03 | atmosfera

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Mais uma vez algemado, com o maldito uniforme laranja, andei em linha reta por aquele pátio que vi mais cedo. A vigia era ainda mais rigorosa do que pensei. Respirei alto, fazendo os dois agentes revirarem os olhos ou de certa forma me tratar como chiste. Ainda haviam presos aproveitando o "recreio", por tanto, cada ohar em minha direção parecia me atravessar como uma bala das suas munições.

Risadas e palavrões me cobriam de ainda mais desesperança e lá no fundo, raiva. Eu não era, eu não merecia tudo aquilo que me falavam. Mas lá no plano de fundo, bem no fundo, encostado no muro bege e sujo de seis metros, havia um cara que apenas me encarava.  Seus olhos estavam em mim, a cada passo que eu dava, rodeado de mais alguns presidiários. Tinha uma tatuagem cobrindo o braço e um piercing na sobrancelha.

Encarei de volta, e por causa disso, acabei tropeçando nos meus próprios pés quase levando uma queda. O homem deu uma pequena risada boba, com certeza me achando indefeso como Shownu havia achado. Aquela risada não parecia desrespeitosa. Vi levar um cigarro aos lábios e depois disso desconcentrou de mim.

ㅡ Essa é a sua nova cela. ㅡ Chegamos em um novo pavilhão, que era exatamente igual ao outro --- igual aos outros ---, sem tirar nem por. Entrei dentro da cela colocando meus braços pra fora da grade para me livrar daquelas algemas desconfortáveis e me virei para meus novos companheiros de cela.

Felizmente, não pareciam tão perigosos e rudes, pareciam pessoas normais. Um deles estava com uma Bíblia sobre as mãos enquanto outro passava o rodo sobre o chão --- mesmo que não adiantasse alguma coisa. A umidez daquele ambiente me deixava tremendo de frio.

ㅡ Seja bem-vindo! ㅡ O cara da Bíblia falou.

ㅡ ... Ele quis dizer... Meus pêsames. ㅡ O que limpava a cela se apoiou no cabo do rodo. Acabei dando um sorriso soprado e de certa forma aliviado.

ㅡ Desculpa a má recepção, mas garanto que você está no melhor pavilhão, amiguinho. O "Pavilhão da Oração", temos culto às quintas. ㅡ Fala sério... Ele se esquivou para guardar a Bíblia sobre a "cama".

ㅡ Como vocês se chamam? ㅡ Perguntei após concordar com um sorriso. É melhor um preso crente do que um preso assediador.

ㅡ Eu sou Minhyuk e ele é o Hyungwon, pode chamar ele de pastor. ㅡ O que se chamava Minhyuk respondeu entedeado. ㅡ Parece que você nunca cometeu um crime na vida, esse lugar não é pra você.

ㅡ Finalmente, alguém me entende. ㅡ Coloquei as mãos para trás e ele sorriu. ㅡ Quer ajuda para limpar?

ㅡ Claro! Você deve estar entediado pra caramba, não é? ㅡ Assenti. O Pastor surgiu de detrás do travesseiro uma cebola fresca, me fazendo franzir as sobrancelhas. ㅡ Ah, não estranha. Quando ele disse que esse é o melhor pavilhão, é porque é. ㅡ Me estendeu mais um rodo e me ocupei com a higiene da cela.

Se adaptaram a vida de preso. Tinham um pequeno fogareiro de barro ali dentro e estavam preparando ramyeon como lhes era possível.

ㅡ A cebola é um bônus! Tive que trocar meu papel higiênico por ela. ㅡ Hyungwon a levantou como se fosse um prêmio e sorri. ㅡ A propósito, você não disse seu nome.

ㅡ Ah, Jooheon. ㅡ Continuei limpando a cela com Minhyuk. ㅡ Como conseguem essas coisas? Na outra cela, mal tinha água. ㅡ Retruquei ao ver que eles estocavam bastante água nas garrafas.

ㅡ Nossa família quem traz nas visitas. Quase nada entra, passa por uma inspeção severa. Como foi o bolo que minha namorada me trouxe, no meu aniversário... Fizeram tantos furos que eu recebi "Pabes Mihyu" ao invés de Parabéns, Minhyuk. A gente tem que agradecer, sabe? Não temos direito a luxo.

ㅡ E felizmente, é o pavilhão dos bons comportados, então de vez enquando... Raramente, eles pegam leve com a gente. ㅡ Hyungwon rasgou a capa da Bíblia pra abanar o fogo no fogareiro. Ouvir sobre aquilo me fez respirar um pouco mais aliviado, mas estar preso ainda era um saco. ㅡ Ninguém veio te ver ainda, fii?

ㅡ ... Não... ㅡ A pergunta me deu uma incrível ânsia de choro. Terminei de limpar o chão e me agarrei na grade, encarando os cadeados, imaginando se tinha como minha vida ficar ainda pior.

ㅡ Iremos orar por você também. ㅡ Hyungwon tentou me confortar.

( ... )

ㅡ Estamos protegidos dos "valentões" enquanto confinados no Pavilhão da Oração. ㅡ Minhyuk cochichou, enquanto eu adentrava o refeitório com minha bandeja de... de o que quer que seja essa gororoba. Era sem cor e parecia sem gosto, um mingau regugirtado com pedaços inteiros de arroz e cenoura. O cheiro também não era nada agradável, mas parece que quando se torna um preso, você perde direitos mínimos --- tais como uma alimentação adequada.

Encarei a bandeja sem vontade de comer, na verdade me segurando pra não vomitar, ao lado de Minhyuk.

ㅡ Falei pra comer nosso delicioso ramyeon, não falei? ㅡ O loiro rangeu, fazendo me arrepender de más escolhas, tinha feito tantas até chegar ali...

ㅡ Não fale assim, não pressione. Ele ainda está tentando se adaptar a essa atmosfera. ㅡ O pastor deu um tapa no ombro do outro. Levantei meu queixo percebendo aquele mesmo homem da tatuagem me encarando da outra mesa, comendo aquela comida desgostosamente.

ㅡ ... Min, quem é aquele? ㅡ Questionei começando a ficar entre tímido e assustado com seus olhos sobre mim. Minhyuk o olhou de relance e depois sussurrou apenas para mim.

ㅡ Por que está olhando pra ele? Não olhe. ㅡ Franzi minhas sobrancelhas e tirei o olhar, mesmo que ele tivesse olhado para mim primeiro. ㅡ Ele é o preso mais respeitado e perigoso daqui. Chefe de facção, 'tá preso por mais de vinte mortes e tráfico de drogas. Ninguém se atreve a confrontá-lo.

Meu espinhaço tremeu, mas ainda queria saber porque ele me fitava daquela forma. Resolvi dar uma chance à comida para me distrair e impedir que meus olhos o encarassem de novo, quando de repente um dos presos deslizou sobre a mesa, levando o prato de todo mundo, na força de um soco. Nós nos levantamos assustados, me afastei da mesa assim que o atingido se levantou e começaram a brigar em cima dela.

RODEO | MONSTA XWhere stories live. Discover now