11 Mauro

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Me servi de um pouco do café que havia na termos do meu pequeno escritório. Meus pensamentos vagaram até casa, quando pela primeira vez em semanas eu tive vontade de ir até lá para almoçar.

Por algum motivo alheio à minha compreensão, eu estava gostando cada vez mais da presença da Zuri por lá. Embora eu só a visse de manhã cedo antes de sair para o trabalho, e algumas tardes em que eu chegava mais cedo.

Ela tem se saído muito bem, em desempenhar suas funções, que são demasiadas para uma única pessoa e até tem sabido contornar o feitio amargo e exigente de Francisca.
Esse foi um dos motivos, pela qual a ideia não me agradou, quando Sofia me falou sobre lhe propor o emprego. Sabia que a pobre aceitaria, pois as opções não eram nenhumas e infelizmente, também sabia o quanto ela o necessitava.

Mas era sobretudo com Luan que eu estava mais preocupado. Irresponsável, imaturo, e sem noção, desocupado, e achando que tudo está ao seu dispor.
Zuri tinha lhe agradado, eu percebi isso, assim que ele colocou os olhos nela pela primeira vez.

Eu sabia que pelo bem da garota, era melhor que ela não o deixasse ultrapassar a pequena linha que o impediria de invadir o seu espaço. Daí a ter avisado para manter a distância dele. Luan sabia ser persuasivo enquanto não conseguisse o que queria, e também não sabia aceitar nãos.

Por o conhecer tão bem, eu temia por seus atos impensados. Uma mulher tão bonita quanto ela, zanzando pela casa, seria um estímulo para os seus instintos carnais e irracionais. Mas, também sabia que a moça não era ingénua, e que saberia muito bem se defender.

Me dei conta disso no dia que chegou nesse canavial, e foi mandada embora. Sua persistência e a sua força pegando no facão, com tanta destreza que nem mesmo alguns homens a tinham, me fizeram enxergar sua força, garra, e determinação. De boba e frágil, Zuri, não tinha nada apesar da sua tenra idade.

Ignorei minha ânsia. O calor infernal no canavial, seria bem menos penoso do que aturar o humor de cão de Francisca na hora de almoço.

Miro conseguiu me tirar dos pensamentos, se colando diante de mim e me observando confuso.

— Diga, Miro. — falei sem querer demonstrar o quão absorto em meus pensamentos eu estava.

— O patrão está bem?

— Estou ótimo. Porquê a pergunta?

— Sei lá, faz tempo que eu o estava chamando.

— Estava pensando em algumas coisas. O que houve?

— A garota, a que caiu redonda no canavial está lá fora.

— Zuri? — fiquei preocupado ao imaginar algum problema.

— Eu não sei o nome dela, mas deve ser esse...— Miro deu aos ombros despreocupado.

— Tudo bem, diga que venha.

— Ok, chefe. — limpando o suor do rosto, Miro saiu.

Bebi mais um gole do café, já quase frio. Eu odiava café frio, mas era o que havia. Com uma leve batida na porta, Zuri entrou de seguida.

A observei chegar com algumas sacolas. Seus olhos sorriram ao encontrar os meus, mesmo antes de ter nascido um sorriso singelo em seus lábios. Fiquei aliviado, ela parecia bem.

— Sofia me enviou com o seu almoço, pois tinha um compromisso.

— Minha filha sempre me mimando. Obrigado, por ter vindo.

— Ela quer vê-lo feliz. — seus lábios apertaram, como se tivesse plena consciência da tensão que eu vivia em meu casamento. Provavelmente, após essas semanas de trabalho lá em casa, ela já tivesse se dando conta que nada era um mar de rosas.

Esbocei um sorriso sem felicidade nem vontade. Infelizmente era a vida que eu tinha.

— E que compromisso ela tinha?

— Um encontro com um amigo.

Zuri pareceu hesitar em me contar o motivo. Saber desses encontros de Sofia, sobretudo com amigos homens, também me deixava apreensivo. Eu não me acostumava com a ideia, de que em breve arrumaria um namoradinho e sairia da minha asa. Não que eu não soubesse que ela já tinha tido alguns namoricos, mas nada sério até hoje.

— Entendi. E o que trouxe de almoço? — perguntei faminto.

— Tem arroz, feijão e carne moída. Também coloquei uma farofinha de frutos secos.

Senti meu estômago reagir só de ouvir o que o esperava. A comida que eu já tinha provado feita pelas suas mãos, era deliciosa. Eu poderia dizer que até melhor que a de Fernanda, que eu tanto gabava.

— Posso colocar aqui? — apontou para a mesa que nos separava.

— É claro, me levantei, já desviando os documentos que havia em cima dela.

— Tem também uma termos com café novo. Sei que o senhor gosta dele quente.

— Obrigado, por ter lembrado.

Ignorei o peso da palavra senhor, saindo da boca dela mais uma vez.
Eu odiava ser chamado dessa forma por ela, mas entendia que só estava fazendo o que era o normal, agindo formalmente com o seu patrão.

— E trouxe um prato também, não terá necessidade de comer da marmita.

— Não sou de frescuras, mas obrigado.

A observei me servir. Eu não tinha qualquer necessidade que ela o fizesse, e se não fosse pelo fato de sua presença me alegrar, eu teria agradecido a gentileza e recusado a deixando sair, pois eu mesmo me teria servido.

— Posso ver meu pai, enquanto come? Eu prometo que não o entreterei muito tempo. Assim poderá comer tranquilo e virei buscar o prato e as marmitas no final.

Seus olhos me fitaram com uma delicadeza que meu coração acelerou. Seu olhar tinha o poder de me desconcertar. Ele era meigo e ao mesmo tempo ferino. Eu estava ficando louco, só poderia. Pois não deveria a estar admirando dessa forma, sabendo que seus gestos eram apenas gentis e despretensiosos.

Zuri era só uma menina perto de mim, e com idade para ser minha filha.

— Claro, fique à vontade. — foquei no meu prato, assim que seu sorriso iluminou seu lindo rosto.

Vê-la sorrir iluminava também algo dentro de mim, que eu tentava com todas as minhas forças apagar. Eu não podia, eu não devia, e não era só por respeito com Francisca, ou à menina-mulher diante de mim, era por respeito a mim mesmo também. Eu tinha plena consciência de que talvez o fato de eu e Francisca, já não termos há muito qualquer contato de afeto nem sexual,  me estava deixando carente. E embora talvez não tivesse qualquer importância, avaliando o rumo que meu casamento seguia, eu era fiel e tinha caráter, quanto mais não fosse aos meus próprios princípios. Então, eu me sentia sendo infiel de cada vez que eu me sentia envolvido com a sua presença.

Zuri saiu e eu saboreei meu almoço. Sofia sempre trazia alguma sanduíche, e que eram saborosas. Mas nada como um prato de comida quente e saborosa.
Constatei que estava deliciosa como sempre.

🌾🌾🌾

Mauro já está sucumbindo aos encantos da Zuri.

Será que ela também está sentindo algo por ele?

Zuri ( 3/1/ 22 data de retirada ) Corre que ainda dá tempo! 🏃‍♀️💨Where stories live. Discover now