15 | mapa desenhado

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Algemado pela já não sei mais a contagem de vezes, acabei passando por um corredor ainda mais horrendo, hostil e cheio de lâmpadas fortes, mais uma vez. A diferença do meu primeiro dia é que eu não estava tão desesperado e angustiado, não estava soluçando alto e nem me sentindo um idiota, apenas estava odiando cada molécula de oxigênio que entrava pelas minhas narinas.

Eu deixei de fugir para proteger Changkyun. Eu acreditei no seu maldito amor por mim e ainda tive o desprazer de corresponder... Eu me entreguei, abaixei minha cabeça para ele, eu contrariei as pessoas em quem eu deveria ter confiado de verdade. Changkyun foi sem nem olhar para trás. Ele não me usou como escudo, pagamento de dívida, ou coisas que envolvia meu físico, mas ao invés disso, me usou como uma rápida pedra no meio do caminho dos policiais. Eu preferia ter morrido do que o ver partir de forma tão indiferente. Ele fez que nem Kihyun. Me iludiu na chance de sair dali, mas apenas me deu motivo pra ficar mais tempo.

Com o presídio tomado pelos militares, a rebelião finalmente chegou ao seu fim. Mais de 80 presos foram mortos e 39 se tornaram fugitivos, acompanhando o líder. Os que foram capturados e identificados como rebeldes, participantes de toda a confusão, levaram castigo.

Na solitária, eu não precisava do macacão, o traje era uma camiseta branca e uma bermuda, mas era necessário estar de barba feita. Não tinha ar ali dentro, não tinha nem pixações pra me distrair. Tudo que eu tinha era minha própria consciência disparando contra mim. Abri a palma da mão me deparando com o bilhete de Changkyun. Talvez ele não me amasse tanto quanto amava a chance de liberdade.

A cama era de concreto, mas mesmo que fosse o colchão no qual tivemos um tempo juntos, eu não conseguiria dormir. Não podia sair pra comer, recebia a comida pelo retângulo minúsculo da porta de ferro grosso, mas também não a comia. Pelo menos o banheiro era individual e restrito, apesar de não ter dois braços de espaço, mas eu não me importava com a higiene.

Na solitária, tudo que eu fazia era encarar o bilhete de Changkyun, lembrando que ele entrou na porra daquele túnel sem nem olhar para trás, sem olhar para a pessoa que ele jurou amar.

Era eu, minha respiração, e o bilhete.

( ... )

ㅡ Lee Jooheon. ㅡ A porta foi aberta abruptamente, me fazendo encarar o agente como se tivesse saído de um transe, o que tecnicamente não era mentira. O primeiro ano na solitária acabou com meu psicológico e o alaranjado do meu cabelo, o segundo com a minha beleza corporal --- como Shownu me advertiu no começo dessa história, e o terceiro com as coisas que eu pensava sentir falta do lado de fora. ㅡ Você conseguiu uma condicional. Apresentaram sua defesa.

ㅡ ... Quem? ㅡ Um advogado que aparece no final do segundo tempo. Relutei em sair dali, meus sonhos tinham se esvaido, aliás, qualquer resquício de vida. ㅡ Eu não quero ir embora.

ㅡ Esse advogado conseguiu provar sua inocência a respeito do roubo na Starship. O verdadeiro culpado era Yoo Kihyun, mas ele pagou a fiança e saiu com cerca de duas semanas.

ㅡ Não me importo.

ㅡ A condicional é sobre a sua participação na rebelião. Não te consideram um criminoso tão perigoso. Você cumprirá o resto da sentença em liberdade.

Eu sonhei com esse dia por quase quatro anos. Esperava sair daquela cadeia miserável e retomar a minha vida monótona, chata e solitária de sempre, mesmo sabendo que não teria ninguém me esperando do lado de fora do presídio. Estava apenas indo de acordo com a onda. O guarda do portão maior balançou a cabeça como se me dissesse tchau. Eu não estava com as mãos algemadas, mas tinha uma tornozeleira enorme no meu pé. Inclusive, estava saindo com minha calça cortada, até então a única coisa que eu tinha ao sair dali.

O ar puro, o asfalto da cidade, o som de carros, tudo aquilo me fez esquecer por alguns minutos que aquilo poderia ter sido diferente. Pude até perdoar Changkyun por ter me largado naquela maldita rebelião, pois estar livre é bem melhor do que estar apaixonado. Depois de dar uma sugada forte de oxigênio, me permiti dar uma pequena risada pra mim mesmo e fui caminhando de volta para minha casa.

Eu tinha na minha consciência de que não era um bandido criminoso, mesmo com a tornozeleira chamando os olhares desviados. Seria um tanto complicado refazer a vida e eu estava a par de todas as dificuldades, mas de fato, não havia nada que eu pudesse fazer. Soube que Minhyuk conheceu a liberdade um ano depois que peguei solitária, por bom comportamento. Não tive notícias de Hyungwon, mas de fato não estava em notícias sobre roubo de carros ou qualquer outro crime.

Shownu e os líderes do SVT também estavam na solitária, mas tinham uma ficha criminal maior do que meu braço. Ficarão longe do gosto da liberdade por um bom tempo. Eu via a foto de Changkyun como procurado em cada 5 postes que eu passava. Os guardas fofocaram que o SVT foi dissolvido, uma vez que era impossível de se comunicar com os líderes, então suponho que o Comando MX tenha recuperado seu poderio de anteriormente. Mas nada disso importava mais para mim.

Quando abri a porta da minha casa, me deparei com uma carta mal feita esparramada pelo chão, de uma estética que eu reconhecia muito bem. Meu coração hesitou de pegar para ler, não sabia se queria ter notícias ou se tê-las teria algum impacto sobre mim. Fui rendido pela minha curiosidade, me agachei entrando em contado com as palavras.

"Joo, meu amor.

Me desculpa pelo que fiz com você. No momento em que te vi atirando do meu lado me senti um completo imoral. Eu disse que não merecia estar ali mas acabei te tornando um dos meus. Eu não queria você no meu meio, não queria você como um fugitivo assim como eu. Não é que eu não ame você. É porque te amo que tive de desistir. Você tem uma vida preciosa, e eu não quero você fugindo o tempo todo. Eu sentirei sua falta para sempre, mas não devemos ficar juntos.

Eu paguei alguém pra escrever essas coisas e consegui alguém eficiente que te dê uma condicional. É o que posso fazer por você agora. Sinto muito. Eu te peço, não se preocupe comigo. Estou bem. Estou escondido. Não posso sair mostrando meu rosto por aí, então não vou poder te ver. Também não quero por em risco o progresso da sua condicional. Espero que possa perdoar tantos males que te causei, Jooheon... Definitivamente eu tenho que sumir da sua vida, e eu o farei. Mas eu nunca esquecerei você nem deixarei de te amar, Joo.

Obrigado por me mostrar a outra escolha."

Ao findar a carta, meu coração se despedaçou outra vez, as lágrimas rolaram bochecha abaixo. Picotei o papel como se estivesse triturando todas as nossas memórias, um ato impossível. Pois... mesmo com tudo que eu tenha passado, também nunca esqueceria Im Changkyun, e muito menos deixar de amá-lo.






🔹🔷🔹
FIM

RODEO | MONSTA XOnde histórias criam vida. Descubra agora