CAPÍTULO 3 - PERIGOS À ESPREITA

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A vida continua transcorrendo de maneira natural em nosso cotidiano. Luna é a novidade e já está entrosada com a família. Percebo o quanto ela é protetora comigo e deduzo que ela tem alguma missão especial para cumprir ao meu lado.

De tempos em tempos, faço caminhadas mais longas floresta adentro. Sempre quis explorar a ilha toda, que é imensa. Há picos muito altos e que necessitam de experiência para escalar. Hoje arrumei um pequeno farnel para me alimentar durante o dia. Avisei minha mãe da direção que iria tomar e de quanto tempo pretendia estar ausente. Os cuidados maternos são os mesmos em qualquer lugar do mundo e comigo não é diferente. Somente a companhia de Luna fez com que dona Miriel concordasse com a excursão demorada.

Saio logo que o sol nasce em direção ao mais alto pico da ilha, o Gelap, que significa sombrio na língua dos nativos. Pelo caminho, cruzo dois núcleos de habitantes locais. Tenho receio de encontrar-me com Maru e ele querer me acompanhar, mas sou informada que este saiu para caçar com os homens da aldeia há três dias. Essas caçadas costumam durar até uma semana. Deixo cumprimentos por onde passo e sigo em frente. Pelo caminho vou colhendo plantas e flores que ainda me são desconhecidas para levar para minha mãe. Passamos por rios e cachoeiras e percebi as transformações que ocorrem com a Luna de acordo com o ambiente em que ela se encontra. Ela nada como uma lontra, escala árvores como um macaco, uiva como um lobo. É pequena, mas robusta e musculosa, assemelhando-se, por vezes, a um filhote de urso ou, talvez, ao pouco conhecido Diabo-da-Tasmânia. Quase impossível classificá-la com tantas variantes. Na verdade, isso pouco importa. Sua lealdade e instinto protetor são suas características mais admiráveis.

Conforme caminho em direção ao meu destino, a floresta vai se tornando mais densa. Árvores imensas quase escondem a luz do sol e seus largos troncos bloqueiam o caminho, obrigando-me a desviar-me. Ouço as cores da mata como se fossem pontinhos cantando no ar, criando uma sinfonia harmoniosa. Apesar da pouca luminosidade, é possível observar o sol a pino e meu estômago dá sinal de vida. Sento-me em um tronco caído  e abro meu farnel para dividir meu alimento com a Luna. Enquanto comemos, sinto o vento mudar de direção e um cheiro diferente me faz ficar alerta. Luna também se coloca em posição de guarda. Tenho a nítida impressão de estar sendo observada, porém não identifico nada de anormal nas redondezas. Ao terminar meu lanche, retomo meu caminho com a sensação de estar sendo seguida. Decido sair da densa floresta e caminhar em direção a outra aldeia não muito distante. Gastei muito mais tempo do que imaginava e talvez tivesse que pernoitar na comunidade de nativos para retornar para casa amanhã.

Ouço uma voz, vinda de algum lugar não identificado, chamar meu nome. O som reverbera na mata e Luna sobe em uma das árvores para vigiar os arredores.

― Alva, filha de Miriel, não quero assustá-la. Há muito aguardo uma oportunidade para estar a sós com você. Temos muito o que conversar.

― Quem é você? Por que não posso vê-la?

― Você pode me ouvir e consegue me sentir, isso já basta. Tudo que necessito é lhe passar algumas informações.

― Como posso saber se você é confiável?

― Terá que usar seus instintos, minha menina. Eles são sua maior dádiva, um presente herdado de seus genitores astrais. Preste atenção a tudo que vou lhe contar, pois sua missão é grande e exigirá muita coragem.

― Genitores astrais? Quem são eles?

― O planeta Koryun está localizado em uma galáxia muito distante da Terra. Seus habitantes são seres bem evoluídos e receberam uma missão muito importante passada pelos representantes das dez maiores galáxias do universo. Este planeta precisa evoluir e voluntários de Koryun se propuseram a doar seus DNAs para que habitantes daqui fossem modificados geneticamente através de inseminações. Muitos testes foram feitos e milênios se passaram para que nossos cientistas chegassem a um resultado aceitável. Humanos foram abduzidos e neles foram implantados os DNAs modificados para que as gerações seguintes, descendentes desses seres transformados, nascessem com características físicas e intelectuais muito mais evoluídas. Acompanhamento de todos os humanos modificados vem sendo feito periodicamente e os relatórios apontam que seus descendentes trazem as qualificações necessárias para o aprimoramento da raça. Contudo, nem tudo está perfeitamente ajustado, uma vez que a vibração densa de alguns humanos, arraigados às sombras, com sede de poder e vingança, atrapalham o bom andamento da missão. Um de nossos mais valiosos comandantes se voluntariou para combater uma dessas forças malignas e foi abatido por ela. Durante anos o procuramos e, recentemente, ele foi localizado nesta ilha, porém está totalmente transformado. Você é a pessoa que pode ajudá-lo.

― Eu? Como assim? Não tenho armas e nem conhecimento suficiente para lutar contra essas forças do mal que derrubaram seu comandante.

― Alva, você tem mais poderes do que imagina. Seus pais terráqueos estão entre os que foram escolhidos para a modificação genética e essa é a principal razão de você ser tão diferente fisicamente da sua família. Seus dons, ainda pouco despertos, estão muito além daqueles conhecidos pelos humanos. Você tem os genes de nossos príncipes siderais, seres de altíssima capacidade intelectual e moralmente irrepreensíveis. Eles também se voluntariaram para doar seus sêmens e você é herdeira deles. Sua mãe, inconscientemente, mas com grande sabedoria, diz que você é filha de deuses e que seus pais foram honrados com a sua tutela.

― E o que você espera que eu faça? Como você se chama?

― Sou apenas uma serva nessa missão e assim você poderá se referir a mim: serva. Estarei a sua disposição para ajudá-la no resgate de nosso comandante, o Príncipe Kalesh. Um grande perigo estará à espreita e você terá que tomar muito cuidado. Sua atração pelo pico Gelap é fruto dessa sua intuição. Fomos informados que nosso comandante lá se encontra, porém em um estado irreconhecível. Somente alguém com um DNA semelhante ao dele poderá identificá-lo. Forças do mal usarão de todos os recursos para impedir essa sua aproximação. Eu estarei a guiá-la para minimizar os perigos, mas você terá que dar conta sozinha de muita coisa. Agora, vá! Siga seu caminho até a aldeia mais próxima. Amanhã, retorne para casa e converse com seus pais. Eles lhe darão todo o apoio e a ajudarão a planejar seus próximos passos. Nada tema! A força da Luz está com você!


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Parece que a aventura da Alva vai começar....

Deixem seus comentários e uma estrelinha. A autora agradece de coração!

ALVA - UMA DEUSA NA FLORESTA  (em revisão)Where stories live. Discover now