CAPÍTULO 11 - O CIENTISTA (fase 7)

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Sinto-me flutuando por entre nuvens que pontuam um céu infinitamente azul. A paz reina ao meu redor em um silêncio agradável. A sensação de felicidade toma conta do meu ser até que meus pés começam a ser aquecidos por um calor vindo de algum lugar não identificado. Começo a ouvir uma voz ao longe chamando meu nome.

― Alva, retorne menina. Você não pode ficar nessa dimensão para sempre. Há uma missão a ser cumprida. Alva, volte agora!

Meu corpo despenca lentamente daquele lugar para aterrizar em uma caverna iluminada por uma fogueira. Percebo-me deitada em um tapete de pelos macios, coberta com mantas rústicas de lã. Lambidas na minha face me fazem olhar para o lado e vejo os grandes olhos de Luna me observando.

― Onde estamos, minha amiga?

Uma voz, vinda de algum canto da caverna, faz meu corpo estremecer.

― Você está a salvo, moça. O bichinho foi muito ágil no seu salvamento. Quando uma pessoa fica mais de meia hora soterrada na neve, é necessário que ela tenha a possibilidade de respirar para que não venha a falecer. Ele cavou a neve até encontrar seu rosto, desobstruindo suas narinas para que o ar entrasse em seus pulmões. Depois, uivou alto e ininterruptamente, enviando uma mensagem de socorro. Como eu estava abrigado nesta caverna aguardando essa misteriosa nevasca passar, consegui ouvir o pedido de ajuda. Muita sorte sua, minha jovem, por eu estar a cerca de dez minutos de distância do local do acidente.

― Quem é você?

A pessoa entra no meu campo de visão e percebo que é um homem de aproximadamente trinta anos, alto, magro, com cabelos castanhos e usa óculos. Está com roupas apropriadas para alpinismo.

― Ah! Perdoe-me por não ter me apresentado. Meu nome é Jonathan Lufer, sou cientista e alpinista profissional.

― Como sabe meu nome?

― Eu ainda não sei, já que estamos nos vendo pela primeira vez.

― Mas eu ouvi alguém me chamar, pedindo para que eu voltasse.

― Deve ter sido seu inconsciente. Como você se chama?

― Alva.

― Bonito nome. Combina com você. E o que faz aqui nessa montanha,  acompanhada somente do seu bichinho de estimação? Sua família mora pela região?

Alva não sabia se poderia confiar naquele homem, mesmo tendo sido ele que a resgatou da avalanche.

― Um primo meu vive aqui na montanha e eu vim encontrá-lo.

― Nunca soube da existência de moradores neste lugar. Já estive aqui diversas vezes e a única criatura que vislumbrei foi uma pantera. Acredito que seja alguma mutação, pois o animal anda ereto e assusta-se com minha presença. Na verdade, eu que deveria me sentir assustado com ele. Tenho dedicado os últimos cinco anos da minha vida a tentar algum contato com esse ser, pois gostaria muito de estudá-lo. Mas ainda não tive sucesso nas minhas investigações. Por falar nisso, não consegui classificar esse seu pequeno companheiro. Percebi que ele possui características de vários animais e parece se transformar conforme a situação que se apresente.

― É uma fêmea. Batizei-a de Luna quando apareceu, à noite, na porta da casa onde moro, bem no momento que a lua surgiu no céu. Também não sei a que raça pertence, mas ela é muito inteligente e fiel.

― Eu percebi. Você quer alguma coisa para comer ou beber? Tenho alguns mantimentos e água da neve que derreteu.

― Aceito um pouco de água. Não quero incomodá-lo. Nem sei como agradecê-lo por ter me salvado.

― Não há nada a agradecer. Tome sua água e descanse. A nevasca ainda está muito forte e teremos que nos manter aqui para ficarmos aquecidos. Estou fazendo anotações sobre esse fenômeno atípico para essa região. Como não há sinal de wi-fi, não tenho como pesquisar se já aconteceu isso alguma vez no passado.

― Desde pequena nunca ouvi falar sobre neve. Se houvesse ocorrido antes, os nativos comentariam.

― Você nasceu aqui na ilha. Interessante! Em que sua família trabalha?

― Agricultura de subsistência. Meus pais sempre foram apaixonados pela natureza e quiseram se afastar do tumulto das cidades. Temos um estilo de vida muito semelhante aos dos nativos da ilha.

― E você estudou alguma coisa? Pretende morar aqui para sempre?

― Meu pai ensinou todos os filhos a ler e a escrever e temos alguns livros na nossa biblioteca que nos ajudou a conhecer outras culturas. Sinto-me bem aqui, a ilha é meu lar.

― Você disse irmãos? Quantos são?

― Tenho cinco irmãos mais velhos. Sou a caçula e única mulher. Agora que já sabe um pouco sobre mim, conte-me mais detalhes sobre a pantera que caminha como um humano.

― Por que tem interesse por esse assunto?

―Gosto de ouvir histórias. Os nativos têm costumes de contar algumas que são baseadas em lendas da ilha e que envolvem seus antepassados. Ouvi algo sobre um jovem que foi enfeitiçado e  transformou-se em bicho. Nunca mais tiveram notícias dele, porém, alguns habitantes daqui supõe que ele vive nesta montanha.

― Não acredito em misticismos. Para mim, a verdade é aquela que pode ser comprovada pela ciência.

― Entendo. E como você explicaria um caso como o desse ser misterioso?

― A natureza tem formas peculiares de se adaptar. Mutações não são mistérios insoldáveis. No planeta, tudo o que é vivo sofre alterações com o passar do tempo. Até mesmo os humanos vêm se modificando por milhares de anos desde o homem primitivo. Para saber o que aconteceu, é preciso investigar, pesquisar e estudar cada caso. Essa é a razão do meu interesse no homem-pantera. Não terei como realizar algum tipo de estudo sem encontrá-lo e observá-lo. Talvez tenha que enjaulá-lo e levá-lo para a civilização para pesquisas mais apuradas.

― Você gostaria de ser caçado e retirado de seu habitat natural para servir como cobaia de estudos científicos?

― Se não existir outra forma de estudar essas espécies, temos que considerar que os fins justificam os meios. Se não fossem as "cobaias" como você diz, a ciência não teria avançado tanto.

― Espero que não se arrependa mais tarde pelo mal que possa ter causado a algum ser em nome da ciência. Acho que vou tentar dormir um pouco para me recuperar. Ainda sinto um certo atordoamento na minha cabeça.

― Faça isso. Vou colocar um pouco mais dos galhos que encontrei aqui na caverna na fogueira para mantê-la acessa.

Abracei a Luna de encontro ao meu corpo e joguei a manta por cima de nós, cobrindo nossas cabeças. Precisava traçar um plano para escapar daquele local. Aquele cientista não poderia encontrar o Príncipe Kalesh antes de nós e nem saber das habilidades diferenciadas que possuo. Após ouvir o relato do meu salvador, estou certa que o tal homem-pantera é quem procuramos.


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Olá, leitores aventureiros.

O que vocês acharam desse encontro com o cientista?  Será que ele é confiável?

Qual será o plano que a Alva vai arquitetar para encontrar o Princípe Kadesh, o tal homem-pantera?

ALVA - UMA DEUSA NA FLORESTA  (em revisão)Where stories live. Discover now