09 | parar com a festa

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ㅡ Jihoon... ㅡ Ele falou sofrido, passando as mãos pelos cabelos de repente perdido, logo depois de eu o ter dado a mais extraordinária notícia.

ㅡ ... Hey, posso saber como você tem essas informações antes mesmo de ela chegar no presídio?! ㅡ Esqueci de me sentir piedoso e em estado de pânico para franzir minhas sobrancelhas. É chato você contar um segredo que a pessoa já sabe.

ㅡ Ha ha, eu tenho um informante, Joo. Outro dia você perguntou como a polícia é "meu brinquedinho" com minhas condições. ㅡ Fez as aspas com os dedos. ㅡ E eu digo... Alguns caras bons são caras ruins mascarados. ㅡ Olhei específicamente para os agentes fazendo a ronda. Logo internalizei que algum deles eram compactuantes com as gangues. ㅡ Por isso que falamos tanto em dominar os presídios. Damos o dinheiro, eles dão as armas, às vezes, levam drogas. ㅡ Ele disse tirando o cigarro de um dos bolsos. Bufei desiludido, aqueles policiais aclamados pela população tinham um quê de corrupto e criminoso.

ㅡ Por que você tem uma cela sozinho, aliás? ㅡ Encostei as costas na parede limite. Conviver com todos aqueles presos me fizera internalizar alguns de seus hábitos e manias. Ele até mesmo estendeu um cigarro para mim, mas o recusei --- já bastava a fumaça que soprava na minha cara para me embreagar.

ㅡ São 37 anos de cadeia, fii. A cela lota e seca. ㅡ Suspirou fundo fazendo meu coração arder. Ele deitou o corpo na calçada dura, colocando a cabeça em cima da minha coxa. Eu deveria tirá-lo dali, mas meu corpo havia paralizado outra vez. Ele estava ali por tanto tempo, e iria ficar muito mais, aquele era meu único meio de dar-lhe algum conforto antes do conflito.

ㅡ 'Tá. Então Jihoon vai mentir que não faz parte de gangues pra se infiltrar aqui dentro, não vejo outro jeito. Ou talvez um guarda possa ser compactuante da SVT... Mas tem que ficar disfarçado... Eu tenho uma intuição. O cara que abre as portas não costuma interagir com os presos. Não acha que ele tem medo de vocês? ㅡ Lembrei das perguntas que me fizeram no primeiro dia, ele me olhou com um sorriso ladino. ㅡ Bom, 'cê não precisa se sentir acuado. Ele é só um, e você tem quase três pavilhões inteiros. Sabe, eu escuto muita coisa enquanto saio limpando por aí. ㅡ Acabei passando as mãos pelos seus cabelos. Ao contrário do que eu imaginei, não eram ásperos ou sujos, era bem macio e frio, gostosíssimo de fazer carinho.

ㅡ Você é fofo... E esperto, parece até um estrategista. Se você não fosse um homem de princípios, daria um bom mafioso.

ㅡ Credo, você acha mesmo que eu tenho cara de ladrão? ㅡ Revirei meus olhos, ele concordou com um sorriso. ㅡ É, vai ver é por causa disso que estou aqui dentro.

ㅡ Aquele seu amigo... Ki--... Eu ainda acho que tem alguma coisa errada com ele. Ele deve estar te enganando. ㅡ Chang soltou a fumaça a espalhando no ar, dei de ombros.

ㅡ Pra falar a verdade, eu não tenho esperança. Não é algo que importe.

ㅡ Eu vou falar com eles. ㅡ Pareceu determinado. ㅡ Investigarei isso por você.

ㅡ Changkyun, você já tem um montão de coisas para resolver, por que se envolver... Não é problema seu. ㅡ Continuei o fazendo carinho e recebi uma risada soprada. Até alguns dias atrás, recusaria por não querer a cumplicidade de um bandido, mas agora recuso para não sobrecarregá-lo. Onde foi parar meu juízo crítico?

