07 | virar a mesa

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Felizmente, não precisei gritar. Parece que passar o recreio ao lado do tal Changkyun tinha mudado meu patamar. Recebia ainda alguns olhares trocados, óbvio, mas não se atreviam a me encarar por muito tempo, nem se aproximar ou dizer alguma coisa de ruim. Estava começando a me acostumar com tal status, apesar dos colegas de cela se mostrarem um pouco mais distantes.

ㅡ Ele simplesmente sabe de tudo. Sabe que você gosta de cebola. ㅡ Entreguei o codimento para o pastor, que levantou a sobrancelha ao receber o produto. ㅡ Não se acanhem, o que vocês estiverem precisando, é só pedir pra ele ou pra um MX...

ㅡ Wow... Por que de repente você está sendo tão paparicado pelo I.M? Tantas regalias, tantos benefícios... ㅡ Minhyuk riu enquanto o outro escondia a cebola no sagrado travesseiro.

ㅡ Não sei o que pode ser pior, ter a cabeça disputada entre duas facções ou ser crush do líder de um deles. Senti que ele se apaixonou por mim. ㅡ Coloquei as mãos atrás da cabeça e começei com a minha principal atividade, de tentar descobrir as pixações.

ㅡ Caralho, 'tá falando sério? ㅡ Hyungwon riu baixinho.

ㅡ He-hey, qual o problema? Bandido também ama. E o Joo é bonito e puro, qualquer um se apaixonaria por ele. Eu só estou surpreso...

ㅡ Então! Eu nunca iria saber. Pensei que ele não ligasse muito pra essas coisas, 'tá sempre na mira da bala, fi... Mas é aquilo que dizem né... Sempre tem aquela pessoa...

ㅡ Por que estão falando como se eu sentisse a mesma coisa? Eu não vou ficar com ele, gente.

( ... )

Pisquei e já tinha passado duas semanas. Não podia ver meu rosto direito, mas podia apostar que estava pálido e mais magro. Ainda não consegui me acostumar com a comida daquele lugar e o banho era uma das coisas mais difíceis de se fazer. A cela tinha um "chuveiro" --- apenas um cano cru saindo água --- e não tinha porta. Minhyuk e Hyungwon que seguravam um dos lençóis para dar o mínimo de privacidade, mas não fazíamos isso com frequência.

Sentia saudade da minha cama macia, do meu aquecedor e do meu vaso sanitário. Sentia saudade de ver outras cores além de bege, laranja e verde-musgo. Sentia saudade de encontrar pessoas alegres e divertidas e não carrancudas, mas principalmente... Sentia falta de sorrir.

A porta de ferro grosso foi aberta, movi meus punhos algemados mais uma vez e me sentei na cadeira. Neguei pra mim mesmo, pois o Comando MX tinha conseguido obrigar outro funcionário do escritório para ir me visitar. Yoo Kihyun estava espantado com minha feição, passou a mão no rosto como se não quisesse acreditar.

ㅡ ... Então, você está aí. ㅡ Revirei meus olhos, ao que parecia ser óbvio. ㅡ Como você está? Alguém fez maldade com você?

ㅡ Por incrível que pareça, estão mais amigáveis do que os de fora. ㅡ Ele concordou umedecendo os lábios. ㅡ Kihyun.

ㅡ Hmn?

ㅡ Seja honesto. Você não acredita que eu seja inocente? ㅡ Ele suspirou fundo e fez carinho no próprio braço.

ㅡ Claro que acredito, Joo. ㅡ A voz arrastada soou um tanto falsa, mesmo que com um toque de piedade.

ㅡ Por que não veio me ver antes, então? Veio porque colocaram uma arma na sua cabeça. ㅡ Me levantei um tanto irritado com a situação. ㅡ Você ficou ali, olhando uma injustiça acontecer. Apenas olhando. Minha vida acabou, Kihyun. Eu estou preso, e mesmo se eu sair daqui mais cedo do que o previsto, ainda não vai ser a mesma coisa. Você não fez nada!

ㅡ Me desculpa, o que queria que eu fizesse? Eles apenas chegaram e te levaram, entenda meu lado também... Todo mundo estava chocado com isso, eu sinto muito. Agora eu sei que você precisa de defesa... Eu venho te visitar com mais frequência.

ㅡ Não precisa. Se não for de bom coração.

ㅡ É de bom coração. Não é por causa do cara que invadiu minha casa. Eu me sinto mal pelo que está acontecendo com você. Ficarei feliz em te ajudar.

Depois da pequena visita, ainda não sabia bem discernir o que eu deveria estar sentindo. Yoo Kihyun era o mais próximo de se tornar chefe de departamento, e eu um mero secretário recepcionista, carimbando papéis e fazendo ligações. Nunca fomos tão próximos, mas nunca achei um mínimo motivo que fosse nos tornar inimigos... Mas ali, dentro da sala de interrogatório, suas pernas cruzadas e os lábios rosados inflamaram uma fúria repentina.

ㅡ O colar dele era bem legal. ㅡ Changkyun me assustou começando a soltar a fumaça do cigarro mais uma vez. ㅡ Um colar daquele custa em torno de 3.000$.

ㅡ Hey, não pense em assaltar meu amigo.

ㅡ Hmn, então agora vocês são amigos? Sei lá. Ele não me pareceu tão confiável. Conheço a cara de um mentiroso de longe. ㅡ Franzi meu cenho confuso e dei outra risada boba.

ㅡ Tsc. Se é assim, então por que justamente ele, Changkyun? Por que trouxeram justamente o mentiroso? ㅡ Ele olhou pra mim parecendo irritado e apontou o indicador em minha cara.

ㅡ Não fale esse nome, não me chame assim, ouviu? ㅡ Sussurrou, engoli a seco arrepiado. ㅡ E... Eu não trouxe ninguém. Pedi pra alguém ir atrás dos seus relacionados, mas não acharam ninguém. Isso me deixa curioso de saber que tipo de pessoa você é. ㅡ Franzi minhas sobrancelhas ainda mais confuso.

ㅡ ... Então... Ninguém invadiu a casa dele ou coisa assim? ㅡ Negou com a cabeça. Bom... Por que ele mentiu sobre isso? Será que ele tinha mesmo vindo por bom coração? ㅡ Eu sou uma pessoa entediante. Agora me cai a ficha que estou mesmo sozinho no mundo. Não tenho ninguém que seja a meu favor, não tenho parentes, não tenho amigos. Eu acho que tenho uma certa repulsa por seres humanos. ㅡ Suspirei, lá no fundo isso me machucava profundamente, mesmo que eu dissesse mil vezes para mim mesmo que era melhor assim, doía não ter a quem confiar.

ㅡ Hey. Você não está sozinho. Eu estou com você.

ㅡ Tsc, pelo amor de Deus, Changkyun. ㅡ Me levantei frustrado. Como que a única pessoa que me restava contar podia ser um presidiário? Ele ficou a rir baixo enquanto eu tomava distância.

RODEO | MONSTA XWo Geschichten leben. Entdecke jetzt