quanto eu.

Francisca sentou na cama de cara fechada. Resolvi sair do cômodo, o ambiente sempre ficava pesado a cada discussão nossa.

— Aquela garota esteve aqui hoje. — Francisca falou antes que eu saísse.

— Que garota?

— A que se sentiu mal no canavial. Sofia me contou que ela está buscando por trabalho. Nesse fim de mundo, não vou arrumar ninguém tão fácil para substituir a Fernanda. Pensei em propor o trabalho a ela, mas depois do incidente do jantar, tenho receio que rejeite.

— O que você chama de incidente, eu chamo de arrogância e falta de educação. Deixe-a quieta, arrume outra pessoa. — era só o que me faltava.

— Eu me excedi um pouco naquela noite, desculpe. Eu estava nervosa por causa de Luan. Eu não vou achar ninguém tão rápido e não vou me sujeitar a fazer as tarefas da casa. Você poderia falar com ela, para que aceite a oferta.

— Desculpas você deve a ela, para começar, se quer que ela aceite o trabalho. — Francisca respirou fundo  contendo a irritação.

— Então, irá falar com ela?

— Não.

— Porquê?

— Porque foi você que arrumou maneira da Fernanda ir embora, então agora resolva. Já tenho muito com o que me preocupar.

— Você nunca faz nada do que peço. — resmungou. — Pedirei a Sofia para falar com ela. — se dirigiu para a porta do quarto.

— E você só vive reclamando. — retaliei. — Espero que a Sofia tenha bom senso. — falei, antes que desaparecesse do quarto.

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Será que a Zuri aceita essa proposta? 😏

Zuri ( 3/1/ 22 data de retirada ) Corre que ainda dá tempo! 🏃‍♀️💨Место, где живут истории. Откройте их для себя