ㅡ Eu quero. Sabe? Desde que te conheci... Eu me sinto um pouco diferente. Talvez seja bem tarde pra buscar redenção, mas você... Me faz querer mudar. Me faz sonhar em ter uma vida diferente. Você estar aqui com certeza é um caralho de azar, mas eu preferia ter chegado aqui injustamente do que pelas merdas que eu fiz. É a mesma coisa de querer ter um romance com você. Eu vou em frente e tento ser uma boa pessoa, mesmo que eu não tenha a mínima chance de provar que posso. Você abre meus olhos para as mais impossíveis ilusões.

ㅡ Não é tarde pra mudar. Eles podem considerar que você está tentando ser um menino comportado e reduzir sua pena. Quem sabe até te poem no mesmo pavilhão que o meu.

ㅡ Então você quer dividir uma cela comigo? ㅡ Levantou uma sobrancelha provocante, revirei meus olhos. ㅡ Brincadeira. Você deve estar certo, mas perderei uma vida até eles perceberem minha nova áurea. ㅡ Virou o corpo de lado espalhando as cinzas do cigarro.

ㅡ Engraçado... As pessoas que você matou também perderam, tsc.

ㅡ Wow. Talvez ninguém goste de você porque você é muito honesto. ㅡ Afundou a bituca na grama me fazendo refletir naquilo.

ㅡ Você sequer sente remorso. Sequer pensou na dor das famílias, vítimas tinham sonhos. ㅡ Ele apoiou o corpo com os cotovelos e me encarou sem expressão. Ele realmente não tinha remorso.

ㅡ Também não sou um serial killer. Eu só matei alguns porque iriam me matar primeiro, não estimulo meus seguidores a fazerem o mesmo. Aliás... Só fiquei influente porque matei um policial. Não foi meu plano montar uma gangue como se fosse banda de garagem. Mas eu não podia ficar choramingando a cada pessoa que eu despachava, é o peso de ter essa vida.

ㅡ Desculpa perguntar, mas... Por que matou um policial, Chang? Você sabia e sabe que todo mundo tem uma escolha. Por que escolheu o caminho errado?

ㅡ Todo mundo tem uma escolha... ㅡ Ele sorriu sofrido olhando para meus pés e então deitou em meu colo novamente, após um suspiro profundo. ㅡ Eu já nasci errado, Joo. Minha mãe era usuária de drogas, sem passado. Ela foi abusada uma vez e então engravidou de mim. Mesmo sendo indesejado e concebido de forma cruel, ela cuidou de mim, fez de tudo para me criar, tentou se sair do vício, mas nunca saímos do buraco. Ela começou a trabalhar de doméstica na casa de um polícia, pra pelo menos ter o que comer. Mas cresci vendo ele a sabotar. A humilhava, zombava, explorava, ele simplesmente fazia o que queria. Ele me dizia "se você contar pra alguém, eu levo sua mamãe presa". Você sabe como é fácil encriminar alguém. ㅡ Vi seus olhos se fecharem. ㅡ Eu tinha 16 e ele abusou dela também. E dessa vez ela não resistiu. Eu corri, corri desesperado, sem rumo. Eu não queria ficar naquela casa mais. Eu não conseguia olhar na cara daquele filho da puta. Minha dor era tão aguda, porque eu perdi a única coisa que eu tinha. Ele nem a enterrou. A jogou em um terreno qualquer. Isso me deixou furioso. Possesso. Eu falei para os outros policiais, mas eram "seus amigos" e abafaram o caso. Ninguém acreditaria num garoto maltrapilho filho da usuária de drogas. Então voltei na casa dele, roubei sua arma e o matei com 5 tiros. Esfaqueei a esposa dele por saber e ignorar, e a filha dele porque tinha inveja dela.

RODEO | MONSTA XWhere stories live. Discover